No interior a simplicidade era a nota dominante. Um diminuto módulo com instrumentos e luzes-piloto era um dos poucos elementos do painel em chapa de aço; o grande volante tinha dois raios e não havia itens de luxo. Por outro lado, a possibilidade de reclinar os encostos dianteiros e de rebater o traseiro o tornava muito prático, seja para um descanso nas paradas de viagem, seja para carregar mais bagagem. E, pela primeira vez no segmento, o calor do radiador do motor era usado para desembaçar o pára-brisa e aquecer o interior no rigoroso inverno europeu.

Em uma Europa que se recuperava da guerra e consumia mais e mais automóveis, o 600 chegava em um momento oportuno, dando à Fiat condições de oferecer mais espaço, conforto e desempenho

Na parte mecânica, havia pouco em comum entre o 600 e o Topolino, a começar pelo motor traseiro — de certo modo um retorno às origens, já que o primeiro Fiat, em 1899, trazia na parte posterior seu dois-cilindros de 700 cm³ e 3,5 cv. A opção tinha suas razões de ser: a Volkswagen vendia seu Fusca (apelidado de Maggiolino na Itália) com grande êxito e, na França, a Renault havia seguido o mesmo caminho com o 4CV. Além de evitar as perdas de energia e de espaço da configuração tradicional, de motor dianteiro e tração traseira, o recurso desfrutava maior confiança do público que o esquema tudo-à-frente, ainda pouco utilizado.

Em posição longitudinal, o propulsor do 600 tinha quatro cilindros em linha e refrigeração a água. Inicialmente tinha cilindrada de 633 cm³, um carburador Weber, potência de 21,5 cv e torque de 3,9 m.kgf, com um câmbio de quatro marchas (a primeira não sincronizada). A velocidade máxima ficava em 95 km/h e o consumo, muito moderado, obtinha média de 17 km/l. O carro usava estrutura monobloco e suspensão independente nas quatro rodas. Os freios eram a tambor, o tanque comportava 27 litros e o peso limitava-se a 585 kg.

O interior de um modelo 1960 mostra a simplicidade do carrinho, que trazia boas soluções como a reclinação dos bancos dianteiros e traseiros

Minivan compacta   O 600 foi um sucesso imediato de público e crítica. O ritmo inicial de produção, de 624 unidades por dia, na fábrica de Mirafiori passou a 839 em dois anos para atender à demanda. Nos primeiros 12 meses foram despejados nas ruas 300 mil exemplares do carrinho. Boa parte desse êxito era impulsionada pelo preço de apenas 590 mil liras, menor que o do próprio Topolino. Planos de pagamento em até 24 meses contribuíam para o tornar acessível.

Um ano depois do lançamento, em 1956, chegavam novidades: um amplo teto solar de lona, item muito apreciado pelos europeus, e vidros descendentes nas portas, no lugar dos corrediços. Mais importante, porém, era a estréia da minivan compacta 600 Multipla. Considerada a pioneira nesse segmento que hoje tanto representa, ela combinava uma frente quase chata, com alguma semelhança à Kombi da VW, a uma traseira semelhante à do automóvel 600. Os bancos dianteiros estavam sobre o eixo e suas portas continuavam "suicidas", enquanto as traseiras tinham abertura no sentido normal de hoje. A vista lateral era tão estranha que quase se podia confundir entre o carro indo e vindo...
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Nas telas

Colaboração: Francis Castaings

O 600 pode ser visto em diversos filmes europeus. Em Trafic, de 1971, o impagável Senhor Hulot, interpretado pelo genial Jacques Tati e pelo mecânico, interpretado por Tony Knepper, fazem uma tremenda sátira do trânsito francês. Esta comédia é muito atual, pois o tráfego nas grandes cidades só piora. No filme aparece um modelo branco com teto solar. Os detalhes do comportamento dos motoristas dentro dos carros, gestos e olhares são de tirar qualquer pessoa do sério.

Um modelo vermelho aparece em As Dançarinas (Les valseuses), de 1974, comédia com Gérard Depardieu e Patrick Dewaere. No também  francês Faut pas prendre les enfants du bon Dieu pour des canards sauvages (1968), com Françoise Rosay, Bernard Blier e Marlène Jobert, está em cena o curioso 600 Jolly (foto).

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