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Vida longa às peruas

Edição no. 133 - 21 de setembro de 2002

Com o recente lançamento da Chevrolet Meriva, já são quatro as minivans compactas nacionais, consideradas substitutas das peruas pequenas e médias. A GM com seus dois modelos -- Meriva e Zafira -- e a Renault com sua Scénic são os fabricantes mais confiantes nesta tendência, já que Fiat (com a dupla Palio/Marea Weekend), Ford (Escort SW), Volkswagen (Parati) e Citroën (com sua Xsara Break ao lado da minivan Picasso) mantêm peruas em oferta nos segmentos pequeno e médio-pequeno.

Não resta dúvida de que as minivans, por sua versatilidade de uso, são uma grande opção para muitas famílias. Mas vamos um pouco além: atendidas as necessidades práticas e respeitado o limite do orçamento, não é pelo prazer em dirigir que muitos motoristas escolhem o veículo que os levará pelas ruas e estradas durante dezenas de milhares de quilômetros?

Difícil negar que esse seja um dos principais fatores de compra de um automóvel. E é aqui que, a nosso ver, as minivans -- ou minifurgões, numa tentativa de traduzir essa palavra composta inglesa -- em geral fracassam. Como em todo compromisso, a importância destinada ao transporte dos passageiros e bagagem prejudica a virtude que os americanos denominam fun to drive, a qualidade de um carro ser divertido e prazeroso para o motorista.

Certamente há quem goste de se sentar 20 ou 30 centímetros mais elevado que num automóvel, cercar-se de grandes janelas ou mesmo levar para lá e para cá mais de 1.250 kg, fora o peso dos ocupantes, em um veículo de pouco mais de quatro metros. Contudo, este não é nosso caso e acredito não ser o de muitos leitores.

Onde está a grande vantagem de uma minivan? Facilidade de rebater e remover bancos? Ora, além de raramente -- ou jamais -- utilizado pela maioria dos usuários, é um recurso que pouco acrescenta ao banco traseiro rebatível e bipartido, hoje encontrado até em carros de três volumes. Ampla visibilidade pelos imensos vidros? Se isso fosse prioridade não se veriam tantos automóveis com película escurecedora, numa tentativa de conter a invasão do calor solar e/ou ajudar na prevenção de assaltos no trânsito. Sem falar na largura excessiva das colunas dianteiras em algumas delas, que ampliam o ponto cego de visão à esquerda.

Maior espaço vertical? Só mesmo motoristas muito altos -- acima de 1,90 metro -- precisam de mais do que oferecem os amplos carros médios de recente geração. Ganho em capacidade de bagagem? Não é o que se verifica em algumas minivans:
na Meriva são apenas 292 litros, 12 a mais que no Corsa e 109 a menos que na antiga Corsa Wagon, que ela vem substituir; na Scénic, 410 litros, 50 a menos que em uma Palio Weekend, de comprimento similar.

O trunfo das minivans está mesmo em compactar e "verticalizar" o veículo, permitindo reduzir a área não-ocupada pelo habitáculo de passageiros. Portanto, mais que o ganho de espaço interno, obtém-se redução das dimensões externas -- algo cada vez menos relevante, dada a escassez de vagas de estacionamento paralelas ao meio-fio nos centros urbanos. Que diferença fazem 20 ou 30 centímetros no comprimento numa vaga de shopping center? Pode-se citar a contribuição de otimizar o espaço nas ruas, mas mesmo assim o efeito é muito pequeno.

Em contrapartida, veículos altos como elas (e que colocam seus ocupantes em posição mais elevada, subindo o centro de gravidade) sempre terão menor estabilidade e segurança em manobras de emergência (quem não se lembra dos problemas iniciais do Mercedes Classe A?) e maior área frontal (pior aerodinâmica, logo, menor desempenho e maior consumo), serão mais sensíveis às ondulações do piso e às curvas (podendo levar a enjôo mais facilmente), além da tendência a pesar mais que um sedã de maior porte (a Meriva 1,8 16V chega a 1.325 kg, 60 kg a mais que um Vectra GLS 2,2).

Não é só. A disposição de bancos elevados, nos casos de aproveitamento da plataforma básica de um automóvel, leva a uma posição de dirigir mais adequada a um veículo de carga. No caso da Scénic o volante é muito horizontal; no de Zafira e Meriva, pedais e alavancas de câmbio e do freio de estacionamento não foram adequados à maior altura do assento.

As minivans vieram para ficar? Tudo indica que sim. Mas não temos dúvidas de que um público relevante sempre se manterá longe delas, optando -- caso precise de mais espaço para bagagem -- pelas tradicionais peruas, com sua posição de dirigir de automóvel, maior eficiência aerodinâmica e comportamento dinâmico superior.

Vida longa às peruas!

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