Um companheiro e tanto

Produzido por 20 anos em duas gerações, o Ford Escort trouxe
inovações ao mercado e foi sonho de muitos nas versões esportivas

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação e arquivos pessoais*

Disponível com três ou cinco portas, nosso Escort vinha em 1983 com as mesmas linhas do europeu; o acabamento Ghia era o mais luxuoso

A família reunida: opções para todos os gostos, mas não para todos os bolsos, pois o alto preço inicial o colocava diante de modelos médios

Ele trazia soluções modernas na mecânica, como a suspensão traseira independente, mas os motores CHT de 1,35 e 1,6 litro já eram antigos

Dos fabricantes hoje instalados no Brasil, a Ford é talvez o que ocupa há mais tempo o segmento de carros médios: começou em 1968 com o Corcel de primeira geração, que nove anos mais tarde deu lugar ao Corcel II. Apesar de derivados de um projeto da francesa Renault, eram automóveis com grande participação brasileira no desenvolvimento, em especial o segundo modelo.

No início da década de 1980, com o advento do "carro mundial", a ordem era compartilhar projetos e componentes em âmbito global para reduzir custos. Assim, enquanto derivava do Corcel II o Del Rey para atender ao segmento de luxo, a Ford começava no Brasil a concepção de um carro médio-pequeno para preencher uma lacuna abaixo deles: o Escort, que havia sido redesenhado na Europa em 1980 com motor transversal, tração dianteira e suspensão independente nas quatro rodas.

Embora inédito aqui, no Velho Continente o Escort (nome que significa acompanhante ou escolta em inglês) já chegava à terceira geração desde o modelo inicial de 1968 (leia história), sendo por isso identificado como Mk III. Mark ou Mk é como os ingleses designam as gerações e reestilizações dos automóveis e, como o Reino Unido sempre foi um fortíssimo mercado para a Ford, essa forma de distinguir as fases de sua história atravessou o Atlântico e é usada também aqui por seus admiradores.

O Escort nacional nasceu em agosto de 1983. Idêntico na aparência ao europeu, trazia versões de três e cinco portas (lançadas em simultâneo, primeiro caso no Brasil) e linhas atuais e agradáveis, em que a traseira incluía um "meio volume" adicional aos dois que, em geral, formam um hatchback. O coeficiente aerodinâmico (Cx) 0,385 era o melhor do mercado na época e o interior trazia o bom acabamento já tradicional da marca. A garantia contra corrosão, de três anos, seria a maior do País até que a Fiat lançasse a sua de quatro anos com o Uno.

Outros destaques eram os avantajados retrovisores externos, questão de segurança, e a grade de lâminas com função aerodinâmica de desviar o ar em altas velocidades, como no Corcel II. Sob o capô, no entanto, o Escort nacional era bem diferente do europeu. Enquanto lá havia sido introduzida a nova geração CVH, com comando de válvulas no cabeçote e até uma versão com turbocompressor, por aqui foi mantido do Corcel II o veterano motor Renault de comando no bloco, ainda que evoluído.

A nova denominação CHT, sigla para câmara de alta turbulência, indicava as câmaras de combustão retrabalhadas para melhor desempenho e menor consumo. Havia também novidades em admissão, escapamento, comando de válvulas e taxa de compressão. Nas versões básica, L e GL — em ordem ascendente de preço — o CHT de 1,6 litro era oferecido a álcool (com potência de 73,4 cv e torque de 11,6 m.kgf) e a gasolina (com 65,3 cv e 10,6 m.kgf). As duas versões mais simples podiam ainda vir com a unidade de 1,35 litro a álcool, de 63,5 cv, ou a gasolina, com 56,8 cv. Os motores não ofereciam esportividade ou grande desempenho, mas eram robustos e bastante econômicos.

O câmbio tinha quatro marchas com opção pelo de cinco. Inovação era o ajuste automático da folga de embreagem, por meio de catraca no próprio pedal, que o mantinha na mesma posição apesar do desgaste do disco. Sistemas mais simples de folga zero, usados pela Fiat no Spazio e depois por outras marcas, faziam o pedal subir cada vez mais.

Revista para o piso brasileiro, a suspensão do Escort era independente nas quatro rodas. Seu rodar era macio, mas a estabilidade deixava a desejar e, em arrancadas mais fortes, as rodas variavam em convergência, deixando a direção imprecisa. O problema era que a suspensão dianteira usava o conceito McPherson original, em que o controle longitudinal da roda depende do estabilizador — solução que seu criador Earl S. McPherson não previra, em 1946, para tração dianteira. Nesse caso, o braço da suspensão deve ser triangular ou articular-se em dois pontos na estrutura, como é visto hoje. Continua

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* Bob Sharp colaborou no texto original que deu origem a este artigo

* Agradecimentos a Claudinei Garcia (XR3 conversível 1985), Eduardo Bregaida (XR3 SE75 1994), Fabrício "XR3" (XR3 conversível 1994), Marcio Santos (XR3 1989 e XR3 conversível 1992), Paulo Ferreira Jr. (XR3 Formula 1991), Roberto Fontanezi Filho (XR3 1988), Rodrigo Évora (XR3 1995; fotos de Felippe Seifert) e Valdinei Gomes (Racer 1996), membros do Escort Clube, e a Reginaldo de Campinas (XR3 1986 e GL 1995) pela cessão de fotos de seus arquivos pessoais

Data de publicação: 7/5/11

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