A força das recém-chegadas

As marcas francesas e japonesas, que vieram produzir nos
últimos 10 anos, mantêm a evolução dos carros nacionais

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorMais que a própria abertura das importações em 1990, parece que o fato mais marcante da década passada para o mercado brasileiro, em uma análise daqui a algumas décadas, terá sido a vinda de novos fabricantes de automóveis para o solo nacional, efetivada na segunda metade daquele decênio.

A constatação me ocorreu ao reunir, para o artigo de Segredos de Fábrica publicado há uma semana, os lançamentos que as francesas Citroën, Peugeot e Renault preparam para este ano e os próximos. Enquanto as "quatro grandes" (Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen) parecem ter tirado o pé do acelerador, no que se refere à atualização de modelos com seus similares nos países desenvolvidos, as newcomers ou recém-chegadas — marcas que passaram a fabricar carros aqui nos últimos 10 anos — permanecem atentas às novidades das matrizes e trarão várias delas para produzir aqui ou na Argentina.

Não são só as francesas: o mérito se estende às nipônicas Honda e Toyota, que têm por método manter seus modelos atualizados em todos os mercados onde atuam. O objetivo é proporcionar economia de escala, já que os carros produzidos aqui, no Japão ou em qualquer outro país podem compartilhar muitos componentes, que são fabricados em grande volume onde sair mais barato. Deixar um Civic ou Corolla desatualizado por três, quatro anos foge à regra e não compensa para quem trabalha dessa forma. Ainda bem.

É verdade que o padrão de equipamentos e a variedade de oferta dos automóveis, mesmo os dessas marcas, não é o mesmo aqui e lá fora. Também é fato que sua participação no mercado ainda não é majoritária — as quatro grandes permanecem nos primeiros lugares, embora a Ford tenha tido, em outros tempos, sua quarta posição ameaçada pelo crescimento da Renault.

Mas não resta dúvida que a atuação dessas empresas fez, faz e ainda fará muito bem ao mercado brasileiro. As marcas mais tradicionais têm permitido uma incômoda estagnação de alguns modelos, como Vectra, S10/Blazer, Golf, A3 e Marea, que não terão suas novas gerações produzidas aqui (apenas o Fiat não a possui lá fora, mas poderia ser desenvolvida a partir do Stilo). As francesas e japonesas, ainda que tenham veículos na mesma situação de defasagem — como a Scénic —, demonstram mais agilidade e empenho em manter suas linhas atualizadas.

E os importados? Representam cada vez menos, tanto em participação no mercado quanto em referência de comparação, já que a desvalorização do real levou os preços a patamares inviáveis, o que é uma pena. Mas as recém-chegadas — nem tão recentes assim, mas ainda novas se comparadas às quatro mais antigas — estão cumprindo seu papel, com claros benefícios para o consumidor.

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Data de publicação: 10/7/04

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