De olho no retrovisor

De lançamentos a aumentos de custos, do dólar em baixa
às vendas em alta, o que marcou o ano que termina

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorA cada ano que termina, é sempre interessante fazer um retrospecto do que aconteceu de melhor e de pior no período. No caso do BCWS, essa visão só poderia estar vinculada ao mundo do automóvel, a razão de estarmos juntos aqui neste bate-papo quinzenal. Assim, dedico o último editorial do ano a uma análise do que 2005 representou para quem tem nos carros uma paixão.

Foi um ano razoável em lançamentos — para quem já esqueceu, em 2004 nenhum carro inteiramente novo foi lançado pela indústria local. Entre nacionais (o que inclui argentinos) chegaram o novo Vectra, a Idea, o picape e o utilitário esporte da linha Hilux. Vieram também motores com injeção eletrônica nos picapes a diesel, algumas renovações de estilo (como o Gol "Geração 4", que de nova geração nada tem), três opções de "falsos fora-de-estrada" — o mais preparado CrossFox e os pacotes decorativos Trail do Fiesta e Off-Road do Celta. E muitos, muitos modelos com motor flexível em combustível.

Foi o ano da aguardada estréia do Bugatti EB 16/4 Veyron, o megacarro de 1.001 cv e 400 km/h, cuja produção fora anunciada em 2001 e sucessivamente adiada.

Foi um grande ano para a indústria brasileira em produção de veículos, que até novembro acumulava 2,24 milhões de unidades, crescimento de 11% sobre igual período de 2004. Em vendas o resultado foi menos expressivo: 1,53 milhão nos 11 primeiros meses, aumento de 9%. A diferença, como se nota, é que as exportações subiram tremendamente (35%) e atingiram
US$ 10,3 bilhões no mesmo período de 2005.

Foi também, contudo, o ano da choradeira pela queda do dólar. Executivos de tudo o que é fabricante vieram a público lamentar que a cotação em baixa, à média de R$ 2,20, prejudica os planos de exportação. Como assinalamos aqui, parece que eles só esperam um retorno à faixa de R$ 3,00 para subir — e muito — os preços internos alegando pressão do câmbio...

E, mesmo sem o dólar subir, foi um ano de remarcar as tabelas, prática seguida mês após mês pelas produtoras locais. Chega a surpreender que o mercado tenha mantido boa demanda com carros tão caros para o apertado bolso do brasileiro. Em compensação, a queda do dólar trouxe alguns importados para mais perto de certos nacionais. Dá para sonhar com o retorno da competição entre o Brasil e o mundo, que marcou boa parte da década passada e tanto bem fez a nosso mercado.

Foi o ano do estouro do petróleo, que chegou a superar US$ 70 o barril, em agosto, mas está terminando um pouco abaixo dos US$ 60. No início da escalada, em abril de 2004, eram US$ 35. Com tamanho aumento, parece suave a elevação da ordem de 10% aplicada à gasolina vendida aqui — mas como desconsiderar o efeito compensador trazido pelo dólar em baixa? E, afinal de contas, litro de gasolina a mais de R$ 2,50 já é um tanto caro. Os americanos, que em média ganham muito mais que nós, têm feito alvoroço por menos que isso.

Foi, sem dúvida, o ano do carro flexível, cuja participação nas vendas passou de 28% em janeiro (excluindo modelos só a álcool) para 71% em novembro. Mas, confirmando o que sempre dissemos aqui, os produtores de álcool provaram que não merecem confiança e, aproveitando-se do aumento da gasolina, impuseram reajustes extorsivos nos últimos meses — bem mais do que o justificável pela entressafra. Quem comprou um flex pensando em gastar menos tomou um susto: rodar com álcool está deixando de ser compensador até em São Paulo, por tradição um estado com fartura e bom preço. Não é à toa que o combustível vegetal só voltou a dar certo com a flexibilidade — o brasileiro já aprendeu que ficar nas mãos dessa gente não é bom negócio.

Foi ainda o ano da má conservação de estradas, em que o governo federal aplicou para esse fim apenas 16% dos recursos da CIDE-Combustíveis, tributo previsto justamente para isso. Até ponte desabou.

E, para fechar com outro assalto ao bolso do proprietário de veículos, foi o ano do anúncio de um aumento de 43,4% (para automóveis) no DPVAT de 2006, assunto do editorial anterior.

Enfim, 2005 foi um ano de boas e más notícias. Agora que ele chega ao fim, desejamos que 2006 seja melhor para todos nós. Que haja mais novidades para comentarmos, mais razões para comemorarmos e menos para dificultar a vida de quem tem, dirige e curte automóvel.

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Data de publicação: 24/12/05

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