Desventuras em série

Conhecido como o maior fracasso da indústria, o
Edsel enfrentou problemas mais sérios que seu estilo

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

Em 1948, sob direção de Henry Ford II, a Ford Motor Company se deu conta que faltava cobertura de níveis de mercado em seu catálogo de marcas. A idéia de uma quarta divisão para o grupo já composto pela acessível Ford, a intermediária Mercury e a luxuosa Lincoln foi sendo acalentada até a Guerra da Coréia colocar o projeto na geladeira, em 1950. Uma vez encerrado o conflito, três anos mais tarde, a nova marca ganhou impulso. Afinal, até meados dos anos 50, as outras duas grandes de Detroit tinham uma família maior de divisões.

A General Motors possuía um leque que ia da Chevrolet, passava pela Buick, Oldsmobile e Pontiac e chegava ao topo com a Cadillac, sem mencionar a linha de utilitários GMC. A Chrysler matinha a divisão homônima e a Imperial como as mais sofisticadas da empresa, acima de Plymouth, Dodge e DeSoto. Os anos 50 foram uma época de prosperidade sem precedentes para Detroit, evidenciada no estilo dos automóveis, no detalhamento do desenho e na crescente oferta de motores.

A grade era o ponto crítico do desenho, que no restante mostrava sobriedade

Essa antiga tendência à especificação levou a Ford a concluir que, ao perder mercado para as outras companhias, precisava mesmo enriquecer seu cardápio de marcas. Se um dono de Ford quisesse subir em nível de conforto, acabamento e status, mas não tivesse condições de adquirir um Lincoln, encontraria como única opção a Mercury. Na mesma época, porém, as divisões das concorrentes antes focadas na simplicidade e em preços acessíveis começavam a se confundir com as intermediárias, à medida em que motores potentes e desenho caprichado enriqueciam seus produtos. O melhor exemplo disso era a Chevrolet.

A marca de entrada da GM já tinha motores V8 e o único carro esporte da companhia, o Corvette. Para solucionar essa defasagem e diversificar seus produtos com uma nova divisão, a Ford começou a desenvolver o chamado carro E, que deveria chegar às lojas no fim de 1957 para a linha 1958. Como era praxe até 1960, as marcas americanas ofereciam basicamente o mesmo veículo com variados níveis de acabamento, as chamadas séries. Portanto o carro E seria o único modelo vendido pela nova marca — jamais pela divisão Ford, como muitos acreditam.

A versão Citation, mostrada nestas ilustrações (acima o cupê hardtop), era a mais
luxuosa da linha, que compreendia sete opções de acabamento e sete de carroceria

Mais de 6.000 nomes foram considerados para a nova divisão, vindos das mais improváveis fontes. Uma delas foi a poetisa Marianne Moore, que teria sugerido "pérolas" como Resilient Bullet (Bala Elástica), Mongoose Civique (Mangusto Cívico), Varsity Stroke (Pancada do Time da Escola), Pastelogram (sem tradução, algo como Pastelograma), Andante con Moto (Andante com Movimento) e até Utopian Turtletop (Casco de Tartaruga Utópico). Com opções absurdas desse nível, é de se compreender a escolha que a Ford fez...

O renomado publicitário Fairfax Cone, da agência de Foote, Cone and Belding, chegou a se mostrar contrário ao nome que a Ford decidiria adotar, dizendo que seria o beijo da morte para a nova linha de produtos. Ele preferia algo como Ranger, Pacer, Corsair ou Citation — denominações que, por fim, seriam usadas nas séries do modelo. O nome definitivo da marca era uma homenagem ao filho único de Henry Ford e pai de Henry II (leia boxe), seu prenome: Edsel.
Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 8/12/07

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade