Começa aos 40

Do insucesso na escolha de um novo carro, a conclusão: não
existem mais compras satisfatórias na faixa de R$ 30 mil

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorEm 1972, ao lançar uma versão mais despojada de seu modelo Dart cupê — a SE —, a Chrysler brasileira saiu-se com um interessante mote publicitário: "O Dodge para quem não quer passar dos 30". Era um trocadilho que associava seu menor preço (logo abaixo de 30 mil cruzeiros) à proposta jovial do acabamento, com amplo uso de preto, menos cromados e um revestimento interno nada discreto. Aquele, portanto, também seria o Dodge para quem gostaria de ter menos de 30 anos, mesmo que já tivesse maior idade.

Embora já tenha superado as 30 primaveras (fiz 31 anos no mês passado), eu pretendia não "passar dos 30" (mil reais, no caso) quando decidi há algum tempo que era hora de comprar um carro zero-quilômetro. Havia equipamentos que considerava essenciais: ar-condicionado, direção assistida, controle elétrico de vidros dianteiros e travas. Não precisava de muito espaço interno ou para bagagem (ainda não tenho filhos) ou de alta potência, mas queria a conveniência das quatro portas e não aceitaria nada de muito baixo desempenho, com que eu precisasse "brigar" para acompanhar o tráfego.

Escolher o automóvel ideal, para mim, nunca foi fácil e vem se tornando mais complicado. Quanto mais informações se tem — e em meu caso muitas delas vêm da própria experiência das avaliações para o Best Cars —, mais elementos são levados em conta. Se isso parece uma vantagem, já que reduz o risco de comprar mal e se arrepender, na verdade tem-me feito passar muito tempo, nas últimas semanas, pensando em detalhes que passam longe da análise da maioria dos compradores.

Defini que o ideal seria um carro pequeno com motor entre 1,4 e 1,8 litro. Um 1,0 talvez atendesse ao uso previsto, mas hoje os principais modelos dessa classe são pesados demais para ter desenvoltura razoável. A exceção fica para os menores, como o Ka (de apenas três portas e quatro lugares), e os mais despojados, como Mille, Celta, Gol e Palio Fire. Sobre os três últimos, ao aplicar os itens desejados concluí que, apesar de toda a simplicidade, ficam próximos em preço a modelos mais atuais e bem-acabados.

Dos demais pequenos, o Peugeot 206 foi descartado pelo custo do seguro. O Fiesta (novo) desagrada pelo acabamento e pela impressão de qualidade, reforçada pelas numerosas reclamações em que o Canal Direto vem intercedendo. O Fox, ao contrário do que supõe a Volkswagen, mais me incomoda que me atrai pela solução de teto alto. O Corsa 1,8 tem preço de carro médio e o 1,0 é fraquíssimo, assim como Fox e Fiesta na mesma versão. Polo e Fit não entram na faixa em que procuro. O Clio me parece um tanto defasado, mesma razão que elimina qualquer chance de Classic, Fiesta Street e do veterano Mille. E o Palio, que parecia uma válida opção, será precocemente remodelado no segundo semestre — não me agrada comprar um carro zero que em poucos meses estará superado.

Em meio a tudo isso, a decepção: com os equipamentos e características que julgo necessários, não existe mais o carro de 30 mil reais — faixa em que, até então, eu acreditava que encontraria uma boa opção. E, mesmo em torno de 35 mil, ainda não se leva para casa um automóvel que atenda a certos requisitos, como o de ter acabamento condizente com esse valor, bom desempenho geral e atualidade de projeto.

Para ver satisfeitos tais anseios, terei de admitir que a vida sobre rodas começa aos 40... mil reais. Sou exigente demais, ou há mesmo algo de errado no mercado?

Atualidades - Página principal - Envie por e-mail

Data de publicação: 27/5/06

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade