Onde batem os melhores corações

Como eu faria a seleção dos 10 melhores motores em carros
nacionais e importados, nos moldes da revista norte-americana

por Fabrício Samahá

Existe nos Estados Unidos desde 1994 uma eleição dos 10 melhores motores disponíveis no mercado, realizada pelos editores da revista Ward's AutoWorld e que, na última edição, estabeleceu o limite de preço de US$ 54 mil para os veículos concorrentes. Embora meus critérios para avaliar um motor possam não ser os mesmos da revista, imaginei que seria interessante apresentar ao leitor meus votos para os 10 melhores motores disponíveis no Brasil, em carros nacionais ou importados, considerando — é evidente — apenas os modelos que passaram por minha avaliação.

O limite de US$ 54 mil da Ward's corresponde hoje a R$ 95 mil, valor que está muito longe de comprar aqui os mesmos carros que lá. Nos EUA isso paga, por exemplo, um esportivo Audi S4 com compressor e 333 cv ou um BMW 335d a diesel com dois turbos — aliás, dois dos vencedores da última edição do prêmio. Embora fosse preciso mais que triplicar o valor para alcançar modelos semelhantes a esses no Brasil, entendo que a lista teria mais interesse se ficasse restrita a carros mais próximos da realidade da maioria. Pensei em manter os R$ 95 mil, mas isso deixaria de fora quase todos os motores de carros importados que eu gostaria de citar. Assim, aumentei a margem em 20%, passando ao limite de R$ 115 mil. Vamos ver, em ordem alfabética pelo fabricante, quem se saiu melhor.

> Audi, 2,0 litros, turbo (A3): disponível apenas no A3 Sport dentro de nosso limite de preço, essa unidade com injeção direta, potência de 200 cv e torque de 28,5 m.kgf desmente qualquer parentesco que se possa imaginar com o antigo e áspero AP-2000 do Santana. Gira suave e, com a perfeita calibração eletrônica do turbo, fornece alto torque desde baixas rotações como 2.000 rpm.

> BMW, 2,0 litros (118i): a única versão da marca de Munique abaixo do valor máximo que estabeleci tem potência e torque modestos (136 cv e 18,4 m.kgf, menos que em motores dessa cilindrada feitos por fabricantes menos prestigiados), mas concentra elevada tecnologia, como variação dos tempos de válvulas de admissão e escapamento e o pioneiro sistema Valvetronic, que se refletem em consumo moderado e certamente em baixas emissões. Mais do que isso, cativa pela maciez de funcionamento que convida a explorar todo seu potencial.

> Chevrolet, V6, 3,6 litros (Captiva): uma das formas mais acessíveis de ter um bom V6 é com esse utilitário esporte mexicano. E pelo motor vale a pena: a unidade australiana tem concepção moderna, boa dose de tecnologia (variadores de tempo de todas as válvulas e do coletor de admissão), operação suave e farta entrega de potência mesmo em baixa rotação — são 261 cv e 32,9 m.kgf. Nos EUA e na Austrália já existe versão com injeção direta, que deve chegar em breve ao Omega vendido aqui.

> Citroën e Peugeot, 1,6 litro (C3, C4, Xsara Picasso, 207, 307): na faixa de preço que não abrange o bom V6 de 3,0 litros do 407, o melhor motor em um carro de marca francesa no Brasil é hoje esse 1,6. Sem recorrer a alta tecnologia, entrega bons números (113 cv e 15,5 m.kgf com álcool) e tem como destaque a maciez de funcionamento, bem superior à do próprio motor de 2,0 litros da casa. Era meu predileto nessa cilindrada até que aparecesse uma novidade citada abaixo.

Fabrício Samahá, editor

> Honda, 2,0 litros (Civic Si): o 1,8 do Civic tem seus méritos, mas a eliminação do coletor variável na versão flexível o fez perder brilho. Já este 2,0... É o motor mais esportivo que se compra nesta faixa de preço, pois dispensa turbo e mesmo assim atinge potência comparável à do Audi A3: 192 cv, embora com torque bem mais modesto, 19,2 m.kgf. Os números não contam como ele chega lá: quando o comando de válvulas variável em tempo e levantamento entra no modo mais "bravo", por volta de 6.000 rpm, o ronco do motor torna-se encorpado, os giros sobem com vontade e logo pisca a luz-piloto indicando que o limite de giros — 8.400 rpm! — está próximo. Acelerar um Si marcha após marcha, de preferência dentro de um túnel para escutar o motor, é algo que causa dependência.

> Fiat, 1,4 litro, turbo (Punto e Linea T-Jet): o único turbo em carros nacionais desde a extinção do Golf GTI pode não impressionar em potência e torque (152 cv e 21,1 m.kgf), mas cativa pela disposição em todas as faixas de rotação, exceto naquelas bem baixas, onde mostra certa preguiça para acordar. Entrega potência de forma gradual, sem os sobressaltos dos antigos Fiats turbo — Tempra e Marea —, e funciona suave como não se esperaria de um derivado do áspero Fire usado na linha Palio.

> Ford, 1,6 litro (Focus): se o antigo Zetec Rocam prestava bons serviços com metade das válvulas dos principais concorrentes — tinha oito e andava junto com os de 16 das marcas francesas —, o novo Sigma parte para uma proposta diferente. Adota tecnologia atual, com bloco de alumínio e quatro válvulas por cilindro, mas não entrega muito mais potência e torque (116 cv e 16,3 m.kgf com álcool) que o antecessor. O que cativa nele é a forma como faz isso: tem boas respostas em qualquer rotação e gira tão macio que o motorista se sente estimulado a conhecer o limite de giros, a quase 7.000 rpm. Não faria feio sob o capô de um BMW. Desbancou o similar da Peugeot-Citroën como meu preferido na classe.

> Ford, 2,0 e 2,5 litros (Focus e Fusion): as duas versões da família Duratec mostram os mesmos atributos, como boa distribuição de torque e operação suave em qualquer rotação. O primeiro fornece 148 cv e 19,5 m.kgf com álcool; o segundo, 173 cv e 22,9 m.kgf com gasolina, pois não é flexível. Apenas o 2,5 traz variação de tempo de válvulas, mas ambos se destacam em suas classes. Pena que o 2,0 pareça menos brilhante no Focus de segunda geração: no anterior, bem mais leve, seu desempenho surpreendia.

> Ford, V6, 3,0 litros (Fusion): a preço menor que alguns oponentes de quatro cilindros, esse mexicano coloca 243 cv e 30,8 m.kgf à disposição do pé direito com uma entrega muito satisfatória. O V6 dotado de variação do tempo de válvulas gosta de girar e o faz com maciez. Poderia ter melhor resposta em baixa rotação, mas isso não tira seu direito de estar na lista.

> Volkswagen, 2,5 litros (Jetta): meu motor predileto na linha VW, o 2,0 de quatro cilindros com injeção direta — hoje só oferecido aqui em versão turbo —, ultrapassa o limite de preço quando aplicado a Passat, Tiguan ou Eos, mas está citado acima pelo Audi A3. Já o cinco-cilindros do Jetta não decepciona: entrega 170 cv e 24,5 m.kgf, funciona com suavidade e tem um ronco esportivo em baixa e em alta rotação que cativa o entusiasta. Há quem diga que seu projeto tem relação com o do V10 do Lamborghini Gallardo, só que com cilindros (e cilindrada) pela metade... Mesmo que seja mito, a unidade do sedã mexicano é satisfação garantida.

O ronco do motor torna-se encorpado, os giros sobem com vontade. Acelerar um Si marcha após marcha, de preferência dentro de um túnel para escutar o motor, é algo que causa dependência.

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Data de publicação: 10/4/10

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