As portas traseiras que se abriam para trás eram um detalhe incomum na época; o motor de 7,0 litros e 300 cv ainda era o maior do mercado

O conversível de quatro portas, único nos EUA desde 1951, tinha um charme especial; bancos e capota contavam com controles elétricos

Mudanças sutis conservaram o Continental atraente; em 1966 o motor passava a deslocar 7,6 litros e voltava a opção do cupê hardtop, acima

A denominação adicional Mark, seguida de um numeral romano, era abolida. Os faróis duplos e horizontais faziam parte de um conjunto que incluía a grade e o para-choque cromados, o elemento mais complexo da carroceria e não o mais harmonioso. Com um discreto friso sobre ela, a linha da cintura surgia em linha reta no para-choque dianteiro e chegava ao traseiro com um mínimo ressalto junto às largas colunas de trás. Estas tinham aberturas para as janelas em paralelo. Entre outros indícios de que o estilo dos anos 50 ficara para trás, o vidro traseiro era fixo e o para-brisa não mais panorâmico. Nada de ressaltos ou frisos nas laterais, só o nome Continental cromado. Como as discretas lanternas verticais ficavam no ressalto marcado pela linha da cintura, a traseira era dominada pelo brilho cromado do para-choque e de um adereço que parecia até a grade de um carro com motor traseiro.

Destaque mesmo era o conversível, o primeiro com quatro portas desde o Frazer Manhattan 1951. Por dentro predominavam a discrição moderna das linhas retas, coerentes com o exterior. O conversível ganhava 18 cm de espaço interno, pois o teto era guardado no porta-malas por um mecanismo elétrico. Rádio transistorizado e trava elétrica com luz de alerta vinham de série. A direção assistida ficou 25% mais macia e, com 2.234 kg, o Continental estava 104 kg mais leve. Acabamento em nogueira para painel e portas, couro para os bancos, ar-condicionado, regulagem elétrica do banco do motorista e controlador de velocidade eram opcionais.

A tendência ao comedimento prosseguiu também no V8 de 430 pol³ e 300 cv, que, embora menos potente, ainda era o maior motor do mercado. O modelo contava com escapamento duplo e servo-freio, mas de modo geral o aparato técnico estava muito próximo da geração anterior. Verdade seja dita, o que o estilo tinha de inovador, a mecânica tinha de comprovada. Tanto que a simplicidade e a elegância do desenho do modelo mereceram o reconhecimento do Industrial Design Institute, que raramente homenageava carros. As vendas do Continental dobraram em 1961 e continuaram a crescer em 1962. Nesse ano o desenho da frente foi simplificado, ficando mais de acordo com o conjunto.

A Lincoln entregou limusines blindadas ao presidente John F. Kennedy e seu vice, Lyndon Johnson, ambas com teto de plástico transparente removível. Sempre foi praxe que os carros oficiais do governo federal norte-americano fossem Cadillac ou Lincoln (leia boxe abaixo). O de Kennedy entraria para a história de maneira trágica. Grade quadriculada e mais espaço no porta-malas vieram em 1963. Ajustes no motor renderam 20 cv a mais, 320 cv no total. No ano seguinte, os passageiros de trás ganharam 10 cm para as pernas, graças ao entre-eixos crescido para 3,20 metros. O espaço para cabeça também aumentou um pouco. Visto de fora nem se percebia a mudança, o que era proposital, dada a reputação do Continental. As vendas reagiram com aumento de 14%. Em 1965, o capô e a grade ganharam um ressalto, e as extremidades da dianteira, luzes de direção envolventes.
 
Alterações mais profundas viriam em 1966, quando a Lincoln tirou os piscas das bordas, mas alargou o ressalto do capô. A grade foi simplificada, nas laterais o desnível na linha da cintura ficou mais evidente e a traseira mudou muito, com lanternas horizontais embutidas no para-choque. Eram 5,61 metros de comprimento. A janela traseira de plástico do conversível deu lugar a outra de vidro. As maiores novidades da linha, entretanto, eram a volta da versão cupê hardtop, ausente desde 1960, e a nova limusine produzida pela Lehmann-Peterson de Chicago. Mecanicamente, o V8 430 foi trocado por outro de 462 pol³ (7,6 litros) e 340 cv, usado pelo grupo Ford apenas nesse modelo. O sistema Fresh-Flow circulava o ar pela cabine mesmo com as janelas fechadas. Ao lado do ar-condicionado, ele reduziu o interesse do mercado pelo conversível, que sairia de linha no modelo 1968.

Bifurcação narrativa   A Lincoln voltava a ter uma linha de produtos realmente diversificada. Isso, a rigor, não ocorria desde 1957. Para recuperar a idéia original de seu mais famoso nome, a marca criou o Continental Mark III. Homônimo do modelo 1958, o novo cupê hardtop era inspirado no Continental de 1940 e no de 1956. O ressalto para o estepe na traseira estava lá para comprovar. Entretanto, continuava à venda o modelo conhecido desde 1961, inclusive em versão cupê hardtop. Já o Continental Mark III merece um texto próprio. Continua

A serviço da Casa Branca
Em 1961 a Lincoln começou a fornecer versões adaptadas do Continental para uso como carro oficial do governo norte-americano. Não era a primeira vez, pois houve casos como o Sunshine Special de 1939 e o Cosmopolitan de 1950. Isso provavelmente não aconteceu antes porque até 1957 não havia versão sedã, que sempre serve de base para essas transformações, e de 1958 a 1960 o estilo espalhafatoso do modelo não combinava com a discrição de um carro oficial.

Enquanto serviu como carro presidencial, o Continental honrou a história por trás do nome da Lincoln, que por si só já tinha forte apelo histórico e político. Um exemplar 1961 (acima) foi alongado e equipado com apoios para pé retráteis, para os agentes do serviço secreto, pela Hess & Eisenhardt de Cincinnati, Ohio. Chamado de Continental SS-100-X, ele passou a atender o presidente John F. Kennedy. O vice-presidente Lyndon Johnson tinha seu próprio, que era menor, com 2,87 metros de entre-eixos. A limusine do presidente media 3,96 m nessa mesma distância e era pintada num tom bem escuro de azul. Apesar de blindadas, ambas possuíam teto de plástico removível.

Infelizmente, Kennedy estava em seu carro oficial, e com o teto removido, quando em 22 de novembro de 1963 foi assassinado a tiros em Dallas, Texas, ao lado da esposa Jacqueline. O governador do estado, John Connaly, estava sentado logo à frente e também foi ferido, mas sobreviveu. Há quem diga que a brutalidade daquele ataque acabou com a inocência de uma geração de jovens norte-americanos. Aquele dia entrou para a história oficial e pessoal de milhões de cidadãos daquele país — e de tantos outros — como antes só o ataque à base militar de Pearl Harbor havia conseguido e só os ataques ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, superariam. Depois do crime, o veículo foi todo restaurado para oferecer maior segurança, caso do teto permanente à prova de balas. Foi usado até 1977. Hoje está no Henry Ford Museum, em Michigan.

Antes disso, um Continental 1968 com acabamento de 1969 (acima) e devidamente paramentado para tanto foi usado pelo presidente Richard Nixon. Uma limusine 1972 (mas com número de série de 1970) serviu Gerald Ford, Jimmy Carter e Ronald Reagan. Este último se refugiou nela ao sofrer uma tentativa de ataque a tiros em 30 de março de 1981.

O carro (abaixo) também está no museu. Vale ressaltar que há modificações visuais no carro em relação ao que mostram fotos históricas de quando foi entregue ao governo. A frente é mais moderna, por exemplo. Ele de fato foi modificado para parecer um modelo 1978 e já estava assim na ocasião do último atentado. O próximo Lincoln a servir a Casa Branca foi um Town Car 1989, que atendeu a Reagan e George H. W. Bush. Isso nove anos depois desse modelo estrear no mercado como uma nova — e a menos duradoura — geração do Continental e logo mudar de nome.

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