Em todo salão do
automóvel, mundo afora e aqui, os organizadores reservam para a imprensa
os dois dias que antecedem a abertura oficial. Isso é feito para
facilitar a produção de fotos e imagens, uma vez que o grande público
que comparece à mostra tornaria virtualmente impossíveis esses
trabalhos. É nesses dois dias também que os expositores – fabricantes e
importadores – reúnem os jornalistas para lhes apresentar suas novidades
e comentar o desempenho da empresa, nas chamadas entrevistas coletivas.
Elas são programadas com antecedência e distribuídas por um dia e outro.
Como salão é notícia aqui e em qualquer lugar do mundo, é natural que
leitores, telespectadores, ouvintes e internautas queiram conhecer as
novidades do evento. A ampla divulgação pela mídia que se segue
interessa muito ao organizador e aos patrocinadores, pois atrai
visitantes para os dias normais de funcionamento.
Nesta quarta-feira (20/10), segundo dia de imprensa do 23º. Salão
Internacional do Automóvel de São Paulo, os trabalhos seguiam
normalmente na parte da tarde, quando a organização avisou pela rede de
alto-falantes que todos deveriam deixar o recinto e seguir por
determinada saída. O aviso, dado por volta das 15h30, era por ordem do
serviço de segurança da Presidência da República, que faria no local a
operação de varredura antes que o presidente Lula chegasse ao Salão,
para abertura oficial marcada para as 19h.
Os jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas – brasileiros e estrangeiros
– trabalhavam intensamente, esmerando-se em fazer o melhor trabalho
possível dentro do tempo que lhes restava. Cerca de 30 profissionais
usavam os computadores da sala de imprensa para escrever as matérias e
enviá-las às redações, espalhadas pelo país e no exterior. Uma
entrevista coletiva da Mitsubishi estava em andamento; outra, da
Citroën, constava prevista para logo mais – 16h45 – no programa
distribuído aos jornalistas.
E então começaram os transtornos. As coletivas tiveram de ser abreviadas, com óbvia
desvantagem para esses fabricantes em relação
aos demais. Com o fechamento da circulação pelo pavilhão, profissionais
que estavam em outros setores foram impedidos de chegar ao local das
entrevistas citadas, sendo também prejudicados. Tudo bem mais cedo do que o esperado, já que a
previsão era de que a coletiva da marca francesa fosse
concluída às 17h30.
O Anhembi começou a ser esvaziado. Executivos de fábricas, perplexos,
deixaram os estandes apressados. A sala de imprensa foi rapidamente
evacuada, e os computadores, desligados antes da conclusão de trabalhos.
Jornalistas e expositores foram direcionados para uma
saída que não a habitual, até chegar a uma área externa do pavilhão de
exposições. Lá fora, o vento e uma fraca garoa aumentavam a sensação de
desconforto dos 16° C de uma tarde atípica de outubro.
Ali ficaram, como se fossem um grupo de desclassificados, durante quase
duas horas, até que pudessem voltar – muitos foram embora, indignados. O
acesso dos jornalistas foi então liberado, mas apenas para a sala de
imprensa, que a essa altura estava desprovida de serviços como água e
café. Algum tempo depois foi facultada a circulação pelo evento só aos
cerca de 100 jornalistas que possuíam credenciamento da presidência da
República. Mesmo para esses, horas preciosas haviam sido perdidas em
meio ao injustificável transtorno – o que tornou impossível, por
exemplo, a
atualização do BCWS durante aquele dia.
É fácil imaginar o prejuízo a fabricantes e importadores, ao trabalho
dos jornalistas. Prejuízo ao Salão e à
sua divulgação na mídia, gerado pela desorganização.
Culpa, a princípio, da assessoria de imprensa da Presidência, que tem
obrigação de saber que todo salão do automóvel tem dois dias completos
reservados para a imprensa. Portanto, jamais poderia ter programado a
varredura para aquele horário (15h30), já que não haveria como efetuar a
operação sem interromper a atividade dos jornalistas.
Culpa também do organizador, a Alcântara Machado, nesse negócio há 30
anos e portanto sabedor que os dois dias são usados integralmente pela
imprensa. Faltou informação aos jornalistas sobre o processo de
varredura, faltaram condições apropriadas para a espera dos
profissionais durante o período de acesso impedido ao pavilhão.
Por fim, culpa também da associação de fabricantes de veículos
(Anfavea), do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para
Veículos Automotores (Sindipeças) e da associação dos importadores (Abeiva),
que como patrocinadores da festa maior do automóvel deveriam ter-se
certificado de que nada disso fosse acontecer.
O 23º. Salão Internacional do Automóvel de São Paulo passa à história
como um espetáculo inesquecível, mas de desorganização inicial. Que
sirva de lição para o futuro.
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