O mundo, alarmado, teme o conflito armado entre Estados Unidos e Iraque, de desdobramentos imprevisíveis se deflagrado. De danos às exportações à valorização do dólar, com os impactos na economia e no custo de vida, nosso país se vê novamente diante da ameaça de problemas de abastecimento de petróleo. Menos, desta vez, dado já estarmos produzindo 90% do que consumimos, situação bem mais confortável que no primeiro choque do petróleo em 1973, quanto importávamos mais de 75% das nossas necessidades.
Internamente, outro conflito -- o de interesses. A indústria sucroalcoleira aprontou mais uma vez, ao utilizar mais cana-de-açúcar para produzir açúcar, o que afetou a produção de álcool na safra 2001/2002. Falta, em números redondos, um bilhão de litros de álcool para fechar a conta oferta vs. demanda. Recentemente, como medida paliativa, a adição de álcool à gasolina baixou de 25% para 20%, filme já visto em 1999. Como da outra vez, a redução do percentual de álcool provocou ligeiro aumento do preço da gasolina -- alguém já viu o preço baixar quando o percentual é aumentado?
Aproveitando a confusão da escassez, os usineiros não conversaram: o preço do álcool disparou cerca de 50 a 80%, em menos de seis meses, para desespero de quem comprou carro a álcool tentando diminuir gastos com combustível. Desespero também para quem aderiu à Lei de Gérson e "trocou o chip" do carro a gasolina, ou para quem se vangloria da alquimia de misturar álcool e gasolina. Os usineiros foram até chamados ao Palácio do Planalto para uma "conversinha" com o presidente Lula,
que não se traduziu em queda expressiva de preço até o momento.
No caso de guerra e dificuldades de abastecimento de petróleo, espera-se que o governo desta vez não cometa o erro das crises
passadas -- o de restringir o consumo de derivados do ouro negro. Não custa repetir: o carro-chefe do consumo de petróleo no Brasil é o
diesel, e não é possível deixar de produzir gasolina de cada barril de petróleo produzido ou importado. Como não é possível deixar de sair filé mignon de cada boi abatido. Logo, conter o consumo de gasolina não reduz a necessidade de petróleo.
Guerras à parte, surge um novo elemento na eterna confusão de combustíveis no Brasil. Basta pensar no carro a gasálcool, ou
flex fuel, que chegará até o final do ano e poderá rodar indistintamente com gasolina, álcool ou sua mistura em qualquer proporção.
Esse álcool será o tipo hidratado (com água, 7,4% em volume), o mesmo que existe à venda há mais de 20 anos nos postos. Já o álcool que é adicionado à gasolina desde a década de 30, e em maior volume a partir de 1982 (quando acabou a gasolina azul), é o anidro, praticamente sem água (só 0,7%). Isso porque antes não era possível juntar gasolina e álcool hidratado, pois o álcool se separaria da água, para ficar com a gasolina, e a água ficaria sozinha no fundo do tanque, por ser a mais densa (pesada) dos três. Aspirada pelo pescador, o motor pararia de funcionar.
Dizem os técnicos que a gasolina hoje é outra, o petróleo de base é diferente (possivelmente naftênico em vez de parafínico), levando à total compatibilidade com o álcool hidratado. Isso explica os coquetéis ("rabo-de-galo") não darem problema maior.
Então, a pergunta inevitável: se gasolina e álcool hidratado se dão bem, para que usar o anidro, cerca de 10% ma |