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Emme: desvendando o mistério

Proprietário do "sedã esportivo nacional" busca a
verdade sobre a suposta fábrica com tecnologia Lotus

Texto: Henrique Mendonça e Fabrício Samahá

Desde 1996, quando foi visto pela primeira vez circulando pelas ruas e estradas do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, o sedã esportivo Emme desperta a curiosidade dos aficionados por carros. Seria aquele automóvel de linhas desarmônicas, supostamente produzido em Pindamonhangaba, a 150 quilômetros da capital paulista, um legítimo Lotus brasileiro?

O Best Cars Web Site está no encalço do Emme há cinco anos. O editor Fabrício Samahá, que reside na mesma cidade, viu o carro em testes pela primeira vez em abril de 1996 -- um protótipo azul-escuro, de linhas idênticas às definitivas. Meses depois, em trabalho para uma revista, obteve imagens de outra unidade -- cinza e com placas azuis, restritas a fabricantes -- em testes na região, publicadas em dezembro do mesmo ano.

Da primeira aparição, no Brasil Motor Show de 1997 (acima), às 12 ou 15 unidades vendidas (uma delas ao lado), nada significativo mudou no desenho ou na mecânica do Emme

Na traseira havia o emblema da britânica Lotus, então sob controle da marca Proton, da Malásia. A acionista majoritária da Proton é hoje a Petronas, companhia petrolífera estatal daquele país, cujos escritórios se localizam no edifício mais alto do mundo: o famoso Petronas Towers, na capital Kuala Lumpur, com 452 metros de altura.

O logotipo confirmava os comentários de que o Emme 422T (sigla para o motor de quatro cilindros, 2,2 litros e turbocompressor) utilizaria o motor adotado à época no Lotus Esprit. A carroceria era de plástico injetado, denominado VeXtrim, e com porte próximo ao de um Omega. Havia detalhes modernos, como os quatro faróis superelipsoidais, mas seu estilo estava longe de agradar à maioria.

Em instalações um tanto modestas foram fabricadas as poucas carrocerias em material plástico, mas em 1996 houve uma greve porque os funcionários não estavam produzindo automóveis

A fábrica, Megastar Veículos, ficava no Distrito Industrial da cidade, próximo à Via Dutra, e já despertava uma suspeita: ao contrário do que se comentava em Pindamonhangaba, as instalações pareciam exíguas para a produção de um automóvel. No final de 1996 a imprensa local anunciava uma greve na empresa. Contratados para fabricar veículos, os funcionários protestavam por trabalhar apenas na produção de autopeças.

A primeira aparição pública oficial do Emme foi em outubro de 1997, no Brasil Motor Show, ao lado dos scooters Mirage 50 da mesma marca. O material distribuído aos visitantes citava outras duas versões, de 2,0 litros e 16 válvulas, com motor aspirado (420) e turbo (420T). Questionado, o funcionário do estande garantia serem motores fabricados em Pindamonhangaba, mas era curiosa a semelhança de especificações com o AP-2000 da Volkswagen.

O fabricante anunciava que o venderia em países do Primeiro Mundo, mas o carro não trazia os itens de segurança e o padrão de qualidade que se exigem lá fora

Apesar de nunca ter disponibilizado exemplares para testes (leia mais sobre sua relação com a imprensa), a marca teve seu espaço na mídia. Jornais, revistas e TV exibiram com certo orgulho o "sedã brasileiro capaz de rivalizar com os importados". Ainda hoje é comum encontrar suas fotos e especificações em sites estrangeiros especializados em supercarros. Em 1998 o sedã voltava ao Parque Anhembi, em São Paulo, para o Salão do Automóvel -- agora disponível para venda. Continua

Ainda uma incógnita
Pelo que apurou o proprietário Ronaldo Franchini, governo, funcionários e clientes não sabem quem são os verdadeiros donos da Megastar. O processo de instalação da fábrica informa apenas que o grupo proprietário é o New Concept Aktiengesellshaft, de Vaduz, Liechtenstein, na Europa. Seu presidente Francesco Hurle mora em Lugano, na Suíça.

No Brasil, o braço industrial chama-se Megastar Veículos e foi criada a empresa New Concept Comércio Empreendimentos e Participações Ltda., que detém a tecnologia do plástico injetado (VeXtrim). A pessoa de mais alto escalão que Franchini localizou no Brasil
desapareceu quando
as coisas começaram a dar errado, sendo identificada pela última vez tentando vender um Emme vermelho e um motor Lotus num site de leilões.

Meses antes da falência, decretada no ano passado, a fábrica funcionava com apenas dois ou três funcionários administrativos e anunciava, no site www.emme.com.br, que estava desenvolvendo um minicarro urbano com a mesma tecnologia VeXtrim de plástico injetado.

Mas os mais atentos percebiam que a ilustração do projeto nada mais era que o desenho de um dos protótipos do novo Mini inglês. Ou seja, as tentativas de enganação da empresa só mudaram de marca.

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 Fotos: Ronaldo Franchini (carro cinza) e Fabrício Samahá (salão e fábrica)

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