Como fazer bem a
conversão de combustível
Tenho um Voyage 89 com motor AP 1600,
que foi convertido de álcool para gasolina. O carro está
completamente "amarrado"; não ultrapassa os 140 km/h
por nada. Gostaria de saber o que pode estar acontecendo, uma vez
que não sei como foi feito o serviço de conversão (comprei o
carro já convertido) e observei que o carburador ainda é de
carro a álcool (não foi trocado). Gostaria de saber também
como proceder para melhorar o desempenho do carro.
Wagner Rogério Vicentin
siloto@mailexcite.com
Campinas, SP
Muitas conversões de combustível -- uma tendência nesses dias
em que não compensa rodar com álcool -- têm sido feitas sem o
mínimo de critério. Existem três diferenças básicas entre um
motor a gasolina e um a álcool, todas causadas pelas diferentes
características de cada combustível. A gasolina tem maior poder
calorífico (gera mais energia na queima), mas oferece menor
octanagem (entra em combustão mais facilmente) do que o álcool.
Observe-se que o álcool não possui octanas, mas é possível
estabelecer um índice de comparação. Isso leva às seguintes
diferenças entre os motores:
- Taxa de compressão: é mais baixa nos motores
a gasolina, ficando hoje entre 9:1 e 10,5:1 nos motores de
fábrica. Nos motores a álcool a taxa fica entre 11,5:1 e
12,5:1, mas esses motores não se beneficiaram tanto com o
avanço da eletrônica, pois há anos as fábricas perderam o
interesse no seu desenvolvimento. Basta dizer que poucos, um dos
quais o 2-litros do Omega, chegaram a ser equipados com injeção
multiponto.
- Curva de ignição: é mais atrasada nos
motores a gasolina, tanto o avanço de ignição inicial quanto o
final.
- Relação estequiométrica: pelas
características moleculares dos dois combustíveis, a gasolina
necessita de mais oxigênio para realizar sua queima completa;
logo, a mistura ar-combustível é mais pobre (mais ar) no motor
a gasolina que no movido a álcool.
O que se faz numa conversão bem-feita é reduzir a taxa de
compressão, obter uma nova curva de ignição e uma relação de
mistura mais pobre, além de adaptar a refrigeração, isolar ou
retirar o reservatório de gasolina para partida a frio, entre
outras providências menos importantes. Uma conversão correta
não oferece risco de detonação e deve resultar em desempenho
semelhante ao do motor similar de fábrica a gasolina.
Por questões de custo são comuns certas adaptações, como
montar uma junta de cabeçote bem espessa a fim de reduzir a taxa
de compressão. Há até quem conserve a taxa original e tente
evitar a detonação alterando só a curva de ignição, o que
traz resultados desastrosos em rendimento e grandes riscos ao
motor. A título de curiosidade, motores a gasolina de
competição chegam a operar com taxas de mais de 14:1 -- há
casos de até 17:1 --, mas são montados e testados um a um,
submetidos a uma manutenção constante e com menor expectativa
de vida útil que um motor de rua.
Como o Voyage não é equipado com injeção ou mesmo ignição
mapeada (como nos Mille ELX e Electronic, que de eletrônica só
tinham a moderna ignição), que oferecem mais recursos para
evitar a detonação, a taxa de compressão não deve ultrapassar
9,5:1. Caso o mecânico que realizou a conversão não tenha
alterado a taxa, seu carro deve estar funcionando atualmente com
12,3:1, taxa original do motor AP-1600 a álcool, e sofrendo os
efeitos de uma detonação leve, como o desgaste prematuro das
velas de ignição, primeiras a sofrer com a detonação. Isso
pode estar prejudicando o desempenho.
Também é possível que o mecânico tenha atrasado demais a
curva de ignição, tentando contornar os efeitos da taxa alta.
Mesmo que a taxa tenha sido adequada ao uso de gasolina a curva
de ignição pode estar mal regulada, o que também prejudica o
desempenho. Outra dificuldade é adequar a relação da mistura a
todos os regimes de rotação. Com o motor em alto giro, a
mistura pode estar rica demais -- se estivesse pobre seu motor
já teria tido um pistão furado por conta da detonação. O fato
de o carburador ser ainda do carro a álcool em nada influi, pois
pode ser adaptado para funcionar corretamente com gasolina.
Você deve começar o diagnóstico verificando a compressão nos
cilindros, o que pode indicar se a taxa de compressão está alta
demais. Se estiver, pode-se optar por reconverter o carro para
álcool (o que sairia barato, pois não seria necessário mudar a
taxa) ou realizar nova -- e criteriosa -- adaptação para
gasolina, desta vez reduzindo a taxa de compressão. Aproveite a
ocasião para observar se as velas estão um pouco derretidas, o
que indica princípio de detonação.
Caso a taxa esteja correta, passe para a verificação da mistura
admitida em todos os regimes de rotação, e corrija as
possíveis falhas. O último passo é conferir a curva de
ignição e regulá-la de forma correta para as características
do seu motor. Toda essa operação deve ser feita em oficina
especializada e bem-aparelhada, pois não são procedimentos
simples. Fique atento para a realização de todos esses passos,
pois a oficina pode julgar algum deles desnecessário. Pode dar
um pouco de trabalho e custar um pouco mais, mas é assim que se
faz (ou deveria fazer) conversão. Muito do que se vê por aí
merece outro nome -- gambiarra.
Para saber como aumentar o desempenho do motor AP-1600 você pode
ler as seguintes consultas de preparação: Gol S '85, Gol CL '89
e Gol Atlanta, aspiradas; e Gol CLi com nitro. Confira-as no Consultório de Preparação.
Volta ao Consultório Técnico |
Volta à
página principal |
© Copyright 1998/1999 - Best Cars Web Site - Todos os direitos
reservados
|