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Sim, imagem é tudo

Dos esportivos sem potência aos falsos fora-de-estrada, o
consumidor compra pelo que vê — e pode se decepcionar

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editor

Dentro do que se poderia chamar de "reunião de pauta adaptada à era da internet", eu conversava esta semana com o colunista Bob Sharp, pelo Skype, sobre o tema que ele escolhera para sua coluna Do Banco do Motorista. Definimos que, se ele ficara com o assunto dos carros "aventureiros", este Editorial trataria de algo diferente. Mas não resisti em abordar um tema semelhante, só que com outro enfoque.

Embora possa parecer nova, a mania de "carros de fachada", como Bob bem define na coluna, existe aqui há muito tempo. Lembra-se o leitor dos picapes japoneses — Toyota Hilux e Mazda B-2200, por exemplo — com tração apenas traseira, rodas pequenas e suspensão baixa, que aqui chegaram na década passada? Depois de muitas críticas, os fabricantes passaram a oferecer as versões 4x2 com a mesma altura de rodagem dos 4x4. O maior vão livre não tinha utilidade, dada a inadequação dos veículos ao uso longe do asfalto, mas passava a imagem de veículo robusto, valente. S10 e Ranger, aliás, iniciaram a produção brasileira já com o chassi das versões 4x4, embora o modelo da GM demorasse três anos para ganhar essa versão de fato.

Se o leitor observar, a indústria de motos já trabalha assim há bem mais tempo. Não demorou muito para notar que motos de uso misto, como as pioneiras Yamaha DT 180 e Honda XL 250 R, eram mais usadas na cidade que nas trilhas. Assim, por volta de 1990 já eram lançadas opções com jeito de uso misto, mas dotadas de partida elétrica (sem pedal, um problema no fora-de-estrada), frágeis carenagens e até pára-lama dianteiro junto à roda, como as NX 150/200 e Sahara 350, da Honda, ou a Yamaha Ténéré 600 reestilizada.

Da mesma forma que esses picapes e essas motos transmitiam uma impressão de aventura que não correspondia a suas capacidades, houve muitos automóveis que prometiam uma esportividade incompatível com seu verdadeiro desempenho. Foi assim com a maioria dos chamados "fora-de-série", produzidos em plástico reforçado com fibra-de-vidro sobre a mecânica Volkswagen "a ar", totalmente inadequada a esse propósito. Do famoso Puma aos menos conhecidos, eram todos decepcionantes em potência, a não ser que extensamente modificados.

A própria VW tem em seu currículo um carro esporte morto pelo baixo desempenho. Projetado no Brasil e reconhecido até pelo museu da empresa na Alemanha como uma criação a ser lembrada, o SP2 teve sua sigla traduzida pelo público como "sem potência" e vendeu muito pouco. Se a versão de 1,7 litro já não agradou, a outra — SP1, de 1,6 litro — foi abortada logo no lançamento, para evitar um fiasco ainda maior.

Não poderia faltar uma menção a boa parte dos carros personalizados que se vêem por aí. Mais do que potência, muitos só querem o visual esportivo, chegando a absurdos como aplicar larguíssimos pneus e rodas de 17 pol ou mais a um carro com motor de 1,0 litro. O objetivo, como nos casos anteriores, é transmitir uma impressão, uma imagem — não importa se ela corresponde ao que o veículo oferece na prática.

Contrariando a propaganda do refrigerante, imagem é, sim, tudo para muitos consumidores. É uma pena que, quando a sede aperta, o conteúdo da latinha pode trazer uma grande decepção.

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Data de publicação: 13/5/05

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