Um
ótimo ano para a indústria e bom para o consumidor de automóveis em
geral: assim pode ser resumido 2010 na opinião deste editor.
Ótimo para a indústria, como se sabe, pelos resultados obtidos na
produção e nas vendas. O total acumulado até novembro indicava 3,36
milhões de veículos fabricados e 3,13 milhões licenciados, o que
permite esperar que o ano termine próximo a 3,6 e 3,4 milhões, na
mesma ordem. Diante dos números do ano passado completo (respectivos
3,19 e 3,14 milhões), o que se imagina é que os executivos dos
fabricantes estejam rindo à toa.
E bom para o consumidor em geral por diferentes razões. Primeira,
que nunca esteve tão fácil comprar um veículo por financiamento, com
juros menores e uma economia estabilizada que traz segurança — ou ao
menos sua sensação — na hora de decidir assumir uma compra a
crédito. Isso, claro, explica em grande parte os resultados da
indústria citados no parágrafo anterior.
E segunda, que um mercado aquecido estimula fabricantes e
importadores a fazer mais lançamentos, pois quem fica parado perde o
atrativo diante do consumidor. O próprio ritmo da imprensa
especializada durante 2010, saindo de um evento de apresentação para
entrar em outro, ilustra bem essa situação. Outro exemplo foi o
Salão do Automóvel em São Paulo, em outubro, com recorde de novos
modelos e uma variedade de marcas como nunca se viu.
Com isso, ganhamos opções em muitas categorias e faixas de preço. É
o caso do Amarok, primeiro picape médio da Volkswagen, com recursos
de conforto e segurança inéditos na classe; do novo Uno, que
modernizou a oferta da Fiat na categoria de maior volume de vendas;
do Ford Fusion Hybrid, que inaugurou a propulsão híbrida no segmento
"sub-Mercedes", já que o pioneiro entre os híbridos aqui foi o S 400
da marca alemã; e da minivan Citroën Aircross, bem resolvida em
espaço e suspensão e primeiro nacional a trazer navegador com mapa
integrado ao painel.
Houve ainda o Fiat Bravo, que acompanha o retorno do interesse das
fábricas aos hatches médios; o Peugeot Hoggar, mais uma alternativa
— e das boas — em picape pequeno; o Fiesta mexicano, válida
alternativa ao Honda City entre os sedãs pequenos com jeito de
médios; o Renault Fluence, também com bons atributos em um
concorrido segmento; e o Audi A1, que traz a marca de volta ao
mercado abaixo de R$ 100 mil. Mesmo não beneficiados pelos acordos
comerciais do Mercosul e com o México, chegaram importados a preços
competitivos como os Hyundais IX35 e Sonata, o Chevrolet Malibu, a
Peugeot 3008 e o renovado Kia Sorento.
Lançamentos em segmentos mais altos também foram vários, como
Porsche Cayenne, Audi A8, BMW Série 5 e sua variação Gran Turismo,
Chevrolet Camaro. E não poderia faltar a menção aos chineses, que
desembarcaram com numerosas opções e em rápida evolução técnica e de
estilo, embora ainda carentes de imagem em termos de robustez,
qualidade e assistência técnica.
Ficam duas notas negativas. Uma para o Hyundai Tucson, que ganhou
uma sobrevida no Brasil depois de sair de linha na Coreia do Sul
—
método comum no começo de nossa indústria, que esperávamos ter sido
extinto. E outra para o Chevrolet Montana, em que a atraente
primeira geração deu lugar a um modelo de aparência um tanto
discutível (para usar um termo ameno) e com retrocessos em
suspensão, acabamento e posição do motorista. |
![Fabrício Samahá, editor](../carros/outros2/fabricio-5m.jpg) |
O que faltou
Diante desse cenário, o que o Papai Noel poderia colocar em
nossas meias na noite de Natal para desfrutarmos em 2011?
Menos impostos, sem dúvida, seriam um bom começo. Entra governo, sai
governo e nossa carga tributária continua entre as mais altas do
mundo, uma das razões para pagarmos tão caro pelos automóveis, mesmo
quando eles são iguais ou até inferiores aos vendidos em mercados
não muito mais desenvolvidos, como o argentino e o mexicano. Digo
"uma das razões" porque já debatemos o assunto o suficiente para
saber que essa não é a única: as margens de lucro de fabricantes e
importadores certamente andam bem altas por aqui, a ponto de que as
unidades brasileiras ajudam a sustentar as matrizes em dificuldades
no exterior.
Tem-se aí uma equação difícil de resolver: menos impostos levariam o
mercado a se aquecer ainda mais — como já ocorreu com pequenas
reduções da ordem de 5% — e ajudariam a manter os preços lá em cima.
Ficar como está, todavia, é um desrespeito ao povo brasileiro, que
tem de trabalhar muito mais para poder comprar o mesmo carro... ou
um inferior.
Para quem — como nós do Best Cars e, certamente, grande parte
de vocês que nos leem — é entusiasta por automóveis, o bom velhinho
bem poderia trazer mais opções de carros que nos fizessem acelerar o
coração. Eles já existem, mas raramente estão ao alcance financeiro
da maioria de nós. No passado tivemos conversíveis nacionais,
esportivos com identidade bem definida, carros grandes de tração
traseira, motores de seis cilindros. Como um mercado bem mais
volumoso, como o de hoje, não comporta essas opções?
De resto, acredito que todos merecemos melhores condições para
curtir essas máquinas de que tanto gostamos, com estradas em boa
qualidade, combustíveis confiáveis, mais segurança.
Torço para desejos como esses possam se tornar realidade em 2011. E
espero que você, leitor ou leitora que nos prestigia com sua
leitura, tenha saúde e felicidade no novo ano. |
Menos impostos
seriam um bom começo. Entra governo, sai governo e nossa carga
tributária continua entre as mais altas do mundo. |