A situação é mais comum
do que se imagina. Ao entregar seu carro à concessionária para o que
deveria ser uma simples revisão, com valor já definido e anunciado pelo
fabricante, o cliente ouve: "Precisamos fazer descarbonização, limpeza
de bicos e do tanque. E, pela quilometragem, o senhor deveria trocar os
amortecedores e o fluido de freio". Naturalmente, a conta na retirada do
carro será bem mais salgada que o valor anunciado para a revisão.
Seja na autorizada, na oficina independente ou mesmo no posto de
combustível, o fato é que a enganação corre solta. Trata-se de oferecer
— ou, pior, impor sob ameaça de perda da garantia ou risco semelhante —
produtos e serviços que não são necessários ou que poderiam esperar sem
trazer nenhum inconveniente. Como nem todo proprietário de automóvel
conhece mecânica o suficiente, a maioria acaba aceitando a "sugestão" e
aumentando sem necessidade os custos de manutenção. O Best Cars
preparou um guia para evitar que isso aconteça com você.

Aditivos para
o óleo e para aumentar a octanagem do combustível
são desnecessários diante dos lubrificantes e motores atuais
No posto
O empurra-empurra
de produtos pode começar quando se abastece o tanque: "Vai um aditivo,
doutor?". Não, não vai. Embora não tragam problemas se forem de boa
qualidade, aditivos de limpeza para o combustível não são exigidos pelos
fabricantes (alguns apenas os recomendam, caso da GM para modelos
flexíveis). Se você usa gasolina aditivada — o que sugerimos —, não há
por que acrescentar aditivos de limpeza aos que já constam do
combustível. |
Esses aditivos são úteis apenas se, por qualquer motivo, você preferir
usar sempre gasolina comum. Já se o aditivo for para aumento de
octanagem (chamado de octane booster), pior ainda: nenhum carro vendido
no Brasil requer gasolina com mais de 95
octanas RON, o que têm a comum e a aditivada. Um aditivo desse tipo
é seguramente um gasto inútil, que só traria algum retorno — mesmo assim
discreto — em motores de alta taxa de
compressão. Pelo mesmo motivo as gasolinas do tipo premium, de 98
octanas RON, tendem a não trazer vantagem alguma ao motor da maioria dos
veículos. No caso de uso de álcool, também não é necessário qualquer
aditivo.
Na hora de trocar o óleo, atenção. O manual do veículo especifica que
lubrificante deve ser usado como mínimo — basta atender a tal
especificação para garantir lubrificação correta ao motor. Aqui, o que
vem a mais não prejudica, mas é preciso considerar se o maior custo vale
a pena. Se o fabricante recomenda apenas óleo mineral, por exemplo, cabe
a você decidir se compensa pagar mais por um sintético ou de base
sintética. Cuidado também com a oferta de aditivos para o óleo: os
lubrificantes modernos contam com elevada aditivação, que torna
dispensável o acréscimo desses produtos.
Ainda sobre óleo, muito cuidado com a medição sem critérios feita pelo
frentista. Nível de óleo se mede com o carro em local plano e o motor
desligado há no mínimo 10 minutos, para que o lubrificante que aderiu às
peças internas possa escoar de volta para o cárter. Se a medição for
feita logo que se para o carro, pode indicar nível inferior ao
verdadeiro e levar o frentista a completar o óleo sem necessidade. Além
da despesa inútil, o excesso acaba por ser queimado pelo motor, emitindo
poluentes e carbonizando o motor e as velas de ignição.
Na oficina
Autorizada ou
independente, uma oficina é um território onde a oferta, ou mesmo a
imposição, de serviços desnecessários é muito comum. Os dois mais
famosos são a limpeza de bicos e a descarbonização.
Os tais bicos são as pequenas válvulas injetoras que produzem um
esguicho de combustível dentro do motor. De fato, se o carro usar apenas
gasolina comum (que não tem aditivos de limpeza) ou receber combustível
adulterado, os bicos podem ficar parcialmente entupidos, o que prejudica
o desempenho, aumenta o consumo e provoca falhas de funcionamento. Se
você já notou alguns desses sintomas ou usou combustível suspeito, a
limpeza é uma boa ideia. Caso contrário, dispense-a.
Continua
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