As colunas traseiras com
extensões eram um item polêmico do estilo do XJ-S, que honrava a
tradição da marca no interior muito requintado
O vigoroso motor V12 de alumínio
de 5,35 litros, nascido no E-type, fornecia 285 cv e levava o XJ-S de 0
a 100 em cerca de sete segundos |
Alguns automóveis vão passar à história como belos exemplares daquilo
que o homem podia fazer de melhor, seja no desenho, seja na técnica. E
certamente o Jaguar E-type terá
sua vaga garantida nessa célebre garagem. Lançado no Salão de Genebra em
1961, o cupê da casa inglesa fez bonito em todos os locais onde se
propôs a figurar. Contudo, nada é eterno e, 14 anos mais tarde, a Jaguar
revelava em setembro de 1975, como modelo 1976, o substituto do lendário
E-type. O novo cupê recebeu o nome de XJ-S.
Baseado na estrutura do sedã XJ, o XJ-S
não causou a mesma sensação que seu antecessor. De fato, seria difícil
chegar a um novo desenho à altura da sedução das linhas do E-type, mas o
novo cupê oferecia o que muitos procuravam no segmento: requinte, classe
e exclusividade. Um competente grã-turismo, o XJ-S abandonava as curvas
do clássico em favor das linhas retas que vigorariam nos anos seguintes.
Sua frente era muito longa e os faróis tinham formato ovalado, sendo que
na parte interna assumiam um aspecto angular junto à grade. A cabine,
recuada, mostrava uma lateral limpa de adereços. A traseira era mais
curta e de caimento suave, que ficava mais evidente com o prolongamento
da coluna em forma de aletas para um estilo
fastback — característica conhecida como flying buttress, ou pilar
flutuante, e para a qual muitos torceram o nariz. Rodas raiadas e
elegantes, cromados na moldura do para-brisa e nos retrovisores e
lanternas triangulares completavam o conjunto.
No mercado norte-americano o novo Jaguar recebia faróis duplos
circulares (obrigatórios no país), para-choques mais robustos para
suportar pequenas colisões sem deformações e rodas mais esportivas. Por
dentro ele era luxuoso e aconchegante, como convém a um carro desse
nível. O volante tinha dois raios horizontais e era farta a
instrumentação. Revestimento em couro de alta qualidade, painel de
linhas retas com apliques em madeira e um console largo e vistoso entre
os bancos, com porta-objetos e apoio de braço, estavam presentes. Amplo,
o cupê media 4,87 metros de comprimento, 1,79 m de largura, 1,27 m de
altura e 2,62 m de entre-eixos.
O motor era o mesmo usado desde 1971 no E-type e 1972 no XJ: um V12 de
5.343 cm³ de cilindrada, todo construído em alumínio, com injeção
eletrônica Lucas baseada na Bosch D-Jetronic. Além do Jaguar, um motor
com essas características só era encontrado em grandes esportivos, como
Ferrari e Lamborghini. Entregava potência de 285 cv e torque de 40,7
m.kgf, o que proporcionava aceleração de 0 a 96 km/h em rápidos 6,9
segundos para um carro de 1.680 kg. A velocidade final era de 240 km/h.
Para matar a sede o tanque recebia 91 litros de gasolina. O câmbio era
manual, da Borg-Warner, e havia um automático Turbo-Hydramatic 400 da
GM. Como o carro tinha uma proposta mais luxuosa que seu antecessor,
logo a caixa automática seria a única disponível no modelo. A suspensão
era independente nas quatro rodas.
Embora cheio de qualidades, o projeto do XJ-S foi arriscado. Um motor de
12 cilindros em meio a uma crise do petróleo poderia fazer os potenciais
proprietários pensarem duas vezes antes de comprá-lo. O mercado para um
automóvel desse nível andava bastante restrito em meados dos anos 70.
Isso sem contar a fama de baixa qualidade construtiva que a empresa
carregou por anos, o que quase a destruiu. Os executivos da marca
pensaram rápido e o XJ-S, numa tacada de marketing, apareceu em seriados
de TV como The New Avengers e Return of the Saint. A
primeira história mostrava o agente secreto inglês Mike Gambit (vivido
por Gareth Hunt) que dirigia um XJ-S. Na outra série, o personagem
principal Simon Templar (Ian Ogilvy) também tinha seu cupê, cuja placa
era apenas "ST 1". O sucesso das duas séries fez o carro visível.
Mas só marketing não vendia carros a um público tão exigente.
Por isso, não demorou muito para que a empresa implementasse mudanças
para melhor eficiência no motor. Em 1981 a versão High-Efficiency, ou
HE, foi apresentada com novos cabeçotes e pistões, que produziam grande
turbulência nas câmaras de combustão, e taxa
de compressão mais alta — entre 10,5:1 e 12,5:1, dependendo do
mercado e do ano. Segundo a Jaguar, o consumo de combustível estava bem
menor. A potência melhorava para 312 cv e o torque para 44 m.kgf (os
valores na Europa eram um pouco maiores que nos EUA).
Continua
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