Em 1972, ao lançar uma
versão mais despojada de seu modelo Dart cupê — a SE —, a Chrysler
brasileira saiu-se com um interessante mote publicitário: "O Dodge
para quem não quer passar dos 30". Era um trocadilho que associava seu
menor preço (logo abaixo de 30 mil cruzeiros) à proposta jovial do
acabamento, com amplo uso de preto, menos cromados e um revestimento
interno nada discreto. Aquele, portanto, também seria o Dodge para
quem gostaria de ter menos de 30 anos, mesmo que já tivesse maior
idade.
Embora já tenha superado as 30 primaveras (fiz 31 anos no mês
passado), eu pretendia não "passar dos 30" (mil reais, no caso) quando
decidi há algum tempo que era hora de comprar um carro
zero-quilômetro. Havia equipamentos que considerava essenciais:
ar-condicionado, direção assistida, controle elétrico de vidros
dianteiros e travas. Não precisava de muito espaço interno ou para
bagagem (ainda não tenho filhos) ou de alta potência, mas queria a
conveniência das quatro portas e não aceitaria nada de muito baixo
desempenho, com que eu precisasse "brigar" para acompanhar o tráfego.
Escolher o automóvel ideal, para mim, nunca foi fácil e vem se
tornando mais complicado. Quanto mais informações se tem — e em meu
caso muitas delas vêm da própria experiência das avaliações para o
Best Cars —, mais elementos são levados em conta. Se isso parece
uma vantagem, já que reduz o risco de comprar mal e se arrepender, na
verdade tem-me feito passar muito tempo, nas últimas semanas, pensando
em detalhes que passam longe da análise da maioria dos compradores.
Defini que o ideal seria um carro pequeno com motor entre 1,4 e 1,8
litro. Um 1,0 talvez atendesse ao uso previsto, mas hoje os principais
modelos dessa classe são pesados demais para ter desenvoltura
razoável. A exceção fica para os menores, como o Ka (de apenas três
portas e quatro lugares), e os mais despojados, como Mille, Celta, Gol
e Palio Fire. Sobre os três últimos, ao aplicar os itens desejados
concluí que, apesar de toda a simplicidade, ficam próximos em preço a
modelos mais atuais e bem-acabados.
Dos demais pequenos, o Peugeot 206 foi descartado pelo custo do
seguro. O Fiesta (novo) desagrada pelo acabamento e pela impressão de
qualidade, reforçada pelas numerosas reclamações em que o Canal
Direto vem intercedendo. O Fox, ao contrário do que supõe a
Volkswagen, mais me incomoda que me atrai pela solução de teto alto. O
Corsa 1,8 tem preço de carro médio e o 1,0 é fraquíssimo, assim como
Fox e Fiesta na mesma versão. Polo e Fit não entram na faixa em que
procuro. O Clio me parece um tanto defasado, mesma razão que elimina
qualquer chance de Classic, Fiesta Street e do veterano Mille. E o
Palio, que parecia uma válida opção, será precocemente remodelado no
segundo semestre — não me agrada comprar um carro zero que em poucos
meses estará superado.
Em meio a tudo isso, a decepção: com os equipamentos e características
que julgo necessários, não existe mais o carro de 30 mil reais — faixa
em que, até então, eu acreditava que encontraria uma boa opção. E,
mesmo em torno de 35 mil, ainda não se leva para casa um automóvel que
atenda a certos requisitos, como o de ter acabamento condizente com
esse valor, bom desempenho geral e atualidade de projeto.
Para ver satisfeitos tais anseios, terei de admitir que a vida sobre
rodas começa aos 40... mil reais. Sou exigente demais, ou há mesmo
algo de errado no mercado? |