Consultório de Preparação
por Iran Cartaxo
V6 e turbo, ou como fazer
do S10 um "canhão"
Gostaria de saber como ficaria um S10
4.3 V6 com turbo. Já ouvi falar que devem ser dois devido ao
motor em "V". É verdade?
Rafael Falcão
champ@tba.com.br
Brasília, DF
A forma do motor não influi no número de turbinas, Rafael, e
sim o número de cilindros. Em motores de quatro ou mais
cilindros as válvulas de escape de dois cilindros chegam a estar
abertas ao mesmo tempo. Como a turbina exerce uma força
contrária ao fluxo dos gases de escape, estes podem sair de um
cilindro e entrar pela válvula de escape de outro, seguindo um
fluxo inverso e atrapalhando a admissão.
As curvas de potência (as mais altas) e de torque estimadas para o S10 V6 original (em azul), com turbo e 0,4 kg/cm2 de pressão (em verde) e com 0,8 kg/cm2 de pressão (em vermelho)
Clique aqui para ver as curvas de potência e torque ampliadas
O ideal é utilizar um turbocompressor para cada três cilindros,
mas essa regra é flexível, pois pode-se evitar o refluxo dos
gases de escape trabalhando-se na geometria de coletor de escape
ou utilizando-se uma turbina bipulsativa, que funciona como se
fossem duas turbinas em uma, com a entrada de gases dividida em
duas. Não se deve, porém, utilizar uma turbina para menos de
três cilindros, pois o fluxo de gás seria muito pulsado e
prejudicaria seu funcionamento.
O que se faz para obter o funcionamento ideal é:
- 3 Cilindros - 1 turbo comum;
- 4 Cilindros - 1 turbo bipulsativo, uma entrada
para cada dois cilindros;
- 5 Cilindros - 1 turbo comum e coletor com
geometria que evite o refluxo dos gases;
- 6 Cilindros - 2 turbos comuns;
- 8 Cilindros - 2 turbos bipulsativos;
- 10 Cilindros - 2 turbos comuns e coletores com
geometria que evite o refluxo dos gases; e
- 12 Cilindros - 4 turbos comuns.
A disposição dos cilindros em V torna mais benéfica a adoção de duas turbinas que a adaptação de apenas uma, como se fazia nos Opala
Para baratear os kits os fabricantes nacionais têm optado por
reduzir o número de turbinas. Para o Opala de 6 cilindros, por
exemplo, só foram fabricados kits de uma turbina e coletor que
evitava o refluxo dos gases. No caso do motor que equipa o S10 e
o Blazer é diferente: a geometria de cilindros em V torna mais
fácil a colocação de duas turbinas, uma de cada lado, com
coletores próprios, do que projetar um só coletor que unisse as
duas bancadas a uma só turbina -- o que seria muito difícil,
além de o resultado poder nem caber sob o capô.
Simulamos o comportamento do motor com dois turbos e pressões de
0,4 kg/cm², com taxa de compressão original, e de 0,8 kg/cm²,
com taxa reduzida para 8,5:1, ambos com um intercooler de grandes
dimensões para ambas as turbinas. A redução da taxa fica a
critério do preparador, que deve levar em conta a altitude
(portanto a pressão atmosférica) dos locais de mais provável
utilização do carro. Um preparador bem experiente pode até
mesmo manter o valor original sem que isso exponha o motor à
detonação ("batida de pino").
O desempenho obtido foi o seguinte:
S10 original | 0,4 kg/cm2 | 0,8 kg/cm2 | |
Potência máxima | 180 cv | 259 cv | 333 cv |
Rotação de potência máxima | 4200 rpm | 4200 rpm | 4150 rpm |
Velocidade máxima | 176 km/h | 199 km/h | 216 km/h |
Rotação à velocidade máxima | 3700 rpm | 4200 rpm | 4550 rpm |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,3 s | 7,8 s | 6,1 s |
Torque máximo | 34,7 mkgf | 50,0 mkgf | 64,2 mkgf |
Rotação de torque máximo | 2600 rpm | 2600 rpm | 2600 rpm |
Alongamento recomendado narelação de transmissão | - | 0,0 % | 9,6 % |
Aumento recomendado na injeção de combustível | - | 33,3 % | 66,7 % |
Aceleração longitudinal no interior do veículo | 0,55 g | 0,79 g | 1,02 g |
A margem de erro é de 5% (para cima ou para baixo), considerando-se instalação bem-feita. Calculamos a aceleração de 0 a 100 km/h e a aceleração longitudinal máxima (sentida no interior do automóvel) a partir da eficiência de transmissão de potência ao solo do carro original. Para atingir os resultados estimados pode ser necessária a recalibragem da suspensão, reforços no monobloco e/ou o emprego de pneus mais largos. A velocidade máxima estimada só será atingida com o ajuste recomendado da relação final de transmissão. Os resultados de velocidade são para velocidade real, sem considerar eventual erro do velocímetro. A rotação à velocidade máxima é calculada considerando a relação atual de transmissão. |
Algoritmo de
simulação de preparação de motores desenvolvido pelo
consultor Iran Cartaxo, de Brasília, DF. |
Evidente que o maior problema do S10 preparado será a
aceleração. O peso elevado, o tipo de suspensão e os pneus
exigirão que a transmissão de potência ao solo seja bastante
otimizada para que se atinjam os valores de aceleração obtidos
na simulação. Com o conjunto original pode-se esperar por
valores até 20% piores. A velocidade final será atingida sem
necessidades de mudanças. O S10 original possui um limitador que
interrompe a injeção de combustível a 180 km/h, mas é fácil
eliminar essa função quando do remapeamento do chip.
Apenas a título de curiosidade, com pressão de 1 kg/cm² e
injetor de óxido nitroso -- preparação equivalente a um turbo
com 2 kg/cm²! -- obtivemos 590 cv, o que produziria no S10 uma
velocidade máxima de 262 km/h e a aceleração de um verdadeiro dragster.
Numa preparação como esta, mais que em qualquer outra que
fizemos com automóveis, valem algumas recomendações. Pickups
são veículos com centro de gravidade elevado e suspensão
desenvolvida para transporte pesado, que os leva a apresentar
estabilidade precária quando descarregados. Sem falar no aspecto
legal, atingir 200 km/h ou mais com um utilitário contraria
qualquer senso de segurança. Simulamos a preparação a pedido
do leitor, mas francamente desaconselhamos a instalação de
turbocompressor num pickup de desempenho já elevado como o S10
V6.
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