Ponha a boca no trombone

Reclamar junto a quem defende o consumidor é o melhor
caminho — como comprova, desde 2001, o Canal Direto

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorNo último domingo (11) o Código de Defesa do Consumidor completou 15 anos desde sua publicação. Por uma infeliz coincidência, na mesma época — na verdade, nas últimas três semanas —, depois de quase 10 anos de assinatura do serviço, eu descobria o que é realmente ser cliente da operadora de telefonia celular Vivo.

A clonagem de minha linha causou-me — até que a empresa admitisse o fato e ressarcisse o consumo indevido — 19 dias de inatividade do serviço e aborrecimentos os mais diversos: atendentes despreparados, respostas divergentes, prazos descumpridos, supervisora que promete e não traz solução. Um festival do mais puro desrespeito, típico de empresas que não se importam em perder clientes descontentes para a concorrência. E, como se sabe, a clonagem é um problema de responsabilidade da operadora, que deveria oferecer um serviço seguro contra esse risco.

Além da certeza de que na próxima compra de celular procurarei uma empresa que respeite o cliente, esse episódio deu-me uma lição: a de que "pôr a boca no trombone" é o melhor caminho para que o consumidor tenha respeitado um mínimo de seus direitos. Isso porque a Vivo só passou a trabalhar em meu problema depois que acionei a seção de defesa do consumidor do jornal O Estado de S. Paulo e a Anatel, a agência governamental que regula as empresas de telecomunicações. Os tardios retornos da operadora mencionaram tratar-se de resposta a essas intermediações. Sem elas, provavelmente estaria ainda no aguardo da primeira análise do caso.

Vindo dos celulares para os automóveis, o que pode fazer o proprietário de um carro em situação semelhante, ao enfrentar problemas que a concessionária não resolve? Infelizmente não existe uma agência que regule a qualidade desses serviços, mas nem por isso o leitor está desamparado nessa condição. É nessa hora que entram as seções de atendimento de órgãos de imprensa como o BCWS, que em 2001 introduziu pioneiramente, entre os sites de automóveis, o Canal Direto.

Nestes mais de quatro anos a seção atendeu a mais de 300 leitores, dos quais 277 casos estão publicados em seu arquivo (os demais ou estão em atendimento ou foram solicitações de manuais de proprietário, que não publicamos). E mostrou que a qualidade do atendimento sofre grandes variações dentro do mercado nacional: enquanto um fabricante (Ford) obteve o índice de satisfação de 48% no universo atendido, vários outros foram considerados insatisfatórios por mais de 90% dos clientes, quando não por todos.

Há dois casos especialmente curiosos. Apesar de nossa insistência pela resposta aos casos encaminhados à assessoria de imprensa, a Fiat já admitiu que — acredite o leitor se puder — sua área de atendimento não considera reclamações enviadas por sites. Isso mesmo, só as recebidas via mídia impressa são atendidas. Se causa espanto tal atavismo em pleno 2005, o pior é perceber que a marca italiana não está sozinha: da Volkswagen, as únicas respostas que recebemos foram no primeiro ano do serviço. Desde 2002 a empresa alemã deixa seus clientes falando sozinhos.

Como se vê, infalível o Canal Direto não é — como qualquer serviço do gênero, aliás. O problema é que não há uma penalidade ao fabricante que prestar mau atendimento, a não ser a exposição dessa falha aos leitores, que passam a ter um importante elemento na escolha de seu próximo carro. Foi para isso que passamos, há alguns dias, a publicar na seção uma tabela com o índice de satisfação por marca: um meio objetivo de mostrar ao consumidor como anda o respeito das empresas por quem tem problemas com um automóvel de sua fabricação. Assim, o leitor pode saber o que o espera antes de fazer o (mau) negócio.

Ao menos enquanto não houver uma "Anaauto", uma agência para exigir melhor atendimento da indústria automobilística, serviços como este são o melhor caminho para buscar a atenção e o respeito que o consumidor merece. Afinal, mesmo que nem toda empresa — inclusive operadoras de celular — demonstre com suas ações, o cliente sempre tem razão.

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Data de publicação: 17/9/05

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