Consultório de Preparação
por Iran Cartaxo, Fabrício
Samahá
e Alexandre Makoto
Dodge Charger passa de 220
km/h com compressor
Possuo um Dodge Charger RT e gostaria
de saber como ficaria o desempenho com a instalação de um
turbocompressor, bem como o custo aproximado da instalação.
Mauro Gontarski
anadig@cpovo.net
Gravataí, RS
Possuo um Dodge Charger RT 1978 e gostaria de saber qual a
potência original. Quais as modificações que devo fazer para
que ande mais? Queria preparações leves e pesadas, turbinadas e
aspiradas.
Gustavo Wally Guterres
felihil@pro.via-rs.com.br
Porto Alegre, RS
Embora reconhecido em sua época como um carro de alto
desempenho, o Charger R/T é -- como todo V8 de origem
norte-americana -- bastante receptivo a preparações. Contribuem
para isso a baixa potência específica original, revelando pouca
utilização do potencial de desenvolvimento do motor, e o torque
abundante em baixas e médias rotações, que permite a
aplicação de veneno pesado sem sacrificar a dirigibilidade no
trânsito.
As curvas de potência (as mais altas) e de torque
estimadas para o Dodge Charger R/T original (em azul); com
preparação aspirada (em verde); e com compressor centrífugo a
0,8 kg/cm2 e intercooler (em
vermelho)
Clique aqui para ver as curvas de potência e torque ampliadas
Adotar turbocompressor num motor como este não é, contudo, a
melhor opção de preparação. Para ter uma resposta rápida do
equipamento, sem grande turbo-lag (retardo na entrada do
turbo que compromete as retomadas), seria necessário utilizar
duas turbinas bipulsativas (cliquem aqui
para saber mais). Pela dificuldade em encontrar o equipamento
no mercado, mesmo recorrendo à importação, é provável que o
preparador tivesse de desenvolver por conta própria o kit.
Por isso tudo, recomendamos fortemente que desistam do turbo e
escolham entre dois superalimentadores muito comuns entre os
venenos norte-americanos: compressor centrífugo de acionamento
mecânico e blower. O primeiro tem a vantagem da montagem
compacta, dispensando o corte no capô exigido pelo blower, que
-- apesar da aparência agressiva -- chama demais a atenção
para a preparação. O blower tem também rendimento inferior ao
do compressor centrífugo, encontrado com certa facilidade em
oficinas. Saibam mais sobre cada recurso no Consultório Técnico.
A principal vantagem do compressor sobre o turbo, a ausência do turbo-lag,
explica-se por sua atuação desde os regimes mais baixos de
giros. Ainda conta com a vantagem de poder fazer uso de uma polia
com acionamento eletromagnético, deixando o acionamento do
compressor à vontade do usuário. O carburador usado pode ser o
original, mas resultados mais expressivos podem ser obtidos com
um quadrijet ou mesmo um Weber 40. O coletor de
escapamento dimensionado pode ser empregado com bons resultados,
pois de nada adianta melhorar a admissão do motor se a exaustão
dos gases continua a mesma -- isto limita o rendimento do motor e
aumenta o consumo. O uso do intercooler é fundamental para
evitar a detonação, permitindo uma regulagem mais econômica e
um desempenho superior com a mesma pressão de trabalho.
Outra possibilidade para o Dodge é o veneno aspirado. A taxa de
compressão do Charger R/T já é relativamente alta, 8,4:1, mas
pode ser aumentada ainda mais se for utilizada apenas gasolina
Premium, ou a comum com aditivos de octanagem. Com esses
artifícios pode-se chegar a 9,4:1 sem problemas, pois o desenho
das câmaras de combustão não é tão antiquado quanto, por
exemplo, o do V8 de Landau e Maverick.
A potência original do Charger R/T era de 215 cv a 4.400 rpm, e
o torque máximo, de 42,9 mkgf a 2.400 rpm. Entretanto, esses
valores eram obtidos de forma bruta, sem os agregados do motor
que lhe consomem potência (clique aqui
para saber mais). Pela medição líquida, que considera os
equipamentos agregados, a potência cai para 145 cv e o torque
para 28,9 mkgf nos mesmos regimes -- inferiores, portanto, a
motores mais recentes como os de 3 e 4,1 litros do Omega CD. Não
procede, assim, a orgulhosa afirmação dos proprietários dos
antigos V8 de que a potência de seus carros até hoje não foi
superada pelos modelos nacionais.
Simulamos para o Charger R/T duas preparações:
- aspirada, com taxa de compressão maior em 1
ponto, comando de 40° a mais de duração e 1,5 mm a mais de
levantamento de válvulas, um carburador quadrijet de
650 CFM (cubic feet per minute
ou pés cúbicos por minuto) e coletor de escapamento
dimensionado;
- compressor centrífugo de acionamento mecânico
com 0,8 kg/cm² de pressão e intercooler.
Confiram o desempenho estimado:
Original | Preparação aspirada | Compressor a 0,8 kg/cm2 |
|
Potência máxima | 145 cv | 248 cv | 274 cv |
Rotação de potência máxima | 4400 rpm | 5750 rpm | 4400 rpm |
Velocidade máxima | 185 km/h | 221 km/h | 229 km/h |
Rotação à velocidade máxima | 4600 rpm | 5500 rpm | 5690 rpm |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,1 s | 7,4 s | 6,9 s |
Torque máximo | 28,9 mkgf | 26,9 mkgf | 54,7 mkgf |
Rotação de torque máximo | 2400 rpm | 3150 rpm | 2400 rpm |
Alteração recomendada na relação de transmissão |
- | 4,4 % mais curto |
29,3 % mais longo |
Aumento recomendado na injeção de combustível |
- | - | 66,7 % |
Aceleração longitudinal no interior do veículo |
0,56 g | 0,84 g | 0,90 g |
A margem de erro é de 5% (para cima ou para baixo), considerando-se instalação bem-feita. Calculamos a aceleração de 0 a 100 km/h e a aceleração longitudinal máxima (sentida no interior do automóvel) a partir da eficiência de transmissão de potência ao solo do carro original. Para atingir os resultados estimados pode ser necessária a recalibragem da suspensão, reforços no monobloco e/ou o emprego de pneus mais largos. A velocidade máxima estimada só será atingida com o ajuste recomendado da relação final de transmissão. Os resultados de velocidade são para velocidade real, sem considerar eventual erro do velocímetro. A rotação à velocidade máxima é calculada considerando a relação atual de transmissão. |
Algoritmo de
simulação de preparação de motores desenvolvido pelo
consultor Iran Cartaxo, de Brasília, DF. |
Como vêem, o veterano R/T pode ganhar desempenho digno de um bom
importado com qualquer das receitas. A regulagem da mistura que
alimenta o motor é outro item fundamental a ser observado,
podendo ser feita com a ajuda de um aparelho que mede o teor de
oxigênio nos gases de escapamento através de sonda lambda. A
regulagem correta da mistura contribui para um consumo e
desempenho compatíveis, além da emissão de poluentes dentro de
limites adequados.
Nem seria preciso, mas nunca é demais reforçar a necessidade de
uma extensa revisão nos componentes mecânicos e de segurança
do automóvel, além da adequação de suspensão, freios, rodas
e pneus ao novo padrão de potência. Agora é escolher seu
veneno e partir para arrancadas de enrugar o asfalto atrás das
rodas!
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