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			Com grande atraso em relação ao mundo desenvolvido — causado por uma 
			legislação ultrapassada que demorou a ser revista —, o sistema de 
			navegação por satélite afinal faz parte do cotidiano de milhares de 
			brasileiros. Ninguém mais estranha quando vê a seu redor, no 
			trânsito, carros com a pequena tela de exibição de mapa presa ao 
			para-brisa.
 Atribui-se à fábrica de aparelhos eletrônicos Alpine, em 1981, e à 
			Honda dois anos depois a criação dos primeiros navegadores para 
			automóveis, que na época não usavam o GPS — sigla em inglês para 
			sistema de posicionamento global — porque ele simplesmente ainda não 
			fora inventado. Foi só na Guerra do Golfo, em 1990, que os Estados 
			Unidos colocaram em uso o sistema de localização baseado em 
			satélites, mais tarde oferecido para aplicações civis. Navegadores 
			automotivos por GPS foram usados pela primeira vez por um fabricante 
			em 1995 com o sistema Guidestar da Oldsmobile, divisão já extinta da 
			General Motors norte-americana.
 
 Para quem nunca viu um navegador em funcionamento, seu uso é 
			simples: digita-se o endereço desejado ou se escolhe um ponto já 
			armazenado na memória, seja pelo usuário, seja pelo fornecedor dos 
			mapas digitais. O aparelho, por meio de contato com os satélites que 
			orbitam em torno da Terra (são 24, dos quais seis ou mais estão 
			sempre acessíveis de qualquer ponto do planeta), obtém sua posição e 
			a localiza em seu mapa digital. Então é traçada uma rota até o ponto 
			de destino desejado, que em geral pode ser a mais curta ou a mais 
			rápida (que prioriza vias de maior fluxo), conforme a opção do 
			usuário. A partir daí, o navegador orienta o motorista sobre todas 
			as conversões a ser feitas na rota e acompanha seu deslocamento em 
			tempo integral. Se o usuário deixar passar uma esquina a ser 
			dobrada, por exemplo, o aparelho calcula a nova rota e o orienta 
			para retomar o caminho.
 
 É fácil perceber, portanto, como o navegador abre novas 
			possibilidades. Não se trata apenas de saber sua localização ou de 
			traçar um caminho entre dois pontos conhecidos — é justamente a 
			associação dessas duas tarefas, feita em instantes e com grande 
			facilidade de uso, o trunfo do dispositivo. Com isso, torna-se 
			possível elaborar serviços de orientação de trânsito em tempo real, 
			como já existe em outros países: por meio de acesso a informações 
			sobre pontos congestionados, o navegador pode traçar caminhos 
			alternativos mais livres.
 
 Sistemas de assistência, como o OnStar vigente nos EUA e no Canadá, 
			também usam GPS para localizar o veículo e prestar diversos 
			serviços, como o envio de socorro em caso de acidente. Sem falar em 
			utilidades já comuns no mercado nacional, como a indicação dos 
			pontos de fiscalização de velocidade com radar fixo. Naturalmente, 
			além dos aparelhos feitos para esse fim, a navegação pode ser usada 
			também em celulares, em computadores portáteis e... sabe-se lá onde 
			mais a convergência digital ainda vai colocá-la.
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			No BrasilEmbora usado por milhões ao redor do mundo, o navegador ficou 
			proibido por aqui até 2007, por conta de uma absurda resolução do 
			Conselho Nacional de Trânsito (Contran) que impedia qualquer 
			exibição de imagens — no caso o mapa de orientação — com o veículo 
			em movimento, como se esse fosse um mero item de entretenimento e 
			não um instrumento de grande utilidade. Só com a alteração da norma 
			é que o aparelho começou a ganhar espaço e a se tornar mais popular.
 
 De início oferecido por valores na faixa de R$ 1.500 a R$ 2.000, o 
			navegador — como acontece com qualquer eletrônico, de computadores a 
			celulares — despencou de preço à medida que aumentou o volume de 
			vendas, o que também acelerou o custeio da produção dos mapas 
			digitais. Hoje se encontram aparelhos portáteis de várias marcas por 
			menos de R$ 400 (veja 
			opções no Shopping Best Cars), mapas incluídos. Contudo, 
			está demorando para termos o que nos países de vanguarda é habitual 
			há anos: sistemas integrados ao painel do veículo.
 
 A Fiat oferece um navegador como opcional no Linea e no Punto T-Jet, 
			mas é um dispositivo incompleto, que não exibe mapa no mostrador — 
			apenas orienta, por voz e por ícones, quais as próximas conversões. 
			Além disso, por não haver tela sensível ao toque como nos aparelhos 
			portáteis, inserir um novo endereço é uma operação lenta e 
			trabalhosa, em que o usuário deve percorrer o alfabeto com teclas de 
			avançar e retroceder, letra por letra. Estive com alguns desses 
			carros para avaliação e só usei o navegador o suficiente para 
			analisar sua eficiência — depois voltei a meu velho e bom modelo 
			portátil.
 
 O aparelho não integrado tem vantagens óbvias como poder ser usado 
			em diferentes veículos (caso de, havendo um só na família, ser 
			aplicado ao carro que for usado em percurso fora do rotina naquele 
			dia) e retirado do veículo ao estacionar, como se fazia no passado 
			com os inconvenientes rádios/toca-fitas "de gaveta". No entanto, sua 
			operação nunca será tão prática quanto a de um navegador incorporado 
			ao painel em posição definida pelo fabricante, além das questões 
			estética e de segurança passiva — 
			conforme o local de montagem e a forma de fixação, o aparelho pode 
			se tornar um objeto contundente em caso de colisão.
 
 Claro, sempre haverá quem seja contra o navegador. Manuseá-lo 
			enquanto se dirige — como digitar um número no celular ou mesmo 
			ajustar o sistema de áudio — pode de fato levar a riscos, sendo 
			recomendado parar em local seguro ou, se houver um passageiro, 
			entregar-lhe a tarefa quando se está em movimento. Há também casos 
			de condutores que, seguindo cegamente as orientações do aparelho, 
			entram em vias pela contramão ou fazem conversões proibidas, 
			sobretudo quando seu mapa não está atualizado para recentes 
			alterações de tráfego.
 
 Alguns desses episódios se tornam famosos, como a mulher cujo Clio 
			foi colhido por um trem no País de Gales em 2007. Depois que 
			supostamente o GPS a orientou a seguir por um caminho não iluminado, 
			Paula Ceely cruzou uma porteira metálica e, quando saiu do carro 
			para fechá-la, ouviu a buzina do trem que arrastaria seu Renault por 
			800 metros até parar. Como se vê, o auxílio eletrônico não isenta o 
			motorista de julgar onde, quando e como movimentar seu carro.
 
 O importante é que, entre vantagens e riscos, o saldo é claramente 
			positivo para o navegador. Bem usado, ele permite ganhar tempo nos 
			deslocamentos, encontrar alternativas para uma via congestionada e 
			reduzir em muito a chance de se perder. De quebra, ainda evita a 
			conhecida — e desgastante — situação em que o marido "tem certeza" 
			de que sabe o caminho e o casal acaba perdido a caminho de um 
			casamento, apesar da insistência da esposa para que pedissem 
			informação a alguém...
 
 
 
 P.S.: Ao escolher o seu, confira também o custo das atualizações 
			de mapas que terão de ser feitas no futuro. Em alguns casos, como o 
			do modelo que tenho, o custo supera 30% do valor de um aparelho novo 
			de outra marca.
 | Por meio de 
			acesso a informações sobre pontos congestionados, o navegador pode 
			traçar caminhos alternativos. Sistemas de assistência também usam 
			GPS para diversos serviços. |