Nossos primeiros 50 anos

Do pioneiro Romi-Isetta ao novo Civic, um passeio por
este fascinante meio século do automóvel brasileiro

Texto: Bob Sharp - Fotos: divulgação

Apesar de a Ford ter aportado no Brasil em 1919 e a General Motors em 1925, o fato é que chegamos à metade do século 20 sem termos produção local de veículos, distanciados do mundo. Havia apenas montagem de unidades importadas desmontadas e algum trabalho de encarroçamento de caminhões e ônibus. Tudo o que por aqui rodava, em termos de automóveis, era produzido fora. Enquanto o país tivesse divisas para importar não havia preocupação maior, mas estas começaram a se esvair rapidamente a partir de 1948, a Segunda Guerra Mundial já terminada, tamanha a importação.

As metas desenvolvimentistas do presidente Getúlio Vargas, ainda no regime do Estado Novo iniciado em 1937 — das quais resultou a construção da Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda e da Fábrica Nacional de Motores, ambas no Estado do Rio de Janeiro —, acentuaram-se quando Vargas, deposto em 1945, voltou à presidência pelo voto direto em 1950.

O velho sonho de alguns brasileiros, dentre eles o Almirante Lúcio Meira, estava começando a se concretizar: o de o Brasil passar a fabricar seus próprios automóveis, caminhões e ônibus, associado ao desenvolvimento que uma indústria automobilística acarretaria.

A produção do Romi-Isetta: o primeiro nacional não
era considerado um automóvel pelas normas do Geia

Com o suicídio de Vargas, em 1954, seguiu-se um período de grande instabilidade política, que se prolongou mesmo que um novo presidente tivesse sido eleito no ano seguinte: Juscelino Kubitschek de Oliveira. Forças contrárias a seu nome e a sua posse surgiram, até com ameaça de emprego de força militar, mas felizmente o Brasil tinha novo presidente e a democracia parecia assegurada.

JK tomou posse em 31 de janeiro de 1956 e pouco depois, em 16 de maio, era criado pelo decreto nº 39.412 o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia), coordenado por ninguém menos que o idealista Almirante Lúcio Meira, ministro de Viação e Obras Públicas.

Na época, a frota brasileira mal passava de 800 mil veículos. Havia uma enorme demanda reprimida por automóveis e o país necessitava de caminhões. O Geia estabeleceu as diretrizes para a vinda da indústria automobilística por meio de incentivos vinculados a metas de nacionalização, um plano muito bem engendrado. Mesmo antes do plano, algumas empresas se anteciparam à implementação administrada pelo governo.

A Vemag Veículos e Máquinas Agrícolas S.A. começou a montar caminhões Scania-Vabis e automóveis Studebaker em 1946, enquanto a Brasmotor iniciou a montagem do Volkswagen em 1951, ambas em São Paulo. A Willys-Overland chegou em 1952; a Volkswagen e a Daimler-Benz abriam suas filiais um ano depois — as três em São Bernardo do Campo. E começaram a se preparar para produzir. A Romi começou a fabricar o Romi-Isetta em 5 de setembro de 1956, data que pode ser considerada o marco inicial de nossa indústria.

Juscelino inaugura a fábrica da Volkswagen, em
1959, a bordo do carro mais famoso de nossa história

Logo em seguida, no dia 26, a Mercedes-Benz passou a produzir o caminhão L-312, e a Vemag, a perua DKW Universal em 26 de novembro. Mas lamentavelmente o pequeno Romi-Isetta não se enquadrava nas especificações do Geia para merecer incentivos fiscais — mínimo de duas portas e quatro lugares. O resultado foi que seu preço ficou muito acima do esperado, levando a Romi a tirá-lo do mercado em pouco tempo.

A indústria automobilística brasileira passava de sonho a realidade. Em 1957 foram fabricadas 30 mil unidades; cinco anos depois já eram 191 mil por ano; dez, 225 mil; quinze, 622 mil; vinte, em 1977, 921 mil. No ano seguinte atingimos um milhão pela primeira vez: 1,064 milhão. Em 1982 houve queda para 859 mil, reflexo da segunda crise do petróleo, de 1979, e do grande aumento do preço dos combustíveis. Em 1987 voltamos ao patamar de dez anos antes, com 920 mil unidades; em 1992, 1,073 milhão; em 1997 rompemos nova barreira, com 2,069 milhões. Em 2005 foram 2,528 milhões de veículos.

Logo depois da perua Universal, a primeira pelos
padrões do governo, surgia o sedã DKW-Vemag

Depois de 50 anos, somos hoje o nono produtor mundial, atrás de Estados Unidos, Japão, Alemanha, China, França, Coréia do Sul, Espanha e Canadá, podendo passar para oitavo em 2006. O Brasil exporta pelo menos 30% de sua produção e a indústria emprega diretamente 107 mil pessoas. Nossa base de fornecedores, iniciada ainda durante a Segunda Guerra Mundial para manter os veículos funcionando durante um dos períodos mais difíceis da História, é ampla e poderosa.

Os sonhos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e de idealistas como o Almirante Lúcio Meira se transformaram mesmo em realidade. Só faltou mesmo a Gurgel vingar como fábrica 100% brasileira — outro sonho de muitos brasileiros. Continua

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Data de publicação: 9/9/06

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