Consultório de Preparação


por Iran Cartaxo


Mille: troca de motor, suspensão rebaixada
e gasolina Premium


Tenho um Uno Mille Eletronic 95 com 50 mil km rodados. O que posso fazer para que ele fique mais esperto sem ter que gastar muito e sem risco de quebra do motor? A relação custo/benefício vale a pena? O motor de um Uno Turbo pode ser colocado no lugar do original sem muitas modificações?

O uso de gasolina aditivada melhora o desempenho do Uno? Quanto? Mexer na suspensão melhora ou piora a estabilidade do carro? No caso do Uno Mille, quanto deveria abaixar?


Joel F. D. Junior
jfdias@cwb.matrix.com.br
Curitiba, PR


O motor Fiat de 1 litro tornou-se com o tempo um motor difícil de se obter mais potência sem se recorrer a preparações mais pesadas ou sobrealimentação, pois sai de fábrica com potência específica já elevada. Fornece perto de 60 cv/l, marca considerável para qualquer motor de duas válvulas por cilindro. Muitos têm procurado obter mais potência desse motor, mas sua "preparação" original traz como efeito colateral a redução do torque, o que pode tornar o carro bastante fraco no uso urbano. Por isso a melhor opção de preparação para os motores de 1.000 cm³ é a sobrealimentação, de preferência com turbocompressor, que não necessita de parte da (pouca) potência do motor para funcionar, como ocorre com o compressor, e não requer a (cara) recarga do sistema de óxido nitroso -- além de o turbo não submeter o motor ao desgaste que a busca entrada do "nitro" produz.

As curvas de potência (as mais altas) e de torque estimadas para o Uno Mille original (em azul), com preparação aspirada (em vermelho), com turbo a 0,5 kg/cm2 (em marrom), com turbo a 0,75 kg/cm2 (em verde) e com o motor original do Uno Turbo (em rosa)

Clique aqui para ver as curvas de potência e torque ampliadas


Pode-se também optar, como alternativa de menor custo, por uma recalibragem do carburador e do sistema de ignição, que quando bem-feita até melhora o torque. Este ganho, por sua vez, abre uma "brecha" para a colocação de um comando de válvulas mais "bravo" e até de um coletor de escape dimensionado, que reduziriam o torque retornando-o ao valor original. Para recalibrar o sistema de ignição do Mille Electronic -- o mesmo dos motores de 1,5 litro com injeção monoponto, embora seu carro possua um carburador comum sem qualquer auxílio eletrônico -- é necessário recorrer a uma caixa de gerenciamento eletrônico de ignição, que permite alterar a curva de ignição de um sistema como o seu, que não dispõe de distribuidor.

Em ambos os casos, turbo e aspirado, pode-se ter um compromisso com a durabilidade do motor. Para tanto é recomendável usar o motor com consciência, sem abusos, e (no caso do turbo) optar por uma pressão de superalimentação baixa. Na preparação aspirada, o veneno não deve exigir altas rotações para fornecer potência, sendo preferíveis comandos mais "mansos", válvulas e carburadores menores.

O motor do Uno Turbo pode ser adaptado ao Mille sem muitas dificuldades, mas o resultado é desastroso financeiramente. Um "transplante" bem-feito exigiria, além da compra do motor importado, a aquisição de todo o sistema eletrônico (injeção e ignição), o que sai muito caro. Teria-se de fazer também um completo reforço na estrutura e suspensão do Mille para manter um padrão de segurança aceitável. Seria melhor instalar um kit turbo mais completo ou, quem sabe, trocar seu Uno por um Turbo i.e. de fábrica.

Simulamos as seguintes preparações para seu carro:

- Aspirada com recalibragem do sistema de ignição e do carburador, comando de 20o a mais de duração e 1,2 mm a mais de levantamento e coletor de escape dimensionado. Custo aproximado de R$ 600.

- Turbo
com 0,5 kg/cm2 de pressão sem intercooler. Custo aproximado de R$ 1.000.

- Turbo com 0,75 kg/cm2 de pressão com intercooler e válvula de prioridade, mesma pressão usada pelo Uno Turbo. Custo aproximado de R$ 1.600.

- Troca do motor pelo do Uno Turbo.

Este é o desempenho estimado:

  preparação
aspirada
Turbo a
0,5 kg/cm
2
Turbo a
0,75 kg/cm
2
Motor do
Uno Turbo
Potência máxima 70 cv 84 cv 103 cv 118 cv
Rotação de potência máxima 6700 rpm 6000 rpm 6000 rpm 6000 rpm
Velocidade máxima 162 km/h 172 km/h 184 km/h 193 km/h
Rotação à velocidade máxima 6500 rpm 6900 rpm 7380 rpm 7720 rpm
Aceleração de 0 a 100 km/h 14,2 s 11,9 s 9,7 s 8,5 s
Torque máximo 8,1 mkgf 12,3 mkgf 15,1 mkgf 17,0 mkgf
Rotação de torque máximo 3350 rpm 3000 rpm 3000 rpm 3500 rpm
Alteração recomendada na relação de transmissão 3,3 %
mais curto
14,9 %
mais longo
22,9 %
mais longo
28,6 %
mais longo
Aumento recomendado na injeção de combustível - 41,6 % 62,5 % -
Aceleração longitudinal no interior do veículo 0,44 g 0,52 g 0,64 g 0,73 g
A margem de erro é de 5% (para cima ou para baixo), considerando-se instalação bem-feita. Calculamos a aceleração de 0 a 100 km/h e a aceleração longitudinal máxima (sentida no interior do automóvel) a partir da eficiência de transmissão de potência ao solo do carro original. Para atingir os resultados estimados pode ser necessária a recalibragem da suspensão, reforços no monobloco e/ou o emprego de pneus mais largos. A velocidade máxima estimada só será atingida com o ajuste recomendado da relação final de transmissão. Os resultados de velocidade são para velocidade real, sem considerar eventual erro do velocímetro. A rotação à velocidade máxima é calculada considerando a relação atual de transmissão.
Algoritmo de simulação de preparação de motores desenvolvido pelo consultor
Iran Cartaxo, de Brasília, DF.


O desempenho do Mille com motor do Uno Turbo provavelmente seria melhor que o do carro original em acelerações, pois é mais leve que a antiga versão topo-de-linha, mas para tanto é necessário reajustar a suspensão e substituir rodas e pneus para adequá-los à nova carga e potência. A propósito, o uso de pneus 165/70 R 13 em vez dos 145 R 13 originais é imperativo para qualquer das receitas aqui sugeridas.

A relação custo-benefício depende muito do gosto e das ambições do usuário. Um reajuste bem-feito associado a um veneno leve custa em torno de R$ 500. O preço da caixa de gerenciamento eletrônico de ignição varia muito, algo entre R$ 100 e R$ 300. Deve-se, porém, evitar reajustar somente o carburador: sem a redefinição da curva de ignição, o resultado pode ser até pior que o do motor original.

Há kits turbo para carros 1.000, já instalados e com garantia, por R$ 1.000, mas sem válvula de prioridade ou intercooler -- o que inviabiliza o uso de altas pressões sem redução da taxa de compressão. Para pressões acima de 0,5 kg/cm2 deve-se, por segurança, instalar um intercooler ou reduzir a taxa, o que pode elevar o custo para R$ 1.600 ou mais.

O uso de gasolina aditivada não influi no desempenho do carro: ela só limpa o sistema de alimentação e mantém, assim, os padrões originais de desempenho por mais tempo. Claro que, se seu carro estiver com o sistema de alimentação sujo, você poderá verificar um ganho no desempenho após utilizar alguns tanques da aditivada. Se, por outro lado, você se refere à gasolina Premium, uma boa forma de saber se sua maior octanagem seria benéfica é sentir, com o combustível atual, se há uma rápida detonação ("batida de pino", ruído semelhante a bolas de gude dentro de um copo) em situações críticas, como retomadas com aceleração total em baixa rotação. O sistema de ignição do Mille Electronic atrasa o ponto de ignição quando a detonação se verifica, mas um motorista atento pode ouvir o ruído antes de sua ação. Se não é o caso de seu Mille, desista. A Premium só lhe aumentará a despesa com combustível, sem vantagem no desempenho.

Para se mexer na suspensão sem piorar o comportamento do carro em rua deve-se fazer um reajuste completo, como o feito pela fábrica. Esse trabalho envolve carga das molas e amortecedores, material das buchas, regulagem de ângulos das rodas, etc. O simples rebaixamento da suspensão traz poucos benefícios e grandes desvantagens em conforto, desempenho e durabilidade (clique aqui para saber mais).



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