Comentário técnico
Roletes nas alavancas tipo dedo, que movimentam as válvulas, são a inovação do Zetec Rocam no Brasil
Há dois tipos de movimentação das válvulas: direta e indireta, ambas bem conhecidas e utilizadas em modelos brasileiros. Na direta, o ressalto (da árvore de comando de válvulas) está posicionado diretamente sobre a válvula e o elemento intermediário tucho (motores GM 16-válvulas, Volkswagen AP e 16V, Fiat desde o 147, entre outros). Na movimentação indireta, um mecanismo encarrega-se de levar movimento do ressalto até à válvula. Quando a árvore de comando está no bloco, o ressalto impulsiona o tucho, que impulsiona a vareta, que impulsiona o balancim (já no cabeçote), e este, a válvula.

O balancim tem movimento de cadeira de balanço: haste de um lado, válvula do outro, um eixo ou uma rótula no meio (motores Ford AE, Fusca, no primeiro caso e Chevrolet 151/250, Ford 302 no outro). Balancim em inglês é rocker arm, e cadeira de balanço é rocker chair. Viu a analogia?

No caso de comando de válvulas no cabeçote e atuação indireta, usam-se alavancas tipo dedo (finger arm), em que são apoiadas numa extremidade sobre ponto fixo ou compensador hidráulico, sendo a outra extremidade a que movimenta a válvula. A alavanca tipo dedo -- imagine o indicador de sua mão -- recebe o movimento do ressalto aproximadamente no meio, entre o apoio (junto à mão) e a ponta (debaixo da unha). São exemplos os motores GM de 8 válvulas e Honda VTEC.

Até recentemente, o ressalto agia sobre o dedo por deslizamento, havendo aí um ponto de enorme atrito e tensão. Por esse motivo, o desenho do ressalto precisava ser tal para que esse atrito fosse controlado, razoável, mas levando à indesejável situação em que o tempo de abertura máxima da válvula era muito pequeno. Era a rampa suave do ressalto. Mas se houvesse um rolete no dedo o atrito seria praticamente nenhum, tornando possível uma rampa de ressalto bem mais pronunciada. A válvula permaneceria mais tempo aberta, com ganho imediato no

  enchimento do motor mesmo em rotações baixas.

Esse é o princípio utilizado no novo motor Ford Rocam (roller finger camshaft) e também no Corsa alemão de 1 litro e 3 cilindros. A Ford tem o mérito de ser o primeiro fabricante a adotar a solução aqui, cujos resultados surpreenderam. Mas não pense que a idéia é nova: nos motores V8 de comando no bloco, utilizam-se há décadas tuchos roletados (roller tappets) em combinação com comandos de alto rendimento produzidos pelos preparadores norte-americanos. O objetivo é o mesmo: rampas de ressalto mais pronunciadas para enchimento mais eficiente dos cilindros.

Ao contrário do Zetec SE do Fiesta 16V anterior, o bloco do Rocam é de ferro fundido e não de alumínio, o comando de válvulas é único, e as válvulas, apenas duas por cilindro. Além da redução de custo, a Ford obteve com a configuração um motor de torque bem distribuído, bem adequado à utilização urbana que predomina nesses veículos. O comando é acionado por corrente interna -- como sempre foi nos Porsches -- e não correia dentada de borracha, mais sujeita a desgaste e quebra.

Em relação ao Endura-E a vantagem em tecnologia é total, pois o decano motor, desenvolvido pela Ford inglesa nos anos 50, ainda tinha o comando de válvulas no bloco e cabeçote em ferro fundido. Outros avanços do Rocam são o cárter em alumínio; coletor de admissão e tampa de válvulas confeccionados em plástico de engenharia; e coletor de escapamento em aço inoxidável, para menor restrição e maior durabilidade. O cabeçote tem fluxo cruzado (cross flow), com admissão e escapamento em lados opostos, como no Endura-E.

Os intervalos de manutenção do Rocam são bem prolongados, com troca de óleo a cada 20.000 km, substituição de velas a cada 40.000 km e vida útil mínima estimada em 240.000 km.

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