O jovem da Renault

Nascido antes da guerra, o pequeno Juvaquatre deu origem a
várias versões que somaram duas décadas de produção

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Fundada em 1898 pelo industrial francês Louis Renault e seus irmãos Marcel e Fernand, e produzindo automóveis de rua desde 1905, a Renault estava centrada na década de 1930 em modelos de certo luxo, como o Primaquatre e o Celtaquatre. Naquele período, no entanto, fatores como a ascensão da Frente Popular na França e o surgimento de uma massa de compradores de baixa renda, gerada pelas novas condições de trabalho, fizeram Louis Renault pensar em um automóvel popular, que ocupasse o segmento de entrada do mercado francês, com uma potência fiscal (categoria para incidência de tributos) de 6 cv.

O alemão Opel Olympia, que Louis havia conhecido em uma viagem a Berlim em 1935, serviu de inspiração — alguns diriam de modelo, tal a semelhança de linhas — para o que se tornaria, no Salão de Paris de 1937, o Renault Juvaquatre. O nome era derivado de juventu (jovem em latim) e do número quatro em francês, alusivo aos cilindros do motor — assim como no Vivaquatre, no Nervaquatre e nos dois modelos já citados. O carro tinha formas simpáticas e dimensões compactas: 3,66 metros de comprimento, 1,47 m de largura, 1,56 m de altura e 2,35 m de distância entre eixos.

O Coach, um sedã de duas portas sem acesso externo ao porta-malas (ao lado), foi o primeiro Juvaquatre; o modelo de quatro portas (no alto) viria em 1939, atendendo a pedidos

O interior simples trazia bancos dianteiros individuais, mas tão juntos que pareciam um inteiriço... No painel em posição central, o velocímetro de formato inusitado — um semicírculo invertido, com indicação ascendente da direita para a esquerda — continha pequenos mostradores: de combustível, amperímetro e em alguns casos relógio. O volante de três raios era enorme para o porte do carro. Havia duas opções de acabamento: Luxe e Grand Luxe, esta com a adição de pára-choque traseiro (que chegaria ao modelo básico no ano seguinte), pára-sóis, dois limpadores de pára-brisa em vez um só, luz interna e detalhes cromados — não exatamente o conceito de luxo que temos hoje. O Luxe só podia ser pintado de azul ou preto.

A carroceria inicial era chamada de Coach, um sedã de duas portas e quatro lugares com a traseira em uma só curva. O acesso ao porta-malas era feito apenas pelo interior do carro. Dianteiro e com tração traseira, o motor tinha quatro cilindros em linha, comando de válvulas no bloco, válvulas laterais e refrigeração líquida. Mesmo com a razoável cilindrada de 1.003 cm³, desenvolvia potência (líquida) de apenas 23 cv. Apesar do desempenho muito modesto, com máxima ao redor de 100 km/h, o baixo peso (760 kg) trazia certa agilidade e era um carro bastante econômico: a média anunciada de 13,3 km/l fazia durar o conteúdo do tanque de 27 litros.

O interior simples e pouco espaçoso: bancos individuais bem próximos, um grande volante e o velocímetro em forma de semicírculo no centro do painel

A mecânica contava com alguns refinamentos para sua classe, como a suspensão dianteira independente (com feixe de molas semi-elíticas transversal, assim como o eixo rígido traseiro) e, de 1939 em diante, comando hidráulico dos freios a tambor, uma primazia dentro da marca. O câmbio manual de três marchas tinha a primeira não sincronizada e os pneus usavam as medidas 4,75-16 e 155-400 (aro em milímetros), conforme a versão. Para demonstrar sua valentia, a Renault promoveu uma prova de 5.380 quilômetros no circuito de Montlhery, perto de Paris. Quatro pilotos o dirigiram por 50 horas à média de 107 km/h. Continua

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Data de publicação: 8/8/06

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