Consultório de Preparação
Remapeamento ou módulos
adicionais: a polêmica
De acordo com o texto "Turbo em Gol GTi com
alta quilometragem",
tomo a liberdade de fazer algumas considerações:
1. A adição de eletrônica para gerenciar alterações, tanto
do sistema de ignição como de injeção, não apresenta maior
risco de falhas, desde que o equipamento a ser instalado seja de
boa qualidade. A probabilidade de falhas é muito maior em
dispositivos mecânicos, pelas próprias características
intrínsecas do dispositivo. Tão importante quanto o equipamento
é a instalação e a correta utilização do mesmo, o que
infelizmente não corresponde à realidade da maioria das
oficinas, já que a eletrônica no gerenciamento de motores é
relativamente recente no Brasil e, além da resistência natural
às novas tecnologias, são poucas as possibilidades de
treinamento adequado disponíveis aos mecânicos.
2. Com as modificações mecânicas sugeridas não existe a
necessidade de implementar injetores adicionais, bastando apenas
incrementar o débito de combustível dos injetores originais,
através de um módulo adicional, mantendo também a ignição
sem alterações, uma vez que o módulo EZK original possui
sensor de detonação, atuando de forma satisfatória na
prática, mesmo com adição de turbocompressor.
3. O sistema original de injeção do Gol em questão é
analógico, não existindo chip para ser remapeado. O sistema
LE-Jetronic não permite qualquer tipo de alteração em suas
características para melhorar o rendimento de motores
turbocomprimidos. Apesar do módulo EZK ser digital e
microprocesado, não interfere no débito da injeção de
combustível, fornecendo apenas o sinal de referência de
sincronismo para a LE-Jetronic. O máximo que se pode fazer é
alterar a curva de atuação da ignição ou o
deslocamento/inibição da limitação de giros do motor.
4. Concordo quanto a falta de profissionais gabaritados para
alterar a programação do gerenciamento do motor, pelo menos em
parte. Os sistemas disponíveis para alterar as características
dos módulos originais não interferem na programação
propriamente dita, mas tão somente nos parâmetros. Ou seja, o
mapeamento é passível de alterações, sem contudo alterar o
gerenciamento, proporcionado pela programação. Um sistema
original que, por exemplo, disponha de sensor de depressão leva
em conta, em sua programação, apenas a monitoração deste
sensor para pressões negativas. Ficando o preparador
impossibilidado de alterar esta característica, o máximo que
pode fazer é alterar o débito de combustível em função da
rotação, alterando apenas os parâmetros originais, o que
obviamente é insuficiente para motores turbocomprimidos, que
apresentam uma dinâmica de pressão variável em relação à
rotação do motor. Em motores aspirados que sofreram
alterações é possível uma reprogramação de parâmetros
otimizada, nem sempre atingida na prática, porém para motores
turbocomprimidos esta prática tem se mostrado na melhor das
hipóteses apenas sofrível.
5. Outra coisa, de menor relevância, é a disseminação do
conceito que todo chip é passível de reprogramação. Chip, na
realidade, é o nome genérico para qualquer dispositivo
eletrônico que agregue vários componentes em um substrato
único, podendo ter características tanto analógicas como
digitais. Sendo o chip em questão uma memória tipo EPROM,
EEPROM ou FLASH, o mesmo é passível de reprogramação. O mesmo
ocorre com alguns tipos de microprocessadores que incorporam em
suas estruturas as memórias citadas. Acontece que nem sempre é
possível alterar a programação, seja por falta de condições
técnicas ou por impossibilidade de remover o componente do
circuito. Além do que é cada vez mais comum a utilização de
microprocessadores que incorporam memória tipo ROM ou PROM,
impossíveis de serem alteradas e em muitos casos até de serem
lidas.
6. Outro aspecto pouco observado é o alto risco de danificar um
módulo eletrônico nestas "incursões". O alto custo
do módulo e na maioria dos casos a inexistência do produto para
reposição são normalmente negligenciados, e não são poucos
os casos de módulos danificados em tentativas de alterar suas
características.
7. Soma-se a isto a perda da garantia e a originalidade, muitas
vezes impossível de ser restaurada, e será fácil perceber que
a alteração do módulo original não compensa, sendo mais
barato, prático e confiável a implementação de circuitos
adicionais, que existem não só no Brasil como no exterior.
Roberto Sukys
sukys@sti.com.br
Agradecemos a atenção dada à nossa receita de preparação
para o Gol GTi, Roberto. É com o debate com os leitores que
pretendemos fazer do Best Cars um site cada vez mais
interativo e confiável. Dividimos sua mensagem em sete itens,
cujas respostas se seguem:
1. Não citamos ou recomendamos o emprego de componentes
mecânicos no trecho citado. Quanto à necessidade de recorrer a
profissionais bem-preparados, estamos certos de nunca ter
sugerido o contrário.
2. De fato não são necessários bicos adicionais; basta o
procedimento que você cita -- desde que se use um módulo capaz
disso. Mas há preparações que fazem uso de bicos adicionais e
atingem ótimos resultados, sobretudo para pressões bem
elevadas, em que os bicos originais podem encontrar dificuldade
para manter uma alimentação regular. Quanto à ignição EZK,
funciona a contento para pressões de até 0,4 kg/cm2. Com
pressão mais altas o atraso ordenado pelo módulo EZK não será
suficiente, e o carro apresentará detonação.
3. Você está correto, Roberto. O sistema é realmente como
você descreveu, mas na consulta referimo-nos ao remapeamento do
chip do módulo EZK, para alterar justamente a curva de
ignição. Não mencionamos como fazer a alteração da
injeção, pois o trecho traz uma explicação genérica e não
desce a este nível de detalhes.
4. Os sistemas de caixa externa efetivamente não alteram a
programação, e não informamos o contrário na consulta. O
inconveniente que você descreve é real, mas é muito comum
entre os preparadores aumentar a injeção com base na rotação
sem que isso cause problemas -- desde que estejam capacitados a
ajustá-la ao funcionamento do turbo em todas as condições de
uso. Aguardamos ansiosos o lançamento de um sistema que aceite a
informação da pressão do turbo, em tempo real, como
informação auxiliar no gerenciamento da injeção e ignição,
e não apenas para acionamento da caixa. Quanto aos maus
resultados da prática, discordamos. Conhecemos diversos casos de
bons resultados com o procedimento.
5. Para contornar o problema basta substituir o chip que não
aceita reprogramação por um que a aceite, copiar a
programação do chip original para o reprogramável e então
alterá-la.
6. Isso pode mesmo acontecer, por isso nossa recomendação de
que se escolham oficinas bem-conceituadas para o serviço.
7. Concordamos em parte. Esses módulos nem sempre são bem
projetados e também são passíveis de falhas quando o serviço
não é de qualidade. O remapeamento e a montagem de caixas
adicionais são realmente quase equivalentes em termos de
desempenho e confiabilidade. O resultado depende mais da
qualidade do preparador e do equipamento empregado que do sistema
utilizado.
Tudo indica que com o tempo os módulos adicionais serão melhor
alternativa ao remapeamento. Basta que ocorra o desenvolvimento
de sistemas mais completos, com maior possibilidade de regulagem
e que usem um maior número de informações do motor no
gerenciamento. Eles deixariam os preparadores livres para
adicionar sensores, que tornariam o sistema até mais completo
que o original.
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