por Iran Cartaxo Defender blindado: um "tanque de
guerra"
Guilherme Beltrão de Almeida |
São poucas as consultas já atendidas por este Consultório que não visam a um desempenho esportivo do automóvel. Algumas preparações pretendem apenas dar agilidade e segurança em viagens, força no trânsito, ou recuperar o desempenho perdido devido a alguma alteração no veículo ou aplicação específica. Neste rol de preparações, por assim dizer, "politicamente corretas", estão muitas vezes carros equipados com motores um-litro -- em geral muito fracos --, picapes e carros muito pesados, e automóveis que puxarão trailers. Mas nunca um caso uniu desta forma tantos quesitos para justificar uma preparação. Neste Defender o parco desempenho original já pediria uma preparação para dar mais segurança em viagens, principalmente nas ultrapassagens. A isto se soma o aumento de peso que terá pela blindagem, e realmente tem-se um caso em que se pode considerar a preparação uma necessidade. |
As curvas de potência (as mais altas) e de torque estimadas para o Defender 110 Tdi 200 original (em azul); com motor MWM 2,8-litros turbodiesel (em verde); e com motor GM 6,5-litros V8 turbodiesel (em vermelho) |
O aumento de peso que
decorre da blindagem prejudica um pouco o desempenho
original. Se o carro não fosse preparado, a maior perda
recairia sobre a agilidade: a simulação indica que teríamos
1,2 s a mais no tempo de aceleração de 0 a 100 km/h. Para solucionar esse caso haveriam duas vertentes de preparação. Uma seria retrabalhar o motor original, que dispõe de turbo e pode ter sua potência e torque elevados facilmente. A outra é a troca do motor por um mais forte, que foi indicada pelo proprietário. A preparação do motor original basicamente consistiria na elevação da pressão de sobrealimentação fornecida pelo turbo, e na elevação da vazão de combustível para atender às novas necessidades. Claro, podem-se usar em um motor diesel muitos dos recursos de preparação aplicados em motores ciclo Otto (gasolina, álcool), mas devido à mecânica mais cara destes motores, uma troca de motor é em muitos casos mais viável. Tendo em vista essas limitações na preparação do motor original, vejamos onde ele poderia chegar. Para superar o novo motor MWM Sprint 2,8-litros turbodiesel do S10 -- que não é um Maxion, conforme a informação que o leitor tinha -- bastaria elevar a pressão de sobrealimentação em mais 0,4 kg/cm², o que resultaria em 138 cv e 34,4 m.kgf de torque. Isso pode ser feito, mas seria insuficiente para atingir o desempenho traçado como objetivo para viagens: resultaria em 144 km/h de velocidade final e 17,0 s de aceleração, pois nesta o peso da blindagem faz mais efeito. Uma maior preparação, com mais aumento de pressão, conseguiria atingir os objetivos mas começaria a tornar tudo mais complicado e caro. Pode exigir a troca do sistema de alimentação, que não conseguirá suprir a quantidade de combustível extra, além de muitas outras adaptações necessárias para o motor ter um bom funcionamento e durabilidade. Se 138 cv não foram suficientes, então nem haveria o que falar dos 132 cv do motor Maxion. A curva de torque deste motor nem mesmo seria mais plana do que a obtida com a preparação do motor original, ou seja, não traria maior agilidade no trânsito. Mas, desde que este motor esteja disponível, a substituição do original por ele não será difícil, apesar da marca diferente. Vale lembrar que o S10 utilizava, até há pouco, o mesmo Maxion 2,5-litros do Defender. A construção e projeto original do Defender ajudam nesta tarefa. Bastaria adaptar os novos pontos de apoio e fazer uma flange para o câmbio original, que pode ser mantido, pois é superdimensionado e suporta potência muito superior aos 113 cv. Além disso, pode ser preciso efetuar alterações menores nos sistemas agregados, como refrigeração, ou em acionamentos e acessórios, para alocar tudo no cofre do Defender, que é grande e torna o serviço mais fácil. Logo, a solução para o desempenho recai mesmo no kit americano. É um motor muito forte (seu maior predicado talvez seja equipar o famoso Hummer; saiba mais) e supera com folga o desempenho objetivado. Mas nem tudo são flores: trata-se de um motor pesado, grande e de baixa eficiência. A própria Land Rover usa, em outra versão do Defender 110 (não disponível no Brasil), um motor V8 de 4 litros que consegue quase a mesma potência do GM, 190 cv a 4.750 rpm (o torque é menor: 32,6 m.kgf a 3.000 rpm). Os regimes do motor Rover são maiores se comparados ao GM, mas ambos são suficientemente baixos para uso urbano. O motor da Land Rover é bem mais leve e prejudicaria menos a distribuição de peso e, em consequência, a estabilidade. Caso seja possível consegui-lo, é uma boa opção. Mas o motor GM não é um caso sério: se for mais fácil ou barato adquiri-lo, não hesite, pois a distribuição de peso não é tão crucial em um carro já bastante pesado, e que ficará mais com a blindagem. E o Defender, como utilitário, está mecanicamente apto ao peso extra. Foram simulados os desempenhos com os três motores, sendo as duas preparações considerando o peso extra da blindagem. Observe os resultados esperados: |
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A baixa eficiência volumétrica
do motor GM 6,5 denuncia a opção pela força bruta, sem
as inovações tecnológicas presentes em motores diesel
modernos. Mas isso não condena o motor -- ele só deve
ser visto com olhos mais críticos. Quanto ao câmbio e suspensão, não será necessário muita coisa para adequá-los ao novo desempenho. São superdimensionados para o motor original e, na preparação mais pesada, o pouco que for necessário deverá estar presente no kit. Apenas os freios merecem um cuidado a mais. Em um carro tão pesado esse conjunto sofre bastante, pelo que se pode pensar na adaptação de um conjunto de maior diâmetro, com pinças de maior carga, que podem ser retiradas de um veículo ainda mais pesado. Esse serviço pode requerer adaptações, que não são muito complexas, mas devem ser feitas com cuidado, pois envolvem o local onde as rodas são presas e o importante sistema de freios em si. O ideal é avaliar a capacidade de frenagem após a preparação e, só então, decidir se esta adaptação é necessária. As rodas e pneus estão aptos também a encarar a nova configuração. Mas, para uso em viagens em um carro tão pesado, uma superfície de contato maior é bem vinda. Pneus na medida 235/70 ou similar serão mais adequados e darão mais segurança, tanto nas frenagens quanto nas curvas. Com estas modificações, seu Defender blindado se tornará um carro mais ágil no trânsito e seguro nas ultrapassagens. Claro que não se deve, mesmo, perder de vista que se trata de um carro pesado, alto e limitado em comportamento dinâmico. Mas com consciência pode-se ter um verdadeiro "tanque de guerra", que topa qualquer desafio fora de estrada e que pode ser usado em viagens ou para levar as crianças à escola sem maiores inconvenientes. |
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