O que pode ser pior que
pagar caro pelos combustíveis e ainda ver a Petrobrás anunciar que, tão
logo conclua seus estudos, repassará aos preços os recentes aumentos do
petróleo no mercado mundial?
A resposta: saber que mais da metade da gasolina vendida por aí é
adulterada, com excesso de álcool e/ou mistura de solventes.
A notícia é de estarrecer: 60,9% dos 238 postos analisados na Grande São
Paulo pelo Departamento de Inteligência da Polícia Civil do Estado
vendem gasolina adulterada, veiculou nesta quinta-feira O Estado de
S. Paulo. O volume da pesquisa corresponde a 10% dos
estabelecimentos dessa região metropolitana, amostragem suficiente para
deixar qualquer um preocupado e com a sensação de estar desprotegido
desse verdadeiro crime.
A impressão é de que, no Brasil, quem tem carro é considerado inimigo
público número 1. Não bastasse a obscena carga tributária que as três
esferas de governo nos impõem, da compra do veículo à sua circulação,
ainda temos de suportar esse binômio alto preço—baixa qualidade de
combustíveis por adulteração. E as autoridades, quando consultadas a
respeito, parecem preocupadas apenas com a evasão fiscal, não com os
prejuízos ao bolso do contribuinte.
Há poucos dias vimos um aumento de 14% para o álcool, repetição de uma
história de sobe-e-desce que se tem repetido anualmente. O combustível
vegetal, que para alguns é a salvação da humanidade — talvez salve
apenas as finanças dos usineiros —, torna-se barato em meados do ano, a
ponto de levar muita gente boa a procurar "conversões" que permitam
usufruir um pouco dessa economia.
Desde o ano passado há o fator adicional dos carros
flexíveis em combustível, de cuja
publicidade participa até associação de produtores de álcool. Mas chega
o fim de cada ano e o brasileiro, embora já acostumado, outra vez se
surpreende com a paulada dos aumentos desse produto. O preço atual está
próximo de eliminar sua vantagem no custo por quilômetro em relação à
gasolina, mas há um novo fator à espera.
Em função da recente valorização do petróleo no mercado mundial, a
Petrobrás estuda os aumentos que fará na gasolina e no diesel dentro de
alguns dias. O fato de produzirmos a grande maioria do que consumimos —
e estarmos próximos da auto-suficiência — não importa: o "ouro negro",
como todas as commodities, tem seu preço balizado pelo mercado
internacional. Só que o pessoal de Brasília parece desconhecer que os
brasileiros não ganham em dólar e que os combustíveis já estão caros
demais para nosso padrão salarial.
Na Venezuela, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, não existe
essa vinculação: os preços internos independem do mercado exterior. E,
se por aqui essa dependência não puder ser mudada, por que não reduzir
os pesadíssimos impostos — por volta de 50% da gasolina — para que os
preços finais possam ser mantidos? Ou é preciso explicar aos homens do
Planalto Central como os aumentos dos combustíveis afetam toda a cadeia
produtiva, alimentam a inflação e, por extensão, prejudicam até quem não
tem carro?
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