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         No último domingo (11) o 
          Código de Defesa do Consumidor completou 15 anos desde sua publicação. 
          Por uma infeliz coincidência, na mesma época — na verdade, nas últimas três 
          semanas —, depois de quase 10 anos de assinatura do serviço, eu descobria o que é 
          realmente ser cliente da operadora de telefonia celular Vivo. 
 A 
          clonagem de minha linha causou-me — até que a empresa admitisse o fato 
          e ressarcisse o consumo indevido — 19 dias de inatividade do 
          serviço e aborrecimentos os mais diversos: atendentes despreparados, 
          respostas divergentes, prazos descumpridos, supervisora que promete e 
          não traz solução. Um festival do mais puro desrespeito, típico de 
          empresas que não se importam em perder clientes descontentes para a 
          concorrência. E, como se sabe, a clonagem é um problema de 
          responsabilidade da operadora, que deveria oferecer um serviço seguro 
          contra esse risco.
 
 Além da certeza de que na próxima compra de celular procurarei uma 
          empresa que 
          respeite o cliente, esse episódio deu-me uma lição: a de que "pôr a 
          boca no trombone" é o melhor caminho para que o consumidor tenha 
          respeitado um mínimo de seus direitos. Isso porque a Vivo só passou a 
          trabalhar em meu problema depois que acionei a seção de defesa do 
          consumidor do jornal O Estado de S. Paulo e a Anatel, a agência 
          governamental que regula as empresas de telecomunicações. Os tardios 
          retornos da operadora mencionaram tratar-se de resposta a essas 
          intermediações. Sem elas, provavelmente estaria ainda no aguardo da 
          primeira análise do caso.
 
 Vindo dos celulares para os automóveis, o que pode fazer o 
          proprietário de um carro em situação semelhante, ao enfrentar 
          problemas que a concessionária não resolve? Infelizmente não existe 
          uma agência que regule a qualidade desses serviços, mas nem por isso o 
          leitor está desamparado nessa condição. É nessa hora que entram as 
          seções de atendimento de órgãos de imprensa como o BCWS, que em 
          2001 introduziu pioneiramente, entre os sites de automóveis, o 
          Canal Direto.
 
 Nestes mais de quatro anos a seção atendeu a mais de 300 leitores, dos 
          quais 277 casos estão publicados em seu arquivo (os demais ou estão em 
          atendimento ou foram solicitações de manuais de proprietário, que não 
          publicamos). E mostrou que a qualidade do atendimento sofre grandes 
          variações dentro do mercado nacional: enquanto um fabricante (Ford) 
          obteve o índice de satisfação de 48% no universo atendido, vários 
          outros foram considerados insatisfatórios por mais de 90% dos 
          clientes, quando não por todos.
 
 Há dois casos especialmente curiosos. Apesar de nossa insistência pela 
          resposta aos casos encaminhados à assessoria de imprensa, a Fiat já 
          admitiu que — acredite o leitor se puder — sua área de atendimento 
          não considera reclamações enviadas por sites. Isso mesmo, só as 
          recebidas via mídia impressa são atendidas. Se causa espanto tal 
          atavismo em pleno 2005, o pior é perceber que a marca italiana não 
          está sozinha: da Volkswagen, as únicas respostas que recebemos foram 
          no primeiro ano do serviço. Desde 2002 a empresa alemã deixa seus 
          clientes falando sozinhos.
 
 Como se vê, infalível o Canal Direto não é — como qualquer 
          serviço do gênero, aliás. O problema é que não há uma penalidade ao 
          fabricante que prestar mau atendimento, a não ser a exposição dessa 
          falha aos leitores, que passam a ter um importante elemento na escolha 
          de seu próximo carro. Foi para isso que passamos, há alguns dias, a 
          publicar na seção uma tabela com o índice de satisfação por marca: um 
          meio objetivo de mostrar ao consumidor como anda o respeito das 
          empresas por quem tem problemas com um automóvel de sua fabricação. 
          Assim, o leitor pode saber o que o espera antes de fazer o (mau) 
          negócio.
 
 Ao menos enquanto não houver uma "Anaauto", uma agência para exigir 
          melhor atendimento da indústria automobilística, serviços como este 
          são o melhor caminho para buscar a atenção e o respeito que o 
          consumidor merece. Afinal, mesmo que nem toda empresa — inclusive 
          operadoras de celular — demonstre com suas ações, o cliente sempre tem 
          razão.
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