Andando com as próprias rodas

Trazido ao Brasil na época do fim da Autolatina, o VW Golf seguiu um
caminho independente após perder a atualidade com o alemão

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Primeiro com o GTI de três portas, depois com o GL e o GLX de cinco, o Golf fazia sua estreia no Brasil em um momento de crise na Autolatina

A versão VR6, com seis cilindros e 174 cv, e o conversível chegaram em pequena quantidade já no fim da fabricação dessa terceira geração

Desde o fim da produção do Passat, em 1988, a Volkswagen brasileira vinha recorrendo à sócia Ford na Autolatina — associação formada em 1987 no País e na Argentina — para fornecer a base para seus carros médios. Foi de um Ford, o Verona de primeira geração, que surgiu em 1990 o VW Apollo; e foi de outro Ford, o Escort lançado em 1992, que o grupo desenvolveu o Logus e o Pointer, apresentados no ano seguinte. Com a separação das empresas em 1995, porém, o destino desses dois modelos estava selado e a VW precisava voltar a andar com as próprias pernas nessa categoria.

Iniciada em 1994, a importação do Golf de terceira geração (lançado em 1991 na Europa; leia história) trouxe aos brasileiros um carro médio de conceito moderno, à altura das novidades nacionais e importadas que vinham renovando o segmento. Mais tarde, nosso mercado receberia a quarta geração alemã e, dentro de uma estratégia ousada de modernização da indústria local, em um ano ela começaria a ser feita na nova fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná, ao lado do Audi A3. Nascia ali um dos mais longevos sucessos da VW no País.

De início, importado   Da década de 1960 à de 1980, a Volkswagen foi um dos fabricantes nacionais com maior autonomia de projetos em relação à matriz. Foi desenhada aqui a maior parte dos modelos do período — do 1600 de quatro portas, ou "Zé do Caixão", à bem-sucedida família composta por Gol, Voyage, Parati e Saveiro. Nos anos 90, todavia, os tempos eram outros: o mercado estava aberto à importação e, com a redução da alíquota do imposto correspondente, os carros estrangeiros abocanhavam fatias cada vez maiores do bolo do mercado.

Se a aliança com a Ford já não andava bem — há quem diga que ela não resistiu à "coceira dos sete anos" que afeta muitos casamentos e foi até nome de filme, The Seven Year Itch, no Brasil alterado para O Pecado Mora ao Lado —, nada mais natural que recorrer à matriz alemã para oferecer um carro médio de Primeiro Mundo via importação. Em abril de 1994 chegava ao mercado nacional o Golf GTI, trazido por questões de logística do México, onde era fabricado para atender ao mercado norte-americano.

Se a escolha da versão esportiva pode ter sido um balão de ensaio para a ampliação da linha que viria mais tarde, não deixava de ser estranho que o Golf estivesse, em porte, preço e configuração mecânica, na mesma categoria do Pointer GTI — que, embora revelado em 1993, demorou a receber acertos pela fábrica e chegou ao mercado só em agosto de 1994, já depois do modelo mexicano. Tudo indica que a dissolução da Autolatina já estivesse nos planos, o que reforçava a importância de estabelecer entre os brasileiros um legítimo VW médio.

E o Golf reunia os atributos necessários para isso. Herdeiro de uma linhagem iniciada em 1974, o modelo de terceira geração mostrava linhas simples e atraentes, com elementos tradicionais como as colunas traseiras bem largas, que sugeriam solidez. O GTI vinha com três portas e decoração esportiva: faróis de duplo refletor, saias laterais, defletor traseiro e rodas de alumínio de 14 pol com pneus 185/60. No interior, de aspecto atual, os bancos de espuma firme — tipicamente alemães — tinham um revestimento simples, de gosto discutível, e havia a falta incompreensível do controle elétrico dos vidros, ainda mais porque o teto solar de série o possuía.

O motor de 2,0 litros e duas válvulas por cilindro com injeção multiponto, potência de 114 cv e torque de 16,8 m.kgf era semelhante ao usado no Brasil por vários modelos da Autolatina, mas mostrava diferenças como o fluxo cruzado de gases e as bielas 15 mm mais longas, para obter relação r/l correta e funcionamento suave mesmo em altas rotações — um cuidado que os Volkswagens nacionais, à exceção de Gol e Parati GTI 16V, não mereceram do fabricante.

A arquitetura simples do Golf incluía motor transversal, câmbio manual de cinco marchas, suspensão dianteira McPherson e traseira por eixo de torção. Os freios, embora a disco nas quatro rodas, ainda não traziam sistema antitravamento (ABS). O GTI teve boa presença entre os esportivos nacionais, como Chevrolet Kadett GSi, Ford Escort XR3 e o próprio "irmão" Pointer GTi, e os importados como Fiat Tipo Sedicivalvole e Honda Civic Si. Continua

 

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Data de publicação: 15/1/11

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