Best Cars Web Site Consultório Técnico

por Fabrício Samahá e Bob Sharp

Curso curto e curso longo:
as diferenças e efeitos


Dependendo da relação entre o diâmetro e o curso dos pistões, o motor é chamado de superquadrado, quadrado ou subquadrado. Na prática, os subquadrados dão mais torque e potência em giros baixos, mas ficam mais "ásperos" em giros altos, enquanto que os superquadrados funcionam mais "macios" em alta, mas dão menos desempenho em baixa. Certo? Gostaria de saber se essa diferença de relação de diâmetro e curso, na prática, é muito perceptível. O BCWS é o melhor site brasileiro de automóveis. Parabéns pelo ótimo trabalho.

Herbert Hidemi Harada
São Paulo, SP
hhharada@argentina.com

A relação entre desempenho, consumo, suavidade de funcionamento e durabilidade de um motor é influenciada, entre diversos fatores, pelo curso dos pistões. Quando o curso é muito longo, o motor tende a produzir mais torque e, em conseqüência, maior potência já a partir de rotações baixas. O conceito de quadrado, super ou sub está em desuso. Hoje fala-se em motor de curso longo e motor de curso curto.

O que deve ser considerado são os objetivos de uso e, a partir daí, projetar o motor de acordo. É claro que se o intuito é obter a maior potência possível em relação à cilindrada, o motor terá de ser de alta rotação. Para ser de alta rotação a velocidade média dos pistões terá de ser mantida no limite que a tecnologia atual permite (a custos razoáveis), 20 metros por segundo. Define-se aí o curso dos pistões.

Para calcular o curso máximo que resulte em 20 m/s, em um motor 2,0-litros de quatro cilindros que vá girar a 6.000 rpm, multiplica-se 20 por 30 e divide-se por 6.000, obtendo-se 0,1 metro ou 100 mm. O diâmetro dos cilindros, calculado, será de 79,8 mm. O engenheiro, então, joga com esses dados para definir o motor final. Há vários outros aspectos, como a altura do motor ficar grande demais para caber em seu compartimento, o curso muito longo exigir bielas de comprimento adequado para se conseguir relação r/l favorável, e por aí vai.

Pode-se dizer que curso curto é um mal necessário quando se objetiva motor de alta rotação (e alta potência). Diâmetro de cilindros muito grande representa dificuldade de queima da mistura ar-combustível, pela distância entre a vela e os pontos mais distantes na câmara de combustão. É por isso que se recorre à dupla ignição hoje em dia, como no Honda Fit, Porsche 911 (nos tempos do arrefecimento a ar) e alguns Alfa Romeos -- no passado era para evitar enguiços, e nos motores de avião é por segurança.

Esses efeitos podem ser evidenciados na comparação entre motores de mesma cilindrada (1.796 cm3) e nível tecnológico, como os 1,8-litro da General Motors -- o de curso longo do Corsa e Meriva, com diâmetro de 80,5 mm e curso de 88,2 mm, e o de curso curto do Astra, com 84,8 x 79,5 mm.

Com o curso do Astra as bielas podem ser mais curtas e leves sem prejuízo da relação r/l. Mesmo que o Corsa usasse bielas tão longas quanto as do Astra (não usa por questão de aproveitamento de componentes dos demais motores da família, de 1,0 a 1,6 litro), teria r/l acima do limite convencionado de 0,3: exato 0,308, contra 0,277 do Astra.

E quanto à velocidade média dos pistões? Às mesmas 6.000 rpm, os pistões do Astra percorrem 15,9 metros por segundo, e os do Corsa, 17,6 m/s. Disso resulta a tendência a maior durabilidade, nessas condições de uso, para o motor de curso curto.

Compromisso intermediário pode ser obtido com diâmetro e curso iguais ou equivalentes, no que se costumava chamar motor quadrado: é o caso do 2,0-litros da GM (Astra), com 86 mm em ambas as medidas. Comparado ao motor Volkswagen de cilindrada equivalente (82,5 x 92,8 mm), por exemplo, o da GM possui melhor relação r/l (0,300 com bielas de 143 mm, contra 0,322 do VW, apesar das bielas pouco maiores, 144 mm) e menor velocidade média dos pistões (17,2 m/s a 6.000 rpm, ante 18,5 m/s do VW).

Se tudo isso faz diferença? Certamente, como vimos acima, mas só até certo ponto. Tanto a distribuição de potência e torque quanto a suavidade de funcionamento podem ser afetadas por muitos outros elementos, que tornam a relação entre diâmetro e curso secundária.

Página principal - e-mail

Data de publicação: 17/5/03

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados