Mais que a própria
abertura das importações em 1990, parece que o fato mais marcante da
década passada para o mercado brasileiro, em uma análise daqui a algumas
décadas, terá sido a vinda de novos fabricantes de automóveis para o
solo nacional, efetivada na segunda metade daquele decênio.
A constatação me ocorreu ao reunir, para o artigo de
Segredos de Fábrica publicado há uma
semana, os lançamentos que as francesas Citroën, Peugeot e Renault
preparam para este ano e os próximos. Enquanto as "quatro grandes"
(Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen) parecem ter tirado o pé do
acelerador, no que se refere à atualização de modelos com seus similares
nos países desenvolvidos, as newcomers ou recém-chegadas — marcas
que passaram a fabricar carros aqui nos últimos 10 anos — permanecem
atentas às novidades das matrizes e trarão várias delas para produzir
aqui ou na Argentina.
Não são só as francesas: o mérito se estende às nipônicas Honda e
Toyota, que têm por método manter seus modelos atualizados em todos os
mercados onde atuam. O objetivo é proporcionar economia de escala, já
que os carros produzidos aqui, no Japão ou em qualquer outro país podem
compartilhar muitos componentes, que são fabricados em grande volume
onde sair mais barato. Deixar um Civic ou Corolla desatualizado por
três, quatro anos foge à regra e não compensa para quem trabalha dessa
forma. Ainda bem.
É verdade que o padrão de equipamentos e a variedade de oferta dos
automóveis, mesmo os dessas marcas, não é o mesmo aqui e lá fora. Também
é fato que sua participação no mercado ainda não é majoritária — as
quatro grandes permanecem nos primeiros lugares, embora a Ford tenha
tido, em outros tempos, sua quarta posição ameaçada pelo crescimento da
Renault.
Mas não resta dúvida que a atuação dessas empresas fez, faz e ainda fará
muito bem ao mercado brasileiro. As marcas mais tradicionais têm
permitido uma incômoda estagnação de alguns modelos, como Vectra, S10/Blazer,
Golf, A3 e Marea, que não terão suas novas gerações produzidas aqui
(apenas o Fiat não a possui lá fora, mas poderia ser desenvolvida a
partir do Stilo). As francesas e japonesas, ainda que tenham veículos na
mesma situação de defasagem — como a Scénic —, demonstram mais agilidade
e empenho em manter suas linhas atualizadas.
E os importados? Representam cada vez menos, tanto em participação no
mercado quanto em referência de comparação, já que a desvalorização do
real levou os preços a patamares inviáveis, o que é uma pena. Mas as
recém-chegadas — nem tão recentes assim, mas ainda novas se comparadas
às quatro mais antigas — estão cumprindo seu papel, com claros
benefícios para o consumidor.
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