Mesmo sem ter ainda revelado sua versão definitiva — mostrou apenas
uma conceitual, que apareceu até no
Salão de São Paulo do ano passado —, a Volkswagen anunciou o nome de
seu picape médio, a ser fabricado na Argentina e vendido em vários
mercados emergentes, entre eles o Brasil: Amarok, que significa lobo
no idioma dos inuítes, povo de esquimós indígenas que vive na
Groenlândia, no Alasca e no Canadá. Conta a VW que, "para os inuítes,
o lobo representa o rei da vida selvagem e impressiona por sua força
e robustez, sua resistência e sua superioridade".
É difícil saber como os marqueteiros do fabricante alemão chegaram à
conclusão de que tal nome, tão estranho e que tão pouco significa
aqui na América do Sul, seria o mais adequado. Talvez o objetivo
tenha sido estabelecer uma ligação com os utilitários esporte Tiguan
(nome que mescla tigre e iguana) e Touareg (tuaregue, povo nômade do
deserto do Saara). Ou, quem sabe, esteja realmente difícil encontrar
bons nomes para veículos depois de mais de 120 anos da criação do
automóvel.
Sou levado a acreditar mais na segunda hipótese, pelo que tem sido
apresentado nos últimos tempos. Exemplo claro é Sandero: o que a
Renault pretendia com esse nome tão estranho e sem significado?
Sendero — com "e" — significa caminho, trilha em espanhol, mas
talvez ficasse muito forte a lembrança de Sendero Luminoso, o grupo
terrorista peruano. Se a intenção foi mesmo associar Sandero a
sendero, resta saber se a troca da letra afasta o carro dessa
infeliz referência.
Alguns anos antes houve os casos de Meriva e Zafira, na Opel alemã e
na Chevrolet brasileira. O Google não aponta nenhum significado para
o primeiro, enquanto o segundo denomina apenas — além da minivan —
uma atriz húngara de poucos pudores, informa o mecanismo de
pesquisa... Fico me perguntando: se nada significam e, a meu ver,
estão longe de ser nomes bonitos, por que a GM os teria escolhido? O
mesmo vale para o Sentra e o Tiida da Nissan (Versa, como o segundo
se chama em alguns mercados, ao menos teria clara ligação com
versatilidade) e o Picanto da Kia, tão propício a piadas.
Os sul-coreanos, aliás, são mestres na arte de usar nomes estranhos.
Logo em sua estreia por aqui, no começo dos anos 90, a Kia trouxe o
furgão Besta. A publicidade explicava que o ideia era "Best (o
melhor) da série A". Ah, bom... E alegava que o termo resultante não
era de todo mau pois lembrava um animal apto ao trabalho, tanto
quanto o veículo. Pode ser, mas vi uma ou outra com adesivos
encobrindo o nome até que este caísse no conhecimento popular.
Depois vieram o Espero e o Nubira da Daewoo, o Sephia e o Opirus da
mesma Kia e o Azera da Hyundai, que vem de adzera, uma língua falada
em Papua Nova Guiné. Que nome nobre para um sedã de luxo... Ao menos
o Kia Credus foi rebatizado aqui para Clarus. |
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Gerados em computador
Há denominações que não têm significado porque foram definidas em
computador, como Lexus — que me transmite requinte e imponência — e
Jetta. Usado pela Volkswagen alemã há muito mais tempo do que no
Brasil, desde a primeira versão de três volumes do Golf (1980), o
nome tem uma estranha pronúncia correta ("iéta") e requer muita
boa-vontade para ser associado a luxo, esportividade ou qualquer
outro atributo do modelo. De qualquer forma, o batismo de seu
antecessor (Bora) e o que ele tem na Argentina (Vento) não me
parecem muito melhores.
Outros nomes podem até ter origem interessante, mas soam estranhos
em alguns idiomas. Há casos clássicos como o do Ford Pinto
norte-americano, que certamente não seria vendido assim no Brasil, e
o do Mitsubishi Pajero, que em países de língua espanhola se chama
Montero (o nome original é uma gíria nesse idioma para alguém que se
masturba). Sorento (vila no Estado norte-americano de Illinois),
Santa Fe (capital do estado do Novo México, também nos EUA) e até
Chana (comuna francesa na região de Ródano-Alpes) podem ter seu
charme em outros países, mas não aqui — sobretudo o último, por
motivos óbvios. E Verona, a cidade italiana de Romeu e Julieta, não
impede a alusão a uma Vera pouco feminina, como sugeriu um
jornalista na apresentação do modelo da Ford em 1989.
Às vezes o problema está em outro produto que usa a mesma marca. O
Kadett quase se chamou Astra por aqui (já tinha tal nome na versão
britânica da Vauxhall), até que a GM descobriu que se chamava assim
uma empresa de acessórios sanitários. Por algum motivo, a associação
com tampas de privada não foi mais considerada obstáculo quando o
Astra belga foi importado (o nome Kadett não mais era usado na
Europa), em 1994, e quando a geração seguinte ganhou produção
nacional, quatro anos depois. Antes, a GM havia descartado o nome
Parati para a perua Chevette, lançada em 1980 como Marajó, pois em
pesquisa houve quem o relacionasse a pinga. Mas o batismo foi
adotado dois anos depois pela VW em uma concorrente — que teve
cotado o nome Angra, abandonado pela possível associação com a usina
nuclear, com algo que pudesse explodir.
O fato é que acabamos acostumados a nomes estranhos, sobretudo os
que chegam aqui estampados em modelos de sucesso mundo afora, como
Corolla (a coroa de uma flor, em italiano). Se o picape da VW se
chamar mesmo Amarok no Brasil, é provável que em alguns anos não
haja mais quem torça o nariz para ele. E se, em último caso, a
rejeição for tamanha que acabe por prejudicar o êxito do utilitário
e leve a marca a um novo batismo, ainda terá servido para ensinar
aos brasileiros um pouco do idioma inuíte. |
Outros nomes podem até ter origem interessante, mas soam estranhos
em alguns idiomas. Há casos clássicos como o do Ford Pinto e o do
Mitsubishi Pajero. |