Retrô sem intenção? As formas
arredondadas do March lembram carros dos anos 90, enquanto as lanternas
traseiras soam ainda mais antigas
Traços fortes e arestas deixam
bastante atual o desenho do Picanto, em que chamam atenção os faróis
alongados e as lanternas "bumerangue" |
Assim como a Nissan tem
40 anos a mais de fabricação de automóveis no Japão que a Kia
na Coreia, o March acumula muito mais tempo de evolução que o Picanto.
Sua primeira geração apareceu em 1982 e, após assumir formatos os mais
diversos, ele chegou em 2010 ao quarto modelo, o primeiro disponível no
Brasil e que no mercado europeu recebe o nome Micra. Já o Picanto foi
lançado em 2004 (aqui, dois anos depois) e em março de 2011 chegou à
segunda geração, que estreia em nosso mercado com rapidez.
O desenho do Picanto é decididamente moderno, seja no todo ou em
detalhes como os fortes vincos nas laterais, a linha de cintura alta e
ascendente na direção da traseira, os faróis que chegam perto da base do
para-brisa e as lanternas em forma de bumerangue (leia
análise de estilo). O March, em comparação, parece pertencer a outra
época com suas linhas arredondadas, típicas da década de 1990, e as
lanternas ressaltadas inspiradas em tempos ainda mais distantes (leia
análise). A opinião das pessoas que consultamos indica que essa
modernidade do Kia o favorece, pois o Nissan obteve menor aceitação.
O Picanto não só tem melhor coeficiente
aerodinâmico (Cx), 0,31 ante 0,33, como suas dimensões resultam em
menor área frontal. Assim, o produto da multiplicação é 0,68, bem melhor
que o 0,77 do March.
Os
interiores simples mostram alguma
criatividade no desenho. O Picanto tem uma larga faixa em prata no
painel, mesmo tom aplicado à parte inferior do volante em um elemento
que lembra a grade dianteira, e três "cilindros" no quadro de
instrumentos que já atuam como característica da marca. No March, a
seção central do painel e as maçanetas trazem um pouco de inspiração a
um conjunto que, de resto, é bastante austero.
Os materiais plásticos são rígidos nos dois modelos, mas o Kia revela
mais cuidado nas texturas, encaixes e aparências — o Nissan, nesse quesito, em nada se diferencia do
conhecido baixo padrão vigente nos modelos nacionais na classe. O
revestimento de bancos, em tecido simples nos dois casos, também agrada
mais no coreano pelo padrão alegre.
Nenhum satisfaz plenamente em posição de dirigir. Embora tragam
regulagens de altura do banco e do volante, esse último vem enviesado e
torto para a esquerda no March, enquanto no Picanto
o banco, mesmo ajustado mais alto, mantém a parte
traseira baixa, ainda que o motorista se
acostume. A reclinação do encosto se faz por alavanca em pontos
definidos em ambos. Os instrumentos são equivalentes em número,
iluminação (em branco e vermelho) e leitura, mas só o Nissan vem com
computador de bordo (que indica consumo em km/l, como deve ser). Nenhum
traz termômetro do motor, mas sim a luz de superaquecimento, que supre
sua ausência.
Interessante no Kia é o Eco Mode, que aciona uma luz de sugestão de
troca de marcha das mais úteis. Primeiro porque se adapta ao
modo de dirigir: com acelerador leve, ela acende em rotações moderadas,
como 2.000 rpm (de
acordo com o método carga que o
Best Cars recomenda); ao pisar mais fundo, apaga-se e
pode não acender mais até o limite de rotações. A GM tem sistema
similar, mas o Picanto indica o número da marcha sugerida e pode
recomendar a troca de
até três marchas, como de segunda para quinta, assim como uma
redução se a rotação estiver baixa demais. Quem não quiser ser
incomodado pode desligar o Eco Mode.
Os dois modelos vêm com controle
elétrico dos quatro vidros (com função
um-toque apenas para o do motorista), de travas e dos retrovisores,
comando de trava a distância, abertura interna da tampa do tanque de
combustível, alerta geral para porta mal fechada, espelhos nos para-sóis
(o direito do Picanto deveria ter tampa), limpador de para-brisa com
intervalo ajustável e até um detalhe raro hoje, a descida completa dos
vidros das portas traseiras.
Vantagens do Picanto são volante revestido em couro com comandos do
sistema de áudio, temporizador para os
botões de vidros, recolhimento elétrico dos retrovisores (até exagerado
em um carro tão estreito), alerta para atar cinto de segurança, alças de
teto na traseira, para-sóis que correm em trilhos para melhor proteção
do sol lateral e bolsas para revistas nos encostos dianteiros. Já o
March tem como único detalhe superior os difusores de ar do painel, que
permitem melhor direcionamento.
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