Bom, mas poderia ser melhor

Mercado em alta e muitos lançamentos marcaram 2010, ano que
poderia ter trazido mais boas notícias no setor de automóveis

por Fabrício Samahá

Um ótimo ano para a indústria e bom para o consumidor de automóveis em geral: assim pode ser resumido 2010 na opinião deste editor.

Ótimo para a indústria, como se sabe, pelos resultados obtidos na produção e nas vendas. O total acumulado até novembro indicava 3,36 milhões de veículos fabricados e 3,13 milhões licenciados, o que permite esperar que o ano termine próximo a 3,6 e 3,4 milhões, na mesma ordem. Diante dos números do ano passado completo (respectivos 3,19 e 3,14 milhões), o que se imagina é que os executivos dos fabricantes estejam rindo à toa.

E bom para o consumidor em geral por diferentes razões. Primeira, que nunca esteve tão fácil comprar um veículo por financiamento, com juros menores e uma economia estabilizada que traz segurança — ou ao menos sua sensação — na hora de decidir assumir uma compra a crédito. Isso, claro, explica em grande parte os resultados da indústria citados no parágrafo anterior.

E segunda, que um mercado aquecido estimula fabricantes e importadores a fazer mais lançamentos, pois quem fica parado perde o atrativo diante do consumidor. O próprio ritmo da imprensa especializada durante 2010, saindo de um evento de apresentação para entrar em outro, ilustra bem essa situação. Outro exemplo foi o Salão do Automóvel em São Paulo, em outubro, com recorde de novos modelos e uma variedade de marcas como nunca se viu.

Com isso, ganhamos opções em muitas categorias e faixas de preço. É o caso do Amarok, primeiro picape médio da Volkswagen, com recursos de conforto e segurança inéditos na classe; do novo Uno, que modernizou a oferta da Fiat na categoria de maior volume de vendas; do Ford Fusion Hybrid, que inaugurou a propulsão híbrida no segmento "sub-Mercedes", já que o pioneiro entre os híbridos aqui foi o S 400 da marca alemã; e da minivan Citroën Aircross, bem resolvida em espaço e suspensão e primeiro nacional a trazer navegador com mapa integrado ao painel.

Houve ainda o Fiat Bravo, que acompanha o retorno do interesse das fábricas aos hatches médios; o Peugeot Hoggar, mais uma alternativa — e das boas — em picape pequeno; o Fiesta mexicano, válida alternativa ao Honda City entre os sedãs pequenos com jeito de médios; o Renault Fluence, também com bons atributos em um concorrido segmento; e o Audi A1, que traz a marca de volta ao mercado abaixo de R$ 100 mil. Mesmo não beneficiados pelos acordos comerciais do Mercosul e com o México, chegaram importados a preços competitivos como os Hyundais IX35 e Sonata, o Chevrolet Malibu, a Peugeot 3008 e o renovado Kia Sorento.

Lançamentos em segmentos mais altos também foram vários, como Porsche Cayenne, Audi A8, BMW Série 5 e sua variação Gran Turismo, Chevrolet Camaro. E não poderia faltar a menção aos chineses, que desembarcaram com numerosas opções e em rápida evolução técnica e de estilo, embora ainda carentes de imagem em termos de robustez, qualidade e assistência técnica.

Ficam duas notas negativas. Uma para o Hyundai Tucson, que ganhou uma sobrevida no Brasil depois de sair de linha na Coreia do Sul
método comum no começo de nossa indústria, que esperávamos ter sido extinto. E outra para o Chevrolet Montana, em que a atraente primeira geração deu lugar a um modelo de aparência um tanto discutível (para usar um termo ameno) e com retrocessos em suspensão, acabamento e posição do motorista.

Fabrício Samahá, editor

O que faltou
Diante desse cenário, o que o Papai Noel poderia colocar em nossas meias na noite de Natal para desfrutarmos em 2011?

Menos impostos, sem dúvida, seriam um bom começo. Entra governo, sai governo e nossa carga tributária continua entre as mais altas do mundo, uma das razões para pagarmos tão caro pelos automóveis, mesmo quando eles são iguais ou até inferiores aos vendidos em mercados não muito mais desenvolvidos, como o argentino e o mexicano. Digo "uma das razões" porque já debatemos o assunto o suficiente para saber que essa não é a única: as margens de lucro de fabricantes e importadores certamente andam bem altas por aqui, a ponto de que as unidades brasileiras ajudam a sustentar as matrizes em dificuldades no exterior.

Tem-se aí uma equação difícil de resolver: menos impostos levariam o mercado a se aquecer ainda mais — como já ocorreu com pequenas reduções da ordem de 5% — e ajudariam a manter os preços lá em cima. Ficar como está, todavia, é um desrespeito ao povo brasileiro, que tem de trabalhar muito mais para poder comprar o mesmo carro... ou um inferior.

Para quem — como nós do Best Cars e, certamente, grande parte de vocês que nos leem — é entusiasta por automóveis, o bom velhinho bem poderia trazer mais opções de carros que nos fizessem acelerar o coração. Eles já existem, mas raramente estão ao alcance financeiro da maioria de nós. No passado tivemos conversíveis nacionais, esportivos com identidade bem definida, carros grandes de tração traseira, motores de seis cilindros. Como um mercado bem mais volumoso, como o de hoje, não comporta essas opções?

De resto, acredito que todos merecemos melhores condições para curtir essas máquinas de que tanto gostamos, com estradas em boa qualidade, combustíveis confiáveis, mais segurança.

Torço para desejos como esses possam se tornar realidade em 2011. E espero que você, leitor ou leitora que nos prestigia com sua leitura, tenha saúde e felicidade no novo ano.

Menos impostos seriam um bom começo. Entra governo, sai governo e nossa carga tributária continua entre as mais altas do mundo.

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Data de publicação: 18/12/10

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