Consultório Técnico


por Fabrício Samahá


Duplo comando de válvulas e tuchos hidráulicos


Quais as vantagens do duplo comando de válvulas no cabeçote do motor 16V? O que significa o fato de o Palio ter a abertura das válvulas assistida hidraulicamente (abertura hidráulica das válvulas)? Há muitos benefícios?

Roberto Machado Filho
tobe@goldennet.com.br



Tenho um Lancer GLXi 16V SOHC. Queria saber se um motor com DOHC, de mesma cilindrada e demais características, renderia mais e quais são as diferenças entre os dois sistemas. É possível mudar esse comando?

Humberto Sammarco
fercam21@prestonet.com.br
São Paulo, SP


O eixo-comando de válvulas, ou simplesmente comando, é o componente encarregado de abrir e permitir o fechamento das válvulas de admissão (para entrada de mistura ar-combustível no motor) e de escapamento (saída dos gases queimados). O comando de válvulas era montado no bloco dos motores mais antigos -- ainda é assim, por exemplo, no Endura E de 1 e 1,3 litro dos Ford Ka, Fiesta e Courier --, bem como em muitos motores norte-americanos atuais -- como os V6 de Chevrolet Blazer/S10 e Ford Explorer/Ranger. A vantagem de passá-lo para o cabeçote foi a eliminação de componentes como hastes e balancins, que fazem a ligação do comando com as válvulas no cabeçote. Além de sujeitas a folgas e deformações, essas peças de movimento recíproco limitam as rotações (rpm) que o motor pode atingir, o que dificulta a obtenção de maior potência. Esses motores possuem arquitetura chamada SOHC (single overhead camshaft, comando único no cabeçote).

O duplo comando (componentes em amarelo) permite acionar em separado as válvulas de admissão e de escapamento


Outro passo no processo de busca de potência foi a adoção do duplo comando de válvulas no cabeçote, identificado comumente pela sigla DOHC -- double overhead camshaft. Nessa configuração um comando aciona as válvulas de admissão e outro as de escapamento, o que permitiu criar a câmara de combustão com formato hemisférico. A vantagem da câmara hemisférica é a possibilidade de montar a vela de ignição no centro da câmara, o que favorece a combustão e ajuda a evitar a detonação ou "batida de pino".

É importante observar que, embora seja comum empregá-los em conjunto, o duplo comando e o cabeçote multiválvula são soluções independentes. Há motores de duplo comando e duas válvulas por cilindro, como o do Tempra 8V e o do antigo Alfa Romeo 2300, bem como motores multiválvula de comando único, caso do Honda Accord.

Modificar o comando único para duplo é possível, Humberto, desde que haja uma versão do mesmo motor com esse sistema. É o caso do Mitsubishi Lancer de 1,6 litro, que possui uma opção de 175 cv a 7.500 rpm. Esse motor, porém, não é oferecido no Brasil e seria necessário importar os componentes em separado, o que torna a operação inviável. Para melhorar o desempenho do Lancer é mais interessante recorrer a um turbocompressor de baixa pressão.

Quanto ao mecanismo de "abertura das válvulas assistida hidraulicamente", Roberto, não passa de um velho recurso chamado tucho hidráulico. Este tipo de tucho consiste de um pequeno pistão dentro de um cilindro que é acionado pelo próprio óleo do motor, o que resulta em seu contato permanente com o ressalto do comando. As vantagens são a ausência de folga e o funcionamento bem mais silencioso do motor, além de ser dispensada a verificação periódica da folga das válvulas. Contudo, o tucho convencional -- chamado erroneamente de mecânico, pois é apenas sólido -- é mais adequado a altas rotações quando o comando fica no bloco, principal razão de seu emprego no famoso motor 250-S dos Opala, surgido em 1974. O tucho hidráulico era utilizado na versão mais "mansa" desse motor, o 250.



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