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Condutores sem lei

Edição no. 121 - 6 de abril de 2002

Os motoristas de grandes cidades raramente se deparam com um deles, mas os de localidades menores hão de concordar: algo precisa ser feito para educar os ciclistas.

Vou deixar claro, desde já, que não se trata de generalizar. Assim como há bons e maus motoristas, motociclistas e até pedestres, há entre os condutores de bicicletas graus muito diferentes de educação, responsabilidade e respeito à vida alheia e à própria. Ocorre que parece cada vez mais freqüente o mau ciclista, aquele que desrespeita -- talvez com o prazer (?) da impunidade -- as regras básicas de circulação, de segurança e de bom-senso.

Resido em Pindamonhangaba, cerca de 120 mil habitantes, a 150 km da capital paulista. Embora maior do que milhares de municípios brasileiros, é uma cidade onde ainda se podem usar bicicletas no trânsito do centro, em que raramente os carros ultrapassam 40 km/h -- não pelos radares, mas pela morosidade de um tráfego mal-planejado e já saturado de veículos.

Pois bem: ao lado de ciclistas exemplares, cidadãos de respeito que conduzem suas bicicletas com a devida responsabilidade, vê-se toda sorte de maus ciclistas, que produzem um estresse comparável ao dos maus motociclistas nos grandes centros. Não que esses ciclistas quebrem retrovisores alheios ao passar pelos corredores do tráfego, mas sua ousadia em se envolver em situações arriscadas surpreende.

Semáforos não existem para eles: passam pelo vermelho aparentando grande confiança de que todos os motoristas vão aguardar sua travessia irregular. Alguns transitam pelas calçadas, outros surgem na contramão de direção quando seu carro atravessa uma rua de mão única -- como ocorreu há dias comigo, felizmente sem conseqüências maiores que um grande susto.

Não bastasse, criou-se a figura da bicicleta-lotação. Não se tratam daqueles modelos curiosos de vários lugares, em que cada um colabora com parte do esforço nos pedais, e sim de bicicletas comuns ocupadas por dois ou três irresponsáveis. Guidão, parte central do quadro, bagageiro e pequenos apoios junto ao eixo traseiro servem de banco adicional para esses suicidas, em geral adolescentes. O resultado pode ser medido pelas páginas policiais da imprensa local, que costuma registrar os sucessivos acidentes com ciclistas.

E o Código de Trânsito Brasileiro? Ora, o Código! Embora previsse regras de circulação para bicicletas e o uso de equipamentos de segurança, como buzina, retrovisor e refletores, a lei esqueceu-se de regulamentar como um mau ciclista seria punido. Se não há placa ou registro, o que fazer? Apreender as bicicletas?

Imagine a infra-estrutura necessária para levá-las a um depósito, identificá-las para futura liberação, etc. Com carros e motocicletas funciona, mas quanto poderia ser cobrado de um ciclista, nessa situação, que não inviabilizasse a retirada de uma velha bicicleta, nem tornasse a operação deficitária para o poder público?

Soluções para o problema parecem muito distantes. Talvez os maus ciclistas só aprendam mesmo com a prática: com os acidentes que eles próprios causam e nos quais costumam levar a pior, ao menos no aspecto de integridade física. Aos motoristas e pedestres, só resta torcer para que não seja conosco.

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