


Em trajeto de avaliação
insuficiente, boas impressões com o acerto de suspensão, que deixa o
Fiesta "na mão" mesmo ao andar bem rápido

Motor e câmbio são feitos em
Taubaté, SP; sem variação de tempo de válvulas, o Sigma perdeu potência,
mas nossa versão tem mais torque |
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MOTOR
- transversal, 4 cilindros em linha; duplo comando no cabeçote, 4
válvulas por cilindro. Diâmetro e curso: 79 x 81,4 mm. Cilindrada:
1.596 cm3. Taxa de compressão: 11:1. Injeção multiponto
sequencial. Potência máxima: 110 cv (gas.) e 115 cv (álc.) a 6.250 rpm. Torque máximo:
15,8
m.kgf (gas.) e 16,2 m.kgf (álc.) a 4.250 rpm. |
CÂMBIO
- manual, 5 marchas; tração dianteira. |
FREIOS
- dianteiros a disco ventilado; traseiros a tambor; antitravamento
(ABS). |
DIREÇÃO
- de pinhão e cremalheira; assistência elétrica. |
SUSPENSÃO
- dianteira, independente McPherson; traseira, eixo de torção. |
RODAS
- 6 x 15 pol; pneus, 185/60 R 15. |
DIMENSÕES
- comprimento, 4,41 m; largura, 1,697 m; altura, 1,446 m;
entre-eixos, 2,489 m; capacidade do tanque, 47 l; porta-malas, 440
l; peso, 1.162 kg. |
DESEMPENHO - velocidade
máxima, 190 km/h; aceleração
de 0 a 100 km/h, 11,5 s (álc.) |
CONSUMO
- em cidade, 11,9
km/l (gas.) e 8,3 km/l (álc.); em estrada, 12,7 km/l (gas.) e 8,7
km/l (álc.). |
Dados do fabricante |
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Se algum dono de Focus se sente tentado a "descer de categoria"
imaginando que o Fiesta cresceu, sugerimos pensar duas — ou 10 — vezes.
Ele de fato está 21 centímetros mais longo que o modelo feito em
Camaçari, mas a largura aumentou apenas 2 cm, a altura diminuiu 3 cm e a
distância entre eixos foi mantida. Como os carros perdem cada vez mais
espaço em reforços e áreas de absorção de impactos (como portas e seus
batentes) para atender às novas normas de segurança, o resultado é um
banco traseiro típico de modelo pequeno: assento curto e com mau apoio
para as coxas, espaço modesto para pernas e cabeça, largura um tanto
escassa. Uma pessoa de 1,75 metro pode se sentar atrás de outra da mesma
estatura, mas não duas de 1,80 m, nem três adultos lado a lado. Aqui,
nada de premium, só mesmo de compacto.
E o porta-malas? A capacidade de 440 litros supera Cerato e Passion e
fica próxima à do Polo, mas perde feio para a do City (506 l), o que era
inesperado para o perfil alto da traseira. Seria melhor se a Ford
mantivesse as articulações pantográficas
do modelo anterior, em vez de usar braços do tipo "pescoço de ganso" que
roubam espaço e podem amassar a bagagem. O vão de acesso é adequado, mas
com base alta, típica dos novos projetos por questões estruturais, e o
banco traseiro tem encosto rebatível bipartido. Abaixo do assoalho vem
um estepe temporário, como no Focus e no Fusion.
DNA da marca preservado
A opção da Ford pelo motor Sigma igual ao do Focus — flexível, mas sem a
variação contínua do tempo de abertura das válvulas — deixa nosso Fiesta
um pouco menos potente que o da América do Norte, embora com torque
superior. Lá são 121 cv e 15,5 m.kgf; aqui, 110 cv/15,8 m.kgf com
gasolina e 115 cv/16,2 m.kgf com álcool. Com peso de 1.162 kg, dentro da
média de sua categoria, o sedã promete boas marcas de desempenho e um
consumo moderado pelas informações da fábrica (veja no quadro ao fim
da ficha técnica). O Fiesta mantém uma concepção técnica mais
simples que a do Focus, caso da suspensão traseira por eixo de torção,
em vez do sistema independente multibraço do modelo maior. De realmente
novo nos carros da marca abaixo do Fusion, apenas a assistência elétrica
de direção.
No lançamento à imprensa em Dearborn, Michigan — a "casa" da Ford — foi
possível dirigir tanto a versão SE destinada ao Brasil quanto a SEL de
mercado norte-americano. Dirigir, mas bem pouco: o percurso no campo de
provas da empresa previa apenas algumas curvas e uma pequena reta,
insuficiente para uma avaliação digna desse nome.
As qualidades já conhecidas do Sigma, como funcionamento muito suave e
boa distribuição de potência, não impedem a sensação de que falta um
pouco de desempenho. Seria interessante somar a variação de válvulas ao
uso de álcool para obter algum ganho, mas a Ford parece ter preferido a
redução de custos — o SEL para os EUA, mesmo com gasolina, dá impressão
de motor mais disposto tanto em baixa quanto em alta rotação. A fábrica
destaca o menor nível de ruído da categoria e isso se percebe mesmo no
curto trajeto, pois o motor só incomoda um pouco já perto do limite,
acima de 5.000 rpm (o corte é em 6.450 giros, só 200 além do pico de
potência). O câmbio mostra comando perfeito, que faz das trocas um
prazer, e mantém a marcha à ré sem travas desnecessárias; o acionamento
hidráulico da embreagem a deixa bem leve. A velocidade máxima tem limite
eletrônico em 190 km/h.
Nas curvas de diferentes raios do circuito, o DNA da marca se mostrou
bem presente: o acerto de suspensão e direção deixa o motorista com
pleno controle, mesmo ao andar rápido. Há
subesterço acentuado nas curvas fechadas, como esperado, mas a
traseira não soltar quando se tira o pé do acelerador é um benefício
para o motorista comum. A medida dos pneus (185/60 R 15, curiosamente da
sul-coreana Kumho, o que pode vir a ser problema para reposição) está
bem escolhida e os freios parecem bem dimensionados. Ponto alto é a
direção rápida — relação de 14,3:1, das mais baixas conhecidas — e
levíssima em baixa velocidade, que faz bom uso da facilidade de
calibração trazida pela assistência elétrica. Considerações sobre
conforto de marcha e uso em velocidade ficam para a avaliação completa.
Dentro do que foi possível constatar no breve contato, em condições
longe das ideais, o novo Fiesta mexicano comprovou ser um Ford um pouco
diferente nos detalhes, em comparação aos modelos de padrão europeu, mas
que carrega a essência da marca. Para o bem e para o mal: por um lado, é
prazeroso de dirigir, com comportamento dinâmico bem acertado, o melhor
motor da faixa de 1,6 litro em nossa opinião, ótimos câmbio e direção;
por outro, mostra reduções de custo indesejadas no acabamento,
incompatíveis com a tradição de requinte da marca, mas coerentes com o
que sua linha de carros pequenos e médios tem apresentado nos últimos
anos. |