Como viver com a gasolina a R$ 3,00

Se os combustíveis batem recordes históricos de preço,
saiba como rodar o mesmo com seu carro e consumir menos

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editor

Não me esqueço de uma chamada de capa de revista na década de 1970, em meio à crise do petróleo: "Como viver com a gasolina a Cr$ 7,00". Com a devida atualização da moeda e do valor, é possível dizer hoje "Como viver com a gasolina a R$ 3,00", preço que tal combustível atingiu em muitos postos nas últimas semanas, enquanto o álcool — habitual alternativa para motores flexíveis — mantinha um custo que tornava a gasolina a melhor opção. Esse quadro está mudando com a queda de preço do derivado da cana de açúcar, que traz junto o valor da gasolina em menor proporção, mas economizar no posto ainda é do interesse de quase qualquer pessoa.

Uma opção natural (sem duplo sentido) é deixar o carro em casa sempre que possível e caminhar mais, usar a bicicleta, o transporte público ou compartilhar o automóvel com amigos e colegas de trabalho. Mas isso não funciona para todo mundo, pelo que a questão persiste: como gastar menos sem deixar de percorrer a mesma distância de carro? Há dicas simples, algumas conhecidas e outras nem tanto.

Tudo começa com as condições do carro. Há quanto tempo você não confere a pressão dos pneus? Se estiver baixa, aumentam o atrito, o desgaste dos pneus e o consumo de combustível, além de ser afetada a estabilidade. Mas não basta pedir a tarefa ao frentista e confiar que ele tenha na memória a pressão indicada para cada modelo em cada situação de uso... Informe-lhe as indicações do manual para as condições em que vai rodar. Velas desgastadas e filtro de ar sujo também são inimigos da economia, assim como qualquer anormalidade que deixe o motor com mau funcionamento, falhando ou com partida difícil — o que pode indicar de combustível adulterado até problemas de ignição.

Carro em ordem, passe a outra análise: ele anda apenas com o necessário? Observe se não carrega objetos inúteis no porta-malas ou se é mesmo preciso manter um bagageiro no teto o tempo todo. Rodas maiores e pneus mais largos que os originais podem ser bonitos, mas contribuem para gastar mais.

Assuma o volante e analise seu modo de dirigir. Se a pressa é inimiga da perfeição, é também da economia: um motorista tenso ou atrasado tende a acelerar mais, mesmo quando não pode ganhar tempo em meio ao tráfego pesado. Uma direção suave, em que apenas se acompanha o trânsito, rende quilômetros por litro. Procure se antecipar: se os carros param ou o semáforo fecha adiante, deixe de acelerar mais cedo. Na estrada, se tempo não é problema, rodar em velocidade pouco mais baixa reduz o consumo — só cuide para não prejudicar a fluidez da via.

Sem medo de acelerar
Muita gente tem um receio infundado de usar o acelerador a fundo em baixas rotações, pensando que o motor pode se danificar ou que o consumo será elevado. De modo geral, 1.500 a 2.000 rpm são suficientes para um funcionamento regular e econômico, usando-se mais a abertura do acelerador e menos as rotações para obter potência (leia nosso teste a respeito, publicado em 2003). Isso também vale para a estrada, onde pisar mais em vez de reduzir uma marcha pode ser a forma mais econômica de ganhar velocidade ou superar um aclive.

Se o carro tem ar-condicionado, use-o com moderação: em algumas condições pode-se obter conforto apenas com janelas entreabertas. No caso de câmbio automático, paradas mais longas (como um semáforo demorado) podem justificar passar a alavanca para o ponto-morto, pois em "D" o motor fica mais acelerado, com consumo cerca de 20% maior. Em qualquer carro, é melhor desligar a chave se for parar por mais de dois minutos. Só não o faça em paradas breves, pelo desgaste do sistema elétrico e o consumo de energia da bateria, que terá de ser recarregada usando combustível.

Livre-se de maus hábitos, às vezes herdados de tempos em que os carros exigiam cuidados adicionais. Mesmo no frio, não é preciso aguardar o motor se aquecer: pode-se sair com o carro normalmente, sem excessos. Antes de desligá-lo, nada de dar uma acelerada, o que ainda pode danificar o catalisador.

Manter uma planilha com o consumo registrado a cada abastecimento permite detectar fatores que aumentam o gasto, como problemas no carro ou mesmo mudanças no itinerário de todo dia que possam ser revertidas. Para reduzir a margem de erro, procure abastecer sempre em piso plano até o mesmo ponto (como no primeiro desligamento automático da bomba) e divida os quilômetros percorridos pelos litros que couberam. Se o carro tem computador de bordo, use-o a seu favor.

Cuide do combustível que seu automóvel recebe usando postos conhecidos, indicados por amigos ou com controle de qualidade pela empresa distribuidora — não basta que haja uma "bandeira" famosa, pois os postos são livres para comprar de outras empresas. No caso da gasolina, a aditivada é recomendável para manter o motor e o sistema de alimentação limpos, o que conserva seu funcionamento original por mais tempo e reduz as despesas com manutenção. Já o tipo premium, de alta octanagem, normalmente é dispensável e em raros casos traz benefícios reais.

De resto, na próxima troca de carro, preste atenção ao fator consumo. Embora muitas vezes ter um carro mais econômico implique aceitar menor desempenho ou menor espaço interno, isso não acontece sempre. Como exemplo, vê-se muito hoje a opção por utilitários esporte — mais pesados, menos aerodinâmicos, sem dúvida menos eficientes — por pura moda, já que não há o objetivo de usar suas aptidões fora do asfalto. A simples escolha de um modelo "aventureiro" já se traduz em maior consumo, ainda que por pequena margem, que a da versão convencional.

Usando a cabeça na compra, no uso e na manutenção, seu bolso vai agradecer.

De modo geral, 1.500 a 2.000 rpm são suficientes para um funcionamento regular e econômico, usando-se mais a abertura do acelerador e menos as rotações

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Data de publicação: 21/5/11

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