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Carros do Passado

A Ferrari e seu campo
gravitaciona
l - IV

Fundador da Pegaso, o espanhol Wifredo Ricart foi
o homem mais odiado pelo comendador Enzo

Texto: Paulus Hanser de Freitas - Fotos: divulgação

No início da década de 50, uma fábrica de caminhões estatal espanhola, a ENASA (Empresa Nacional de Autocamiones S.A.), lançava o mais avançado carro-esporte já criado ali até então, o Pegaso Z102. Como um fabricante de caminhões de um país atrasado tecnologicamente e arrasado pela Guerra Civil conseguira tal feito?

A história do Pegaso Z102, que contaremos adiante, é relativamente conhecida. Mas pouco contado é o fato de que seu criador foi instrumental no nascimento da empresa que viria a ser sua maior concorrente, ocupando hoje no imaginário popular a posição que a Pegaso pretendia para si: a Ferrari.

A ligação entre as duas marcas começa na Itália do ano de 1934, no subúrbio Milanês de Portello, casa da famosa Alfa Romeo. Enzo Ferrari, naquela época, comandava sua escuderia como equipe oficial de competições da Alfa. Em Portello, os carros eram projetados sob a batuta do lendário Vittorio Jano.

Recente exposição em Barcelona mostrou uma bela coleção de automóveis Pegaso. Este Berlineta Barcelona era considerado o carro mais rápido do mundo em 1952

Naquele ano, duas coisas importantes na vida de Ferrari aconteceram. Primeiro, a Alfa se tornava estatal, debaixo do regime fascista de Benito Mussolini, e com isso um membro do partido era apontado para dirigir a empresa. Esse novo presidente era Ugo Gobbatto, jovem engenheiro bem educado na famosa Politécnica de Milão. Mas o estilo metódico de Gobbatto ia em direção contrária ao método "tentativa-erro-aprendizado" praticado por Jano, ao qual Ferrari estava acostumado. Ao contrário de Gobbatto, nenhum dos dois tinha educação formal.

O outro problema que Enzo encontraria vinha mais do norte. A Mercedes-Benz e a recém-formada Auto Union estreavam seus carros de Grand Prix, equivalente da época à Fórmula 1 de hoje. Com a força técnica de pessoas como o dr. Ferdinand Porsche, na Auto Union, e com o apoio financeiro do governo de Adolf Hitler, esses veículos dominariam as competições internacionais como nunca mais visto, até o início da Segunda Guerra.

Em 1936, o prestígio de Ferrari e Jano dentro da Alfa havia caído vertiginosamente. Todas as tentativas de vencer os poderosos alemães falhavam. Nesse ponto Gobbatto, pressionado por Mussolini, tentou reorganizar o departamento de competições para sanar o problema. Primeiro, comprou a Scuderia Ferrari de Enzo e o nomeou diretor da recém-formada Alfa Corse. E segundo, contratou um amigo (presume-se alguma ligação política entre os dois) com grande experiência em engenharia para chefiar toda a área técnica da Alfa Romeo, efetivamente supervisionando tanto Jano quanto Ferrari.

Aqui e no alto da página, o Thrill 1953: um estudo de estilo inovador em aerodinâmica e segurança, que chegava a 230 km/h

Esse homem era Don Wifredo Pelayo Ricart y Medina, ou simplesmente Wifredo Ricart. Um catalão bem nascido e bem conectado politicamente, Ricart veio à Alfa inicialmente para trabalhar com motores aeronáuticos, em grande demanda devido à guerra que se aproximava. Também era um engenheiro metódico como seu amigo Gobatto, que depositava grande confiança em sua capacidade técnica.

Wifredo Ricart foi, sem dúvida, a pessoa que Enzo Ferrari mais odiou em toda sua vida. Em sua autobiografia floreada ("Meus prazeres terríveis"), Enzo não perdeu uma chance sequer de prejudicar a imagem daquele a quem se acostumou a chamar (com um quê de desdém) de Lo spagnolo. Inclusive, aproveitou esse livro para insistentemente chamá-lo de Vilfredo Ricard, pois sabia que o espanhol odiava que errassem seu nome.
Continua

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