A cada ano que termina,
é sempre interessante fazer um retrospecto do que aconteceu de melhor
e de pior no período. No caso do BCWS, essa visão só poderia
estar vinculada ao mundo do automóvel, a razão de estarmos juntos aqui
neste bate-papo quinzenal. Assim, dedico o último editorial do ano a
uma análise do que 2005 representou para quem tem nos carros uma
paixão.
Foi um ano razoável em lançamentos — para quem já esqueceu, em 2004
nenhum carro inteiramente novo foi lançado pela indústria local. Entre
nacionais (o que inclui argentinos) chegaram o novo Vectra, a Idea, o
picape e o utilitário esporte da linha Hilux. Vieram também motores
com injeção eletrônica nos picapes a diesel, algumas renovações de
estilo (como o Gol "Geração 4", que de nova geração nada tem), três
opções de "falsos fora-de-estrada" — o mais preparado CrossFox e os
pacotes decorativos Trail do Fiesta e Off-Road do Celta. E muitos,
muitos modelos com motor flexível em
combustível.
Foi o ano da aguardada estréia do Bugatti EB 16/4 Veyron, o megacarro
de 1.001 cv e 400 km/h, cuja produção fora anunciada em 2001 e
sucessivamente adiada.
Foi um grande ano para a indústria brasileira em produção de veículos,
que até novembro acumulava 2,24 milhões de unidades, crescimento de
11% sobre igual período de 2004. Em vendas o resultado foi menos
expressivo: 1,53 milhão nos 11 primeiros meses, aumento de 9%. A
diferença, como se nota, é que as exportações subiram tremendamente
(35%) e atingiram
US$ 10,3 bilhões no
mesmo período de 2005.
Foi também, contudo, o ano da choradeira pela queda do dólar.
Executivos de tudo o que é fabricante vieram a público lamentar que a
cotação em baixa, à média de R$ 2,20, prejudica os planos de
exportação. Como assinalamos aqui, parece que eles só esperam um
retorno à faixa de R$ 3,00 para subir — e muito — os preços internos
alegando pressão do câmbio...
E, mesmo sem o dólar subir, foi um ano de remarcar as tabelas, prática
seguida mês após mês pelas produtoras locais. Chega a surpreender que
o mercado tenha mantido boa demanda com carros tão caros para o
apertado bolso do brasileiro. Em compensação, a queda do dólar trouxe
alguns importados para mais perto de certos nacionais. Dá para sonhar
com o retorno da competição entre o Brasil e o mundo, que marcou boa
parte da década passada e tanto bem fez a nosso mercado.
Foi o ano do estouro do petróleo, que chegou a superar US$ 70 o
barril, em agosto, mas está terminando um pouco abaixo dos US$ 60. No
início da escalada, em abril de 2004, eram US$ 35. Com tamanho
aumento, parece suave a elevação da ordem de 10% aplicada à gasolina
vendida aqui — mas como desconsiderar o efeito compensador trazido
pelo dólar em baixa? E, afinal de contas, litro de gasolina a mais de
R$ 2,50 já é um tanto caro. Os americanos, que em média ganham muito
mais que nós, têm feito alvoroço por menos que isso.
Foi, sem dúvida, o ano do carro flexível, cuja participação nas vendas
passou de 28% em janeiro (excluindo modelos só a álcool) para 71% em
novembro. Mas, confirmando o que sempre dissemos aqui, os produtores
de álcool provaram que não merecem confiança e, aproveitando-se do
aumento da gasolina, impuseram reajustes extorsivos nos últimos meses
— bem mais do que o justificável pela entressafra. Quem comprou um
flex pensando em gastar menos tomou um susto: rodar com álcool
está deixando de ser compensador até em São Paulo, por tradição um
estado com fartura e bom preço. Não é à toa que o combustível vegetal
só voltou a dar certo com a flexibilidade — o brasileiro já aprendeu
que ficar nas mãos dessa gente não é bom negócio.
Foi ainda o ano da má conservação de estradas, em que o governo
federal aplicou para esse fim apenas 16% dos recursos da
CIDE-Combustíveis, tributo previsto justamente para isso. Até ponte
desabou.
E, para fechar com outro assalto ao bolso do proprietário de veículos,
foi o ano do anúncio de um aumento de 43,4% (para automóveis) no DPVAT
de 2006, assunto do editorial anterior.
Enfim, 2005 foi um ano de boas e más notícias. Agora que ele chega ao
fim, desejamos que 2006 seja melhor para todos nós. Que haja mais
novidades para comentarmos, mais razões para comemorarmos e menos para
dificultar a vida de quem tem, dirige e curte automóvel. |