Salvando o Estima-se
que haja no Brasil 10 mil praticantes do |
Entidade brasiliense sem fins lucrativos e mantida por contribuições particulares, a Fundação Memória do Transporte atua na preservação dos meios de transporte, em especial da tecnologia nacional. A parte rodoviária, assim como a história do automóvel são o caminho mais forte. Através de um convênio com o Ministério dos Transportes, busca a implantação e inauguração de um Centro Cultural, com ênfase a um Museu e um centro de documentação. Embora sem operação formal, hoje dependente de acordos entre os ministérios dos Transportes e das Comunicações, a Fundação presta serviços de consultoria, informações e orientação legal às matérias que dizem respeito aos automóveis antigos. Utiliza para isto a maior biblioteca da especialidade, e um amplo diretório de serviços abrangendo informações de museus, referências, fontes de informações, peças e serviços, além de clubes, ferros-velhos e especialistas em todo o mundo sobre todas as marcas de veículos. A Fundação, que tem o autor como curador, se esforça na formação de um acervo de veículos nacionais, uma tentativa preocupante e estafante, dada a falta de meios -- embora tenha motivos de satisfação, como a recente doação, pela Ford Brasil, do último Landau de sua frota a servir a presidentes da República. O pequeno espaço do Museu, que à espera das definições administrativas entre os dois ministérios, é aberto apenas para visitas agendadas, dispõe de acervo bem representativo da evolução do automóvel no Brasil: Renault Dauphine '63; Interlagos conversível '65; Brasinca GT 4200S '65, Itamaraty Limousine '67 -- estes dois rotulados como Clássicos Nacionais -- além de um DKW Malzoni '66 e um Ford Galaxie '67, considerados como Veículos de Interesse Especial; Aero Willys '62, um raro FNM TIMB 2.000 '68, o único exemplar remanescente do Simca Jangada '67. A Fundação também detém em seu acervo um Ford Modelo T, eleito O Carro do Século (saiba mais). Há dois veículos mais recentes: um Ford Ka em versão Stewart, construído especialmente para Jackie Stewart, ex-piloto e chefe de equipe de Fórmula 1, e o último Ford Landau que a empresa cedeu ao transporte de presidentes da República. No caso, esta unidade serviu ao então presidente José Sarney. Em processo de restauração, o Willys Gávea, primeiro monoposto brasileiro, construído em 1965 para as corridas de Fórmula Jr., e à época conduzido por Wilson Fittipaldi. A Fundação é uma incentivação ao antigomobilismo, e por isto presta orientações sobre o assunto; indica clubes; fontes de referências, peças, serviços e tem o que se acredita a maior biblioteca do gênero no país. |
O que é o antigomobilismo Se o leitor for buscar no dicionário do Aurélio não encontrará esta palavra. Simpática, autodescritiva, é um neologismo que se traduz com amplitude e liberdade como a prática da restauração de veículos antigos. Mas como o sufixo indica mobilidade, basta a soma de antigo com o cinético apêndice para que a expressão surja, bastante clara. É por si só bastante explicativa, tanto que consta de documentos oficiais e em breve terá a chancela do novo dicionário Houaiss. O termo descreve uma atividade crescente que é a preocupação com a salvação dos veículos e maquinários antigos, independentemente de sua configuração. A prática do antigomobilismo está nitidamente associada à atitude cultural de preservar a história. Seus adeptos -- e o antigomobilismo é uma verdadeira seita -- vêm os veículos antigos não como objeto único, mas como um dos integrantes de um cenário de um momento social, econômico, tecnológico. São em número crescente, agindo sozinhos, em clubes ou associações, calculando-se hoje existir cerca de 10 mil pessoas envolvidas com esta simpática e cultural atividade. Há quem imagine que o antigomobilismo se pratica apenas com automóveis. Ledo engano. Na área de veículos há várias gradações e subdivisões. Há quem só goste de determinada marca ou tipo de veículos, como as limusines ou os esportivos. E haja diversificação. Existem colecionadores de picapes, de jipes e até de caminhões. E os que se dedicam aos veículos militares e destes o arquiteto Hamilton Carramaschi, de Brasília, é realce com seus canhões e tanques. Há os que por limitações de espaço se direcionam pelo caminho da automobília, os artigos que gravitam em torno do tema automóvel: colecionam fotos, ou chaveiros, ou material publicitário, ou manuais de proprietário. E há ainda os que fazem uma vertente paralela, antigomobilista pela metade, ao somar a carroceria de um veículo antigo com um trem mecânico moderno e fazem um produto ao qual chamam hot rod. Dizem ser um hobby elitista. Não é. A imagem do sujeito com ar blasée, com boné inglês, cachimbo à boca, olhar superior, cheio de si mesmo e jeito de excêntrico ao lado de um Rolls Royce do início do século e apto a gastar uma fortuna para comprar uns parafusos enferrujados é forjada. Cada um gosta de um tipo de automóvel e tem o que quer, o que lhe diz simpatia ou o que pode. E com isto gasta dentro de seu orçamento, exatamente como em qualquer outro passatempo de recreio espiritual -- o que tem ou o que pode. Claro que há algumas figurinhas carimbadas num negócio destes, como as há em qualquer tipo de atividade humana. Mas são caracterizadas, individualizadas e inofensivas -- bastam-se e ficam por aí mesmo. É o pessoal que não entendeu o espírito da coisa, que usa o veículo antigo para alçar um degrau de falso status. Os outros, esmagadora maioria, são a turma da preocupação cultural. Os que entendem que pelo fato de um veículo antigo estar restaurado e apto a andar confiavelmente, ostentando todos os brilhos quando do dia de sua fabricação, constitui-se num retrato vivo da história de um momento no país e no mundo e não apenas em mais uma agregação bem refeita de latas e parafusos. É o bolo positivo: as pessoas que se empenham para promover a idéia. Ao contrário das figurinhas do falso status que usam os antigos para se promover. Continua |
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