Pela concepção única dos DKWs, a publicidade não economizava conteúdo técnico: da roda-livre ao número de peças do motor, tudo era explicado

No raio X de um cupê alemão, as características da linha: chassi em "X", tração dianteira, motor a dois tempos com o radiador atrás dele

Sem qualquer requinte, a Caiçara buscava o menor preço possível, mas fracassou em um tempo em que ter carro, por si só, era símbolo de posses

Os carros da Vemag foram os únicos durante seu ciclo de produção com tração dianteira, que voltaria em 1968 com o Ford Corcel. A ausência de cardã para levar potência do motor ao eixo traseiro, necessário nos carros grandes da época (Aero-Willys, FNM 2000 JK e Simca), permitia que o assoalho fosse plano à frente e atrás para maior conforto dos passageiros centrais. Mas a tração provocava reações incomuns de direção, por causa das juntas universais da tração — as eficientes juntas homocinéticas de esferas ainda não eram usadas.

Foi também a linha DKW a única a contar na época com embreagem automática, que eliminava o pedal. Disponível de 1964 em diante, o sistema mecânico-pneumático era produzido pela Fitchel & Sachs (hoje Sachs Automotive) e chamava-se Saxomat. Sua atuação era bem diferente dos mecanismos de mesma proposta que surgiriam, décadas depois, no Mercedes-Benz Classe A, no Palio e no Corsa: tinha um platô de embreagem com ação centrífuga e uma unidade auxiliar a vácuo para as trocas de marcha com o veículo em movimento. O comando da unidade dava-se por um microinterruptor na alavanca de câmbio.

As peculiaridades dos Vemags deram origem a mitos dos mais variados. O fabricante anunciava a exclusiva tração dianteira como vantagem, com a analogia em sua publicidade de que "o carro deve ser puxado pelos bois, não empurrado". Mas a novidade causava dúvidas e dava espaço para lendas, como a de que o motorista deveria fazer as curvas sempre acelerando, para as rodas dianteiras "puxarem" o carro... Como se sabe, o ideal é manter velocidade constante, para que a força de tração não contribua para se chegar ao limite de forças admitido pelos pneus (saiba mais). Sem falar na menor aderência em subidas enlameadas, onde o conjunto traseiro do VW era insuperável.

Outro ponto de discussão era a lubrificação do motor. Sempre havia quem recomendasse adicionar óleo à gasolina em percentual acima do especificado, para "lubrificar melhor" — na prática, só aumentava a emissão de fumaça e a carbonização. Outra recomendação inadequada, mas feita pela própria fábrica durante algum tempo, era de desligar o motor com o pé no fundo do acelerador, com a noção de que isso o manteria lubrificado. O que se conseguia era fazer combustível e óleo não queimados saírem pelo escapamento ao dar nova partida. Enfim, o sistema de ignição com três platinados foi alvo do desconhecimento técnico de muitos, que viam risco triplicado de ficar na estrada por falha do componente, quando na verdade era o oposto.

A evolução da linha   Além do lançamento do Fissore (leia adiante), os DKWs nacionais tiveram mudanças técnicas e de estilo. Em 1960 ganhavam câmbio todo sincronizado, o primeiro em um carro nacional. Curiosamente, a engrenagem de primeira marcha permaneceu com dentes retos — também único caso na produção brasileira e talvez na mundial. O "cantar" da engrenagem continuou, apesar de passar a sincronizada e não ser mais do tipo deslizante, mas de engate permanente com as demais marchas.

Os nomes Belcar (provável contração de beautiful car, ou carro bonito em inglês) para o sedã e Vemaguet para a perua eram adotados em 1962. O jipe já se chamava Candango desde 1960, uma homenagem aos trabalhadores que construíram Brasília. As linhas não haviam mudado, mas os carros exibiam adaptações locais, como diferencial mais curto, reforços nos pára-choques e o logotipo DKW-Vemag por extenso no lugar do emblema da DKW alemã. No Belcar de 1962 as portas traseiras avançavam sobre os pára-lamas, de modo a aumentar o vão de acesso e permitir que os vidros baixassem por inteiro. O conteúdo nacional já superava 95%. Opção comum era o teto na cor branca, ideal para nosso clima por absorver menos calor.

A Vemaguet ganhava também em 1962 uma versão despojada, a Caiçara. Para conter o preço, vinha em apenas duas cores (bege e azul claro, sempre com interior vermelho) e com pára-choques, grade e calotas pintados em vez de cromados. Por dentro o acabamento era precário: forração das portas em Eucatex coberta por plástico, apenas um pára-sol, painel sem marcadores de combustível e temperatura. O compartimento de bagagem deixava à mostra a chapa das laterais e da tampa traseira. Não havia roda-livre. Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade