Tem
sido freqüente ver executivos das fábricas de automóveis reclamando,
em coro ou individualmente, que a recente desvalorização do dólar
diante do real tem prejudicado suas exportações, a ponto de trazer
graves prejuízos à atividade industrial. É o que se ouve da Anfavea, a
associação de fabricantes, e das empresas sempre que têm oportunidade,
como nos eventos de lançamento de produtos.
Que um real menos valorizado diante do dólar facilita as exportações,
não há dúvida, pois torna nossos carros mais baratos lá fora. Mas há
um outro lado nessa história: o que acontece com os preços dos carros
vendidos aqui quando o dólar se valoriza?
A resposta é fácil: sobem. Todos nos lembramos de janeiro de 1999,
quando a cotação da moeda americana passou da noite para o dia de R$
1,20 para R$ 1,80, em valores redondos. Parecia o fim dos tempos —
preços reajustados, suspensão da venda de alguns modelos importados,
reclamações gerais de que seria inviável manter a produção de carros
nacionais com alto conteúdo estrangeiro.
O que então parecia alto demais deixaria saudades anos depois, em
2002, quando a turbulência causada pela perspectiva da eleição de Lula
para a presidência elevou o dólar à estratosfera. Quando a cotação
passou pela faixa de R$ 2,50, em meados daquele ano, já se viam
executivos anunciando que as operações da indústria se tornariam
inviáveis se a moeda chegasse a R$ 3,00... Pois alcançou a média de R$
3,80 em outubro, com picos de quase R$ 4,00, e ninguém fechou as
portas por isso.
Hoje de volta à média de R$ 2,50, o dólar que um dia assustou passa a
preocupar por estar... baixo demais. Mas não se engane o leitor: se
subisse a cotação, fosse pelos próprios caminhos da economia mundial
ou por um instrumento qualquer de controle cambial, os aumentos viriam
a reboque.
Foi o que aconteceu anos atrás. Em edição de 5 de junho de 2001, o
jornal O Globo anunciava reajustes de preços da GM e da Fiat,
que as empresas consideravam "necessário para compensar a alta de
custos proveniente das alterações que o câmbio tem apresentado nas
últimas semanas". Pouco mais de um ano depois, em 6 de setembro de
2002, o dólar já havia superado R$ 3,00. O mesmo jornal explicava que,
apesar da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), os
preços não cairiam: "O presidente da Anfavea afirmou que o setor não
tem como absorver novos aumentos de custo derivados do dólar".
Que os fabricantes reclamem da absurda carga tributária que incide
sobre o automóvel no Brasil (tema da última coluna
Questões de Direito), é muito
legítimo. Que lamentem perder espaço em mercados estrangeiros, por
causa de uma alteração do cenário econômico mundial, é um direito
deles. Mas reivindicar medidas governamentais para tentar reerguer a
cotação do dólar, que um dia trouxe tantas perdas para o consumidor
brasileiro, soa como choradeira sem razão. |