A Ferrari e seu campo gravitacional

Enzo Ferrari e Ferruccio Lamborghini

Acompanhe nesta série algumas histórias, mais ou
menos conhecidas, sobre a marca e seu fundador Enzo

Texto: Paulus Hanser de Freitas - Fotos: divulgação

Muito já foi escrito sobre a Ferrari e seu criador, o lendário commendatore Enzo, mas existem várias histórias, relativamente pouco contadas, da influência que a marca teve sobre a indústria mundial. Nesta série de quatro capítulos, vamos falar um pouco das mais interessantes.

Para Enzo Ferrari e sua empresa, 1961 foi um bom ano. Mesmo tendo de enfrentar a morte de um piloto seu (o famoso conde alemão Wolfgang Von Trips, conhecido na época como "Taffy"), a bordo do 156 de Fórmula 1, a Ferrari ganhou o campeonato com o americano Phill Hill, primeiro piloto daquele país a realizar tal feito. Não era à toa: a Ferrari da época tinha uma equipe gerencial fenomenal e muito unida. Mas, conhecendo Enzo, toda essa união e talento não podiam durar muito. Na Ferrari, o brilho de ninguém poderia ofuscar o do capo di tutti capi.

O Ferrari 156 "nariz de tubarão", campeão de Fórmula 1 em 1961: foi um bom ano para Enzo e sua empresa

Giotto Bizzarrini, que viria mais tarde a criar o V12 Lamborghini, desenvolver os carros de Renzo Rivolta e posteriormente criar carros com seu próprio nome, era o Gerente da Engenharia Experimental da Ferrari. Lá, foi instrumental no desenvolvimento de clássicos como o 250 California e o 250 GT SWB. Mas sua real obra-prima foi o famoso 250 GTO.

Ele criou este carro baseado no SWB -- inicialmente sem Enzo saber, em seu departamento -- e o resultado foi fantástico. No final de 1961 seu desenvolvimento estava completo, e no ano seguinte seria iniciada sua produção -- se é que podemos chamar assim 36 carros em dois anos.

O engenheiro-chefe da marca na época era o famoso Carlo Chiti. Uma pessoa de caráter forte, Chiti certa vez disparou seu inseparável revólver Colt .38 durante uma reunião apenas para conseguir a atenção do grupo, que começava a se dispersar. Chiti foi a mente por trás dos carros de Fórmula 1 daquele ano e portanto também estava numa fase feliz, já que o 156 "nariz de tubarão" dominou o campeonato de 1961. Mas tarde fundaria a Autodelta, departamento de competições semi-oficial da Alfa Romeo, administrando-a até 1984, quando fundou a Motori Moderni.

Tudo corria relativamente bem no reino de Maranello quando, em novembro, Enzo, num de seus ataques de tirania, mostrou a porta da rua para seu diretor comercial, Girolamo Gardini. Diziam as más línguas que Lina Lardi, famosa amante de longa data, não andava tratando Enzo muito bem naquela época. 

O sensacional ATS 2500 GT: motor de até 250 cv, peso baixíssimo e suspensões de trabalho impecável

Gardini era muito querido na fábrica e sua demissão sumária causou comoção. Chiti e Bizzarrini, então, arquitetaram uma "revolta palaciana". Junto com o gerente de competições Romolo Tavoni, ex-secretário pessoal do commendattore, decidiram procurar Enzo para exigir a readmissão imediata de Gardini. Com todas as "cabeças pensantes" da empresa juntas e respaldados pela fase de imenso sucesso, acreditavam que Ferrari teria de ceder.

Na manhã do dia seguinte, o mercado de trabalho italiano ganhava quatro talentosos ex-gerentes da Ferrari. Este episódio ficou conhecido na fábrica como "a noite da faca longa". Chiti e Bizzarrini, então, financiados por um grupo de investidores liderados pelo Conde Volpi, amigo pessoal de Bizzarrini, fundaram uma empresa para ir à forra com Ferrari. Nascia, então, já em dezembro de 1961, a Automobili Turismo e Sport, ou ATS.

O plano inicial era de se produzir um carro de F1 e um modelo de rua, que poderia eventualmente, como os Ferrari, ser usado em competições. No Salão de Genebra de 1963 apareceu o primeiro carro. Com sujeitos como Chiti e Bizzarrini por trás, aconteceu o que era esperado: um veículo absolutamente genial. Chamava-se ATS 2500 GT.

Chiti e Bizzarrini queriam vingar-se de Enzo Ferrari, mas poucas unidades -- entre 10 a 16 -- foram produzidas do 2500 GT

O carro era equipado com motor central traseiro (primeira vez entre os italianos), um pequeno V8 de 2,5 litros e de 200 a 250 cv, dependendo da versão. Pesava apenas 890 kg, graças a um sofisticado chassi de pequenos tubos soldados, de aço cromo-molibidênio. Tinha geometria de suspensões perfeita, independente por duplo "A" nas quatro rodas.

Mas, logo após, brigas internas levaram o Conde Volpi a vender sua parte na empresa, fazendo seu amigo Bizzarrini partir, logo após, para trabalhar com Renzo Rivolta em seus novos Iso -- história que conheceremos mais tarde. Chiti saiu para criar sua Autodelta e o fantástico ATS 2500 GT se esvaiu no ar, junto com a empresa que a criou. Foram produzidos de 10 a 16 carros apenas (os historiadores discordam sobre o número exato) e o protótipo existe até hoje.
Continua

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