Antes de passar à
resposta propriamente dita, permita-nos o leitor explicar que
bicombustível e combustível flexível são coisas distintas. O
primeiro refere-se aos motores que podem funcionar com um ou outro
combustível, armazenado em reservatórios diferentes, como ocorre com
a maioria dos carros a gás natural. Já o segundo é aquele que tem
flexibilidade para usar um ou outro combustível no mesmo tanque,
puros ou em qualquer proporção de mistura entre eles.
O
poder calorífico não influi na potência, como o leitor mesmo diz,
mas influi no volume de combustível consumido. É a razão de carros
a álcool consumirem mais do que os a gasolina, sendo os motores de
mesma cilindrada e geração. No caso do novo produto Volkswagen, a idéia
de flexibilidade em combustível foi definida como um bom carro a
gasolina que pudesse funcionar com álcool sem decepcionar.
Isso fica claro na adoção de taxa de compressão de 10:1 (no Gol 1,6
a gasolina somente é de 9,8:1) em vez de 13:1 do carro apenas a álcool.
É óbvio que com álcool o motor do Total Flex não tem o torque e a
potência que poderia ter, caso as propriedades físico-químicas do
álcool fossem aproveitadas plenamente.
Saiba que se pegássemos dois motores exatamente iguais, até em taxa
de compressão, e apenas os calibrássemos para funcionar um com álcool,
outro com gasolina, com o combustível vegetal a potência seria entre
2% e 3% maior. Isso ocorre porque o álcool, ao se vaporizar, retira
mais calor do ambiente devido ao maior calor latente de vaporização
em relação à gasolina (quase o dobro), e disso resulta uma massa de
ar mais densa no interior dos cilindros. É por isso que o motor do
Gol Total Flex desenvolve 97 cv com gasolina e 99 cv com álcool.
Resta saber, e isso só o tempo dirá, se a opção da VW corresponde
mesmo ao que o consumidor
pretende. Como o álcool permanece cerca de oito meses por ano com
preço vantajoso em relação à gasolina (tornando-se similar, em
custo por quilômetro, no período da entre-safra ou... quando os
usineiros bem entendem que devem subir seu preço), o mais provável
é que os donos do TotalFlex -- e de outros que surgirão em breve --
passe a maior parte do tempo, ou mesmo todo ele, rodando a álcool e
obtendo menor rendimento do que seria possível.
Quanto a medições, o BCWS pretende passar a efetuá-las
quando o custo dos equipamentos necessários estiver acessível a um
site de acesso gratuito como este. Enquanto isso não ocorre,
oferecemos as exclusivas simulações de desempenho e consumo, que
aferem com certa precisão os dados dos fabricantes.
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