É sem dúvida uma das
questões mais discutidas por quem tem ou vai adquirir um automóvel:
compensa comprar um carro zero-quilômetro, ainda que mais simples e
menos potente, ou optar por um usado, que pode contar com mais
equipamentos e motor superior pelo mesmo preço?
A polêmica tem ficado evidente no
Espaço do Leitor do BCWS, onde muitos defendem a compra
do usado e outros a do zero — inclui-se entre estes o colunista Bob
Sharp, que na seção desta edição cita a conhecida máxima de que "a
melhor marca de carro é Novo". Embora pareça ser assunto para um artigo
de serviço, abordo-o aqui porque não é um tema em que se possa apontar
uma solução conclusiva: cada leitor deve pesar os argumentos da forma
que julgar mais adequada.
Os benefícios de optar pelo zero-quilômetro são evidentes. Um carro novo
tende a trazer poucos problemas e manutenções nos primeiros anos,
desfruta-se todo o período de garantia e pode-se escolher versão, cor,
opcionais — pelo menos até certo ponto, já que as concessionárias só
costumam ter para pronta entrega o habitual "prata com ar, direção e
trio elétrico"... Inexistem dores-de-cabeça com o proprietário anterior,
de multas a maus hábitos de uso e manutenção, para não falar nos riscos
de comprar um carro acidentado ou mesmo roubado. Você pode — há quem
aprecie — manter os bancos forrados com plástico... e até escolher o
número da placa.
Só que tudo isso tem preço, e não é pouco. Com a mesma quantia, pode-se
comprar um carro usado com mais equipamentos de conforto e segurança e
motor mais potente que o zero — por exemplo, uma Palio Weekend ELX 1,25
nova, sem opcionais, sai a preço equivalente ao de uma Adventure 1,8
usada 2004.
Enquanto na compra o preço do zero é bem mais alto, essa diferença
diminui bastante após algum tempo. Depois de um ano, aquele comprado
novo pode ter-se depreciado em 20% ou mesmo 25%, e o adquirido com um
ano de uso, apenas 10% ou 12% — os percentuais variam conforme marca,
modelo, versão e estado de conservação, mas a regra é uma perda bem
maior para quem optou pelo zero.
A situação piora para quem escolhe o carro novo com muitos opcionais,
pois na revenda a tendência é que os itens sejam pouco valorizados.
Dentro da mesma ótica, escolher o usado pode trazer vantagens
adicionais, como encontrar um carro dotado de acessórios que se
instalariam no zero — de itens de personalização a um kit de gás natural
—, sem ter de pagar integralmente por eles.
Por tudo isso, sou da opinião de quem o usado merece ser considerado, a
não ser que dinheiro não seja problema e se possa comprar,
zero-quilômetro, o carro que atenda bem a suas necessidades.
A discussão vai longe, e não é fácil fazer mudar de opinião quem já
escolheu um dos caminhos. Mas é bom que seja assim: se todos de repente
pensassem da mesma forma, os usados poderiam ser supervalorizados, de um
lado, ou muito desvalorizados, de outro, com desequilíbrios para todo o
mercado. Ainda não se sabe como revogar a lei da oferta e da procura.
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