É uma decoração alegre e em um interior prático: há uma grande bandeja de teto, de lado a lado, no espaço dianteiro; dois porta-objetos laterais atrás, com rede; dois no painel (mais um porta-moedas) e dois no console de túnel. No assoalho traseiro — que é plano — há dois práticos espaços com tampa. As portas possuem aviso no painel para abertas ou fechamento incompleto. No banco traseiro, os três lugares contam com cinto de três pontos retrátil e encosto de cabeça ajustável em altura. Rebatê-lo é muito fácil e, como os fechos dos cintos e a parte diagonal do central são integrados aos bancos, não ficam pelo caminho nessa operação.

Ao dirigir, boas surpresas: desempenho correto
e comportamento que surpreende para sua altura

O compartimento de bagagem é descomunal: 664 litros, com 933 mm de comprimento por 1.320 mm (1.167 mm entre as caixas de roda) e 530 mm de altura. Uma senhora "caixa". Após escamotear o banco traseiro dispõe-se de um "baú" de 2.800 l. Contribuem para o espaço a suspensão traseira independente "à francesa", por braços arrastados com barra de torção transversal, e o estepe "fora", sob o assoalho — não tão prático na hora de usá-lo. A generosidade inclui o banco traseiro, ajudada pela grande distância entre eixos de 2,69 m. O espaço para pernas é típico de sedã de grande porte e o para cabeça chega a 1,01 m. Apesar disso, o comprimento do Berlingo é de somente 4,10 m, o que o torna adequado para o tráfego denso.

Bom e divertido de andar   Um grande mérito do Berlingo é ser divertido dirigi-lo. Os comandos são leves e de fácil alcance. A assistência de direção é regressiva de acordo com a rotação, mas poderia ser um pouco menor, para maior firmeza em velocidade. Em contrapartida, no trânsito e em manobras, a leveza facilita o dirigir. Os retrovisores convexos e de formato vertical permitem controle exato do tráfego lateral.

O motor, elástico, permite dirigir calmamente ou então "empilhando marchas", numa condução mais rápida. Nem parece utilitário. Os pedais são dispostos corretamente, há apoio definido para o pé esquerdo e o câmbio possui trava apenas interna para evitar o engate involuntário da ré. O excelente comportamento dinâmico é outra surpresa: mesmo com pneus relativamente estreitos (175/65-14), a aderência em curvas é mais do que adequada, com pouca inclinação de carroceria e saída de frente bem discreta. A resposta de direção sempre corresponde ao que se espera. A calibragem da suspensão e o isolamento estão no estado-da-arte, com total controle dos movimentos transversais e longitudinais e absorção das irregularidades.

Onde quer que se olhe nota-se o cuidado da Citroën. Há repetidoras das luzes de direção; alça na tampa traseira para facilitar seu fechamento; bancos que acomodam bem o corpo, com boa retenção lateral e apoio lombar adequado; fechos dos cintos ancorados no próprio banco; e os faróis podem ser deixados acesos por um minuto ao desligar o carro. A buzina acionada pela alavanca da seta, comum na França, divide opiniões — inclusive no BCWS, onde este autor gosta, mas não o editor.

Além do espaço vertical de um metro nos bancos,
capacidade de bagagem excelente: 664 litros

Alguns leitores podem achar que "douramos muito a pílula" ao falar do Berlingo, mas quando se leva em conta a racionalidade de um veículo, aliada à concepção inteligente e à praticidade que representa, deixá-lo de fazer seria no mínimo injusto. Parodiando antigo anúncio da Volkswagen nos Estados Unidos na década de 1960, o Berlingo pode ser, para muitas famílias brasileiras, o melhor segundo carro — mesmo que elas não tenham o primeiro. Conhecê-lo melhor foi mesmo uma revisão de conceitos. Quem foi que disse que hábitos não podem ser mudados?

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