Para entusiastas,
como este editor e — sem a menor dúvida — a maioria de nossos leitores,
é frustrante perceber como nosso mercado perdeu o brilho nos últimos,
digamos, 10 anos.
Naquele tempo, com o consumidor eufórico pelos importados que chegavam,
a indústria nacional fazia seu melhor para manter a hegemonia.
Fabricávamos um carro grande e de tecnologia sofisticada (Omega), dois
conversíveis "de série" (Escort e Kadett), dois picapes pesados (F-1000
e a Série 20 da GM) e uma boa gama de versões esportivas, com conteúdo
exclusivo na aparência e na mecânica.
O que aconteceu depois? A expectativa de um mercado de três milhões de
veículos na virada do século, que nunca se confirmou; a vinda de novos
fabricantes, a produção de carros pelos que faziam jipes, motos ou
caminhões; a desvalorização do real em 1999, acabando com a saudável
competição entre importados e nacionais; a crise econômica de que o País
parece nunca mais sair, apesar do "espetáculo do crescimento" que o
presidente anunciou para o segundo semestre de 2003.
E hoje estamos aqui. As vendas não decolam, o poder aquisitivo do
consumidor está em baixa e, como conseqüência natural, a indústria se
volta a carros mais simples e baratos. Foi-se o Omega nacional, foram-se
os conversíveis, pouco restou de versões esportivas, picape pesado há
apenas o F-250. Mesmo com um favorecimento menos evidente, via alíquotas
de IPI mais equilibradas, os modelos de 1,0 litro permanecem líderes
absolutos, evidência de que o brasileiro não tem comprado o carro que
deseja, mas o que o bolso alcança.
O Espaço do Leitor traz mensagens freqüentes reivindicando
esportivos, carros de nova geração, tecnologias mais modernas. Mas se o
mercado compra — e como compra — carros modestos e superados, pois são
os mais baratos em suas categorias, falta estímulo e escala de produção
para justificar o investimento em projetos mais caros. O que só frustra
o consumidor de maior poder aquisitivo, levando-o muitas vezes a manter
seu automóvel usado, um carro "dos bons tempos". As vendas em declínio
de modelos que já fizeram sucesso e se desatualizaram, como Vectra e
Golf, são uma prova disso.
Um círculo vicioso: a indústria diminui suas opções e desatualiza seus
produtos por causa das vendas, o mercado desacelera sua compras por
causa da falta de boas e atualizadas opções. Parece a propaganda do
biscoito, mas neste caso sem a menor graça.
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