Hora do comercial: a frente do Sierra associada a uma longa caçamba resultava no P100, picape de 4,90 metros para mais de uma tonelada
 
Para ler
The Sporting Fords - Vol. 4 - Sierras - por Graham Robson, editora Motorbooks International. O livro de 128 páginas, parte de uma série que aborda o passado esportivo da Ford europeia, mostra as versões Cosworth do Sierra. Publicado em 1991.

Ford Sierra Cosworth (Classics in Color) - por Dennis Foy e Terry West, Motorbooks International. Em 96 páginas, os autores mostram as versões mais apimentadas do modelo e sua atuação nas pistas, nos ralis e nas ruas. O livro é de 1992.
 

A grade lançada no Sapphire Cosworth, estendida a toda a linha para 1990, e retoques internos eram as últimas mudanças da linha Sierra

O Sierra perdeu em velocidade máxima para o alemão e em aceleração para o italiano, mas não foi o pior em nenhum dos quesitos de desempenho. Também recebeu elogios pelo acabamento, conforto e o menor consumo dos três. O que a publicação criticou foi o comportamento arisco, em que a traseira saía de repente conforme a pressão no acelerador: "É quase tão rápido quanto o M3 em curva, mas com algo de mau caráter. Em respeito ao antigo Cosworth de dois volumes, o progresso é notável", a revista reconhecia, mas "ele exige soluções rápidas e acertadas".

Uma curiosa variação do Sierra ganhava as ruas em 1988: o P100, um picape que combinava a metade dianteira do carro a uma caçamba bem comprida. Era um utilitário sem pretensões de lazer, com enorme distância entre eixos de 2,91 metros, comprimento de 4,90 m e suspensão traseira com eixo rígido e feixes de molas semi-elíticas, adequada à capacidade de carga de 1.075 kg — acima de muitos picapes maiores. O único motor oferecido era o 1,8 turbodiesel de 75 cv e 15,3 m.kgf, também adotado nos automóveis da linha no lugar do veterano 2,3. A Ford chegou a oferecer uma versão Supercab, com cabine pouco mais longa, e o pacote California com adesivos decorativos, mas sua publicidade sempre deixou clara a vocação comercial.

No XR4x4, o motor V6 tinha a cilindrada ampliada para 2,9 litros em 1989, mantendo-se com 150 cv. No ano-modelo seguinte a grade do Cosworth era aplicada a toda a linha, como que indicando que carros precisam mesmo ter grade — o Passat, que perdera a sua em 1988, também a teria de volta em 1993 e o ciclo se repetiria mais tarde no Honda Civic. Outras mudanças eram painel renovado, volante ajustável em altura e a opção de novo motor de 2,0 litros com injeção, 120 cv e 17,4 m.kgf, que substituía o V6 2,9 no caso das versões 4x4. Foram as últimas alterações aplicadas ao Sierra, que completou 10 anos de mercado com o mesmo desenho básico pouco antes de encerrar sua carreira.

Em fevereiro de 1993 a produção chegava ao fim após 2,7 milhões de unidades, abrindo espaço para o Mondeo, de linhas menos pessoais — para alguns, inexpressivas — e a configuração predominante, com motor transversal e tração dianteira. Apesar de suas interessantes versões, o Mondeo não pôde repetir (ou a Ford talvez não quisesse?) o impacto que o Sierra causou por seu estilo, nem impressionou tanto quanto as edições Cosworth do antecessor ou teve participação em ralis. Por essas razões, o marcante Sierra tem seu lugar assegurado na galeria de destaques da história da Ford europeia.

Décadas perdidas
Na primeira metade dos anos 80, o segmento de carros médio-grandes do mercado nacional recebeu dois importantes lançamentos, Monza e Santana. Esperava-se que a Ford respondesse à altura com o Sierra feito no País, àquele tempo de mercado fechado a importações. Unidades do hatch e da perua foram fotografadas em testes e a imprensa chegou a prever seu lançamento para 1985.

Talvez pela recessão econômica, talvez por um equívoco de marketing, o Sierra brasileiro nunca vingou — apesar de argentinos e venezuelanos terem produzido o modelo e, por ironia, o motor usado no país vizinho ao sul ser feito justamente em Taubaté, SP. Em seu lugar continuamos com o Del Rey, tão limitado em espaço interno e desempenho.

Com as negociações por um mercado comum entre Brasil e Argentina, em 1988 o Sierra voltou a ser cotado, desta vez em um esquema de permuta com a exportação do Escort para a Argentina. O Mercosul, porém, levou anos para se concretizar e chegou depois da abertura do mercado aos importados, que trouxe rápida renovação. Com o Sierra argentino já defasado (no desenho e na mecânica, que nem sequer oferecia injeção) e o Mondeo em vias de ser lançado na Europa, não havia mais sentido em sua vinda.
Tudo o que a Autolatina — a associação Ford-Volkswagen que vigorou de 1987 a 1995 — pôde nos oferecer foi o Versailles, um estranho no ninho da Ford, pois era nada mais que um Santana maquiado. Em vez da perua Sierra, a Ford local ganhou a Royale, uma Quantum de três portas, decisão incoerente tomada para evitar confronto com o modelo da VW. Mais tarde veio o Mondeo em duas gerações, uma de relativo sucesso e a outra de fraquíssimas vendas, apesar dos muitos atributos. A Ford só acertaria mesmo no segmento com o Fusion, em 2006, para o que concorreu a isenção de Imposto de Importação para carros mexicanos.

Como teria sido se, em um certo dia de 1983 ou 1984, alguém na Ford batesse o pé pelo Sierra verde-e-amarelo? Com o motor local de 2,3 litros (os concorrentes tinham 1,8 litro na época e 2,0 mais tarde) e um estilo muito moderno, poderia ter obtido o mesmo sucesso que fez na Europa e na Argentina. O prestígio da marca nesse importante segmento seria fortalecido, em vez de se manter a imagem de carro lento e de suspensão mole do Del Rey.

A Ford poderia ter oferecido aos brasileiros, 20 anos antes, um topo-de-linha que despertasse o desejo no consumidor e elevasse a reputação da marca como um todo.
Os especiais

Na Inglaterra, a preparadora JanSpeed não demorou a lançar em 1983 o que ela anunciou como "o Sierra mais veloz do mundo" (acima). Seu XR4i de 2,8 litros com turbo chegou a 225 km/h no teste da revista Motor e, no da Auto Performance, só precisou de sete segundos para arrancar de 0 a 96 km/h. A empresa também aplicava para-choques e aerofólio na cor da carroceria, rodas mais largas e suspensão rebaixada.

O título, porém, não duraria para sempre: a também britânica Turbo Technics elaborou as muito rápidas versões Minker. O K1, de 1988, adotava dois turbos e outras alterações no motor V6 de 2,8 litros do XR4x4, o bastante para obter 320 cv, alcançar máxima de 240 km/h (limitada por segurança) e acelerar de 0 a 100 km/h em 5,3 s.

Suspensão mais firme com amortecedores Koni e rodas de 15 pol com pneus 205/50, aliados à tração integral, cuidavam do comportamento dinâmico. Em 1992 a empresa mostrava o Minker 323 (acima), também com base no XR4x4. Além do motor V6 de 320 cv, ganhava para-choques redesenhados com faróis auxiliares no dianteiro, grade maior e novo defletor traseiro. Um 323 sem limitador de velocidade foi confrontado ao Sierra RS Cosworth de fábrica pela revista Fast Ford. Não só o superou em muito em velocidade — 272 contra 235 km/h —, como também em aceleração, ao fazer de 0 a 96 km/h em espantosos 4,8 s ante 6,6 s do Cosworth.

Ficha técnica
_ Sierra XR4i
(1984)
Merkur XR4Ti
(1985)
Sierra RS Cosworth
(1986)
Sierra Sapphire RS
Cosworth (1990)
MOTOR
Posição e cilindros longitudinal, 4 em linha
Comando e válvulas por cilindro no bloco, 2 no cabeçote, 2 duplo no cabeçote, 4
Diâmetro e curso 93 x 68,5 mm 96 x 79,4 mm 90,8 x 77 mm
Cilindrada 2.792 cm3 2.299 cm3 1.993 cm3
Taxa de compressão 9,2:1 8:1
Potência máxima 150 cv a 5.700 rpm 172 cv a 5.200 rpm 204 cv a 6.000 rpm 224 cv a 6.250 rpm
Torque máximo 22 m.kgf a
4.300 rpm
29 m.kgf a
3.800 rpm
28,1 m.kgf a
4.500 rpm
29,6 m.kgf a
3.500 rpm
Alimentação injeção multiponto injeção multiponto. turbo e resfriador de ar
CÂMBIO
Tipo, marchas e tração manual, 5, traseira manual, 5, integral
FREIOS
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a tambor a disco
Antitravamento (ABS) não sim
SUSPENSÃO
Dianteira independente, McPherson
Traseira independente, braço semi-arrastado
RODAS
Pneus 195/60 R 14 205/50 R 15
DIMENSÕES
Comprimento 4,42 m 4,53 m 4,42 m 4,49 m
Entre-eixos 2,61 m
Peso 1.155 kg 1.325 kg 1.240 kg 1.300 kg
DESEMPENHO
Velocidade máxima 209 km/h 205 km/h 238 km/h ND
Aceleração de 0 a 100 km/h 7,8 s 8,0 s 6,8 s ND
ND = não disponível

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