Sem preconceitos

Câmbios automatizados e automáticos mais eficientes
eliminam a rejeição de quem não abdica do manual

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorNão faz muito tempo, câmbio automático era coisa para uma pequena minoria, tanto aqui quanto no mercado europeu (o japonês e o americano, por outro lado, sempre apreciaram essa comodidade). Seus críticos argumentavam que se perdia muito em desempenho e economia, que as caixas eram de cara e complexa manutenção e, até mesmo, que não abriam mão do controle sobre as trocas de marcha. Por tudo isso, vender um carro usado com esse opcional era mais difícil e implicava maior desvalorização.

Hoje o quadro é outro. Parte dos argumentos ainda tem validade, mas uma boa parcela de brasileiros se convenceu — talvez por cansaço da perna esquerda no pedal de embreagem, nos congestionamentos do dia-a-dia — de que o automático traz mais benefícios que desvantagens. As caixas estão bem melhores com o advento da eletrônica, há cada vez mais marchas (seis até mesmo no Golf nacional, sete em modelos da Mercedes-Benz, oito no GS e no LS da Lexus) e operação manual seqüencial em muitos casos. Claro que sua participação em vendas ainda é modesta no mercado em geral, por ser uma opção cara e restrita a alguns modelos e versões, mas em certas linhas o automático já é majoritário — e, naturalmente, é o único oferecido na maioria dos carros de luxo.

Difícil dizer quem mudou essa imagem no Brasil, mas é certo que as japonesas Honda e Toyota tiveram importante participação com suas caixas simples, robustas, eficientes no consumo e de bom funcionamento. A primeira tem ainda os méritos de trazer à produção nacional o câmbio de variação contínua (CVT), no Fit, e de adotar no Civic EXS um excelente automático de cinco marchas com operação manual por pás junto ao volante. Quem ainda tiver resistência a esse tipo de câmbio, depois de dirigi-lo, deveria ser encaminhado a tratamento psiquiátrico.

E agora chega a era dos manuais automatizados, com os lançamentos da Meriva Easytronic, em novembro, e do Stilo Dualogic, ainda este mês. Antes exclusivo de alguns importados, esse tipo de câmbio promete o melhor de dois mundos: de um lado, oferece a comodidade das trocas automáticas e dispensa o pedal de embreagem; de outro, mantém o controle das marchas pelo motorista e não prejudica desempenho e consumo. De resto, custa menos que um automático tradicional e traz a expectativa de reparação mais simples e barata, pois na essência é uma caixa manual, só que operada por sistema robotizado.

O que se espera, para que a novidade não tenha o mesmo fim da embreagem automática (que equipou Palio, Corsa e Mercedes Classe A e desapareceu do mercado), é que haja uma eficaz divulgação das diferenças entre esse câmbio e o automático tradicional. Ao manter a aceleração enquanto a caixa faz mudanças ascendentes, por exemplo, produz-se certo tranco. O correto é "pedir" a troca ao câmbio aliviando o acelerador. E reter o carro imóvel em subida apenas pelo acelerador, sem frear, causa desgaste prematuro da embreagem, o que não acontece em uma caixa automática — outro aspecto a ser bem explicado ao usuário, sob risco de danificar um elemento caro que o fabricante não substituirá em garantia.

São pontos importantes, mas que não invalidam a boa notícia de termos essa conveniência estendida a mais carros — e que logo poderão ser até os de 1,0 litro, por não haver perda de potência. Como já aconteceu com ar-condicionado, direção assistida e quatro portas, é possível que em alguns anos o automático e seus similares conquistem a preferência da maioria, livres de velhos preconceitos.



P.S.: O Best Cars retrata-se com o site Autoestrada em relação ao comentário feito neste espaço, em 24/12, sobre matéria do novo Fiat Stilo. Houve equívoco de nossa fonte quanto à suposta presença do editor do site ao evento da Fiat. Portanto, o Autoestrada deixa de estar submetido ao embargo de informação pelo fabricante.

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Data de publicação: 12/1/08

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